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11/06/2019

Debate aborda impacto da violência racial na atenção à saúde

Everton Lima (IFF/Fiocruz)


O Instituto Nacional da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) promoveu o debate O impacto da violência racial e de gênero na atenção à saúde: desafios em tempos de ódio e violação de direitos, em comemoração ao Dia do(a) Assistente Social. O objetivo do encontro foi fortalecer as estratégias de luta pela eliminação do racismo e todas as formas de discriminação e preconceito. Dando início a mesa de abertura, o diretor do IFF/Fiocruz, Fábio Russomano, registrou o quanto o serviço social amplia o conceito de cuidado e o quanto isso deve ser valorizado no dia a dia de uma instituição de saúde. “Com as assistentes sociais eu aprendi a ter um outro olhar sobre as necessidades dos usuários, que transcende o cuidado médico e passa pelo asseguramento dos seus direitos, preocupação e construção de um ambiente onde a família possa a ter saúde no sentido amplo da palavra, e não apenas física”, frisou.

A coordenadora técnica do Serviço Social do IFF, Roseli Rocha, disse que as comemorações são marcadas por afeto e luta, sempre pela defesa intransigente dos direitos humanos. “Quando propomos celebrar este dia com uma atividade como esta, buscamos, mais do que comemorar, criar um espaço de construção de unidade para enfrentar os enormes desafios que se colocam no presente, de muitas angústias e avanço da violência. Esperamos que esse nosso encontro contribua para o fortalecimento da luta, nos motivando a enfrentar com coragem os desafios cotidianos e estruturais”, afirmou. A conselheira do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS-RJ), Malu Vale, falou que são necessários espaços de diálogos e entender o tempo do outro, mas que além de resistir, é preciso avançar. “Hoje, se a gente consegue debater racismo e a importância do tema no exercício profissional, é inegável reconhecer que uma das coisas que possibilitou isso foi a ampliação de negros com acesso ao ensino superior e na entrada nas entidades representativas da categoria de forma maciça e organizada”, disse.

A seguir, a coordenadora do Comitê Fiocruz Pró-Equidade de Gênero e Raça, Hilda Gomes, comentou sobre a importância do desenvolvimento de ações de sensibilização com a temática. “Na maioria das vezes, as pessoas não percebem o que está ao seu redor, então usam da linguagem, postura corporal, expressões faciais, atitudes e indicações para cargos de liderança, determinados comportamentos que nos deixam, enquanto pessoas negras, afastadas, adoecidas, revoltadas e entristecidas. Por isso, precisamos de todos nessa luta”, esclareceu.

O diretor do Centro de Estudos Olinto de Oliveira (CEOO) e gestor da Área de Atenção Clínica à Criança e ao Adolescente do IFF/Fiocruz, Antônio Meirelles, elogiou o trabalho das assistentes sociais. “No Instituto sempre demos valor à presença do serviço social e ao que aprendemos na garantia dos direitos aos pacientes que atendemos. A organização do evento montou a programação com o mesmo carinho de quem se preocupa com as pessoas como iguais”, contou. A assistente social e coordenadora de Atenção à Saúde do IFF, Dolores Vidal, completou dizendo que hoje o serviço social ocupa espaços importantes no Instituto, com projetos de pesquisa e publicações, grandes méritos da equipe. “É muito importante ter uma equipe tão presente e engajada do ponto de vista da defesa dos direitos sociais e da luta por uma sociedade mais justa e igualitária. São profissionais extremamente qualificadas que não fogem à luta, que resistem, enfrentam e reagem à toda forma de preconceito”, parabenizou.

Na sequência, a assistente social do IFF Antilia Martins conduziu uma mesa-redonda, cuja discussão teve articulação com a campanha Assistentes Sociais no Combate ao Racismo, do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e CRESS, com o objetivo de ser mais um espaço de reflexão crítica sobre o assunto. O professor da Universidade da Cidadania/Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), escritor e ex-parlamentar Chico Alencar iniciou a discussão falando sobre a mesa de abertura. “Gostaria de destacar que, para quem faz pesquisa na área, a mesa de abertura foi histórica da compreensão do que é o serviço social. Certamente há 20 anos uma mesa não diria o que vocês disseram aqui, vocês estão antenados com o tempo e com o avanço”, saudou.

Alencar lembrou que 15 de maio é a data em que se criou o decreto que regulamenta a profissão, então tem uma importância histórica. “O sentido maior do serviço social é servir a socialização, pois vocês escolheram um ofício rigorosamente vinculado ao outro. Então, obrigatoriamente precisam se relacionar com o outro, perceber a dor e questionar sempre: 'qual é a sua aflição?'”, explicou. Os conceitos de cidadania (toda pessoa que possui consciência dos seus direitos, sabe dos seus deveres), democracia (direta, participativa e representativa), equidade (princípio da igualdade), e justiça social (luta contra a injustiça) também foram abordados. “Fomos o último país a abolir formalmente a escravidão no planeta, isso marca profundamente qualquer sociedade”, disse Alencar. “Vamos fazer viver a nossa emoção, paixão, sentimentos e a nossa razoabilidade para construir uma sociedade melhor”, completou.

Dando seguimento, a pesquisadora e professora da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz) Roberta Gondim pontuou que ainda é necessário falar a respeito do racismo. “O que eu acho fundamental é fazer uma abordagem um pouco mais aprofundada do racismo estrutural para que possamos entender a naturalização e perpetuação de dispositivos de governo violentos que operam sobre os nossos corpos, a nossa história e o nosso futuro. Esse é o grande desafio: que futuro é esse que podemos prospectar a partir do reconhecimento da nossa ancestralidade, daqueles que nos suportam e daquilo que a gente pode evocar como possibilidade de construção, de produção para aqueles que nos sucederão?”, indagou. Nesse contexto, questionou: “Quem morre é a exceção ou a regra?”, respondendo em seguida: “É a regra e com requintes de crueldade. A relação de dominação e o princípio do 'não ser' é histórico, se faz e se refaz cotidianamente nas nossas vidas, isso se mantém, por isso precisamos falar sempre”, concluiu.

Para encerrar a mesa-redonda, Roseli Rocha apresentou pesquisas que revelam os índices de desigualdades étnico-raciais no Brasil e, após, convocou a todos(as) a refletirem acerca dessa realidade. “Qual tem sido a importância da questão étnico-racial nos debates travados nos espaços sócio-ocupacionais e de formação profissional? Em situações decorrentes do racismo institucional, qual tem sido a atuação dos(as) profissionais para o seu enfrentamento?”. Chamou a atenção ainda, para que todos(as) lutem contra o racismo, citando uma frase conhecida da ativista negra norte-americana Angela Davis “Numa sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Roseli também agradeceu a parceria do conjunto CFESS/CRESS e deixou uma mensagem aos presentes. “A nossa munição é a apropriação do conhecimento e o desejo por justiça social, essas são as armas mais potentes contra o preconceito, a discriminação e o racismo”, garantiu.

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