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05/09/2006

Cresce número de infectados pela leishmaniose no Grande Recife

Paula Lourenço


A leishmaniose, doença conhecida popularmente por ferida brava, está avançando no Grande Recife. No município de Moreno, distante 28 quilômetros da capital pernambucana, o número de pessoas infectadas pelo parasito causador da enfermidade, a Leishmania brasilienses, cresceu de 22%, em 2000, para quase 34%, este ano, conforme pesquisa do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz em Pernambuco. O estudo foi realizado cerca de 400 habitantes do Engenho Pinto, no último mês de abril, e os resultados estão sendo compilados para publicação de artigo científico no próximo semestre. A pesquisa é fruto de uma parceria entre a Fiocruz, o Núcleo de Ambiente e Vigilância em Saúde de Moreno e a Universidade de Pernambuco (UPE). Os principais dados do trabalho podem ser conferidos nesta entrevista concedida à Agência Fiocruz de Notícias (AFN) pela coordenadora do estudo, a pesquisadora Maria Edileuza Felinto de Brito, que integra o Serviço de Referência em Leishmaniose do CPqAM.


Agência Fiocruz de Notícias (AFN): O que despertou a equipe do CPqAM, que trabalha há anos com leishmaniose, a procurar estudar a doença em Moreno, no Grande Recife, e não na Zona da Mata do estado, onde há casos endêmicos?

Edileuza Brito: Fazemos atendimento ambulatorial em pacientes com leishmaniose, provenientes de Moreno, devido a uma parceria desenvolvida há seis anos com o biólogo Cláudio Jorge da Silva, responsável pelo Núcleo de Ambiente e Vigilância em Saúde do município. Em 2000, sob minha orientação, desenvolveu uma monografia para conclusão do curso de especialização em biologia, ele é morador da cidade, fizemos um inquérito epidemiológico no município, nos engenhos Carnijó e Jardim, áreas que estavam com vários casos de leishmaniose tegumentar. Na época, detectamos que 22% da população entrevistada (cerca de 250 pessoas) estava infectada. Neste ano, percebemos que um dos locais com o maior número de pacientes era o Engenho Pinto, que tem características semelhantes aos engenhos Carnijó e Jardim. Logo, resolvemos fazer um novo inquérito epidemiológico na área, para saber se a doença estava crescendo. No fim de abril, iniciamos o trabalho e nossos dados apontam uma estimativa de aproximadamente 34% (33,87%) de 369 indivíduos estavam infectados. Conseguimos, inclusive, isolar algumas amostras de pacientes atendidos no ambulatório do CPqAM, identificadas pr anticorpos monoclonais e isoenzimas como Leishmania braziliensis.


AFN: Teria uma explicação para o aumento do número de casos?

EB: O principal problema é o desmatamento. Mas nós, ao realizarmos o inquérito, ministramos palestras explicando a importância de tomar consciência do problema. Falamos sobre a doença, levamos exemplares do vetor (mosquito), esclarecendo que eles (os moradores) poderiam tentar tomar alguns cuidados, como, por exemplo, a partir das 18h, evitar ficarem expostos ao vetor (mosquito transmissor do L. brasiliensis), principalmente fora de casa. Também informamos que procurassem vestir camisas de mangas longas e calças e aconselhamos o uso do mosquiteiro, além da colocação de telas nas casas, já que o mosquito transmissor é muito pequeno. Infelizmente, uma recomendação que eles não podem seguir é usar repelente, porque não têm dinheiro para comprá-lo. No caso de apresentarem a lesão da doença, sugerimos a procura do posto de saúde mais próximo, para que o diagnóstico seja fornecido mais cedo, assim como o tratamento. Sabemos que as medidas podem ajudá-los, já que, infelizmente, eles moram muito próximo da mata.


AFN: Como foi o processo no inquérito epidemiológico para saber se as pessoas estavam ou não infectadas?

EB: Aplicamos, no grupo estudado, a intradermoreação (IDR) de Montenegro - antígeno que acusa a presença do parasito da doença, de forma subcutânea, e coletamos sangue nos indivíduos que apresentaram reações positivas, para a realização do teste de IFI. De 369, 125 foram positivos. Os indivíduos infectados que não desenvolveram a doença, foram orientados para no caso de surgimento da ferida, procurarem o posto de saúde para o diagnóstico seguido do tratamento. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética do CPqAM e as pessoas com a doença foram submetidas ao tratamento pela Prefeitura de Moreno, com o medicamento gratuito que é fornecido pelo Ministério da Saúde.


AFN: O trabalho terá algum desdobramento, depois de concluída essa etapa?

EB: O trabalho deverá ser concluído durante o mês de julho, inclusive o exame parasitológico realizado com toda a população, no mesmo período do teste de Montenegro, para identificar que tipo de verminose é predominante na comunidade. Fizemos isso para que elas possam se tratar das parasitoses, apontadas nos exames, seguido do tratamento. Queremos publicar artigo científico no segundo semestre e vamos continuar o atendimento no ambulatório do CPqAM. Já tratamos mais de 145 doentes de Moreno, na nossa instituição, em seis anos de parceria. Foram desenvolvidas duas monografias de conclusões de curso de especializações, vários resumos em congressos. Alguns pacientes estão colaborando, atualmente, com uma pesquisa do mestrado em saúde pública do CPqAM, desenvolvida por Luísa Campos Reis. Ela, que é orientanda da pesquisadora Valéria Pereira, do Departamento de Imunologia do Centro, tem como objetivo estudar a resposta celular dos indivíduos com leishmaniose tegumentar americana antes e após tratamento. O referido projeto tem o devido consentimento do Comitê de Ética da CPqAM.




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