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09/07/2005

Apoio social leva mulheres a aumentarem cuidados com a saúde

Catarina Chagas


Vários estudos epidemiológicos já investigaram a importância do ambiente psicossocial na saúde. A maioria deles observou uma relação inversa entre a intensidade dos laços sociais e a mortalidade por doenças cardiovasculares, acidentes e suicídio, bem como a adoção de comportamentos de risco. Uma pesquisa realizada por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) estabeleceu relações entre o apoio social - grau com que as relações interpessoais atendem a determinadas necessidades - e a freqüência com que as mulheres realizam o auto-exame das mamas, uma das estratégias indicadas para a detecção precoce do câncer.


"Diversas investigações sugeriram que a disponibilidade de apoio material e afetivo, assim como a informação e outras dimensões do apoio social, por exemplo, por parte de familiares e amigos, podem exercer um papel importante no estímulo à adoção e manutenção de hábitos de autocuidado", dizem os pesquisadores em artigo publicado nos Cadernos de Saúde Pública. A partir dessa premissa, a equipe do Estudo Pró-Saúde, que, desde 1998, pesquisa as associações entre determinantes sociais e o surgimento de doenças crônicas em funcionários públicos do Rio de Janeiro, decidiu partir para um campo pouco explorado nesse tipo de estudo: a relação entre o apoio social e as práticas de autocuidado com a saúde feminina.


"Consideramos que estudos nesta temática podem auxiliar no entendimento de fatores que influenciam comportamentos positivos em saúde e subsidiar ações que promovam vínculos sociais nos programas de atenção à saúde da mulher", apostam os pesquisadores. Por meio de entrevistas, foram analisados os hábitos de 2.240 funcionárias técnico-administrativas de uma universidade do Rio de Janeiro. Cerca de 44% das participantes informaram realizar o auto-exame das mamas todos os meses, um número alto, se comparado aos dados da população geral, e que pode ser explicado pelo alto grau de escolaridade das entrevistadas e pelo fato de 60% delas trabalharem em um hospital universitário.


As mulheres responderam, ainda, a questionários sobre as diferentes dimensões do apoio social, como os âmbitos material e emocional. Para as perguntas sobre com que freqüência consideravam disponível cada tipo de apoio, em caso de necessidade, as entrevistadas escolhiam respostas - nunca, raramente, às vezes, quase sempre e sempre - às quais eram atribuídos de um a cinco pontos, sendo "sempre" a resposta com pontuação mais alta. Os resultados mostraram relações diretas entre os escores de apoio social e a freqüência do auto-exame das mamas.


Participantes com escores mais altos nos diferentes aspectos do apoio social relataram freqüência mais elevada de auto-exame das mamas em busca de caroços e outras anormalidades. "Essa consistência e linearidade dos resultados corroboram, aparentemente pela primeira vez em população brasileira, a hipótese sobre a contribuição positiva do apoio social para a prática regular de autocuidados de saúde, observada em outras populações".


Artigo "Apoio social e auto-exame das mamas no estudo pró-saúde"

Cadernos de Saúde Pública, Abr. 2005, vol.21, n.2, p.379-386


Autores:

Dora Chor - Departamento de Epidemiologia da Ensp

Célia Regina de Andrade - Departamento de Epidemiologia da Ensp

Eduardo Faerstein - Instituto de Medicina social da Uerj

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