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17/08/2007

Doutoranda de MG é finalista em prêmio do Fórum Mundial de Pesquisa em Saúde

Aílson Santos


Os países desenvolvidos podem aprender com os países em desenvolvimento? É uma pergunta ou uma afirmação? Este foi o tema de um dos cinco ensaios críticos vencedores do concurso Jovens Vozes na Pesquisa para a Saúde, promovido pelo Global Forum for Health Research (Fórum Mundial de Pesquisa em Saúde), que reuniu quase 300 trabalhos científicos de 63 países. A indagação traduz o título original do artigo de Denise Nacif Pimenta, doutoranda do Instituto René Rachou (IRR), unidade da Fiocruz em Minas Gerais. Conforme o regulamento do concurso, cada concorrente, com idade inferior a 30 anos, deveria redigir um “ensaio crítico com abordagem não acadêmica”, derivado das próprias idéias e experiências de vida do autor, a fim de discutir os Desafios da pesquisa para a saúde nos países em desenvolvimento, temática do certame deste ano. Como prêmio, Denise terá seu artigo publicado na edição especial de outubro da revista The Lancet, uma das mais importantes publicações científicas do mundo, e participará do encontro anual do Fórum Mundial de Pesquisa em Saúde em Pequim, na China.


 Denise: o modelo simplista de transferência de informação vigente entre o Norte e Sul precisa ser questionado (Foto: Andréa Cândido)

Denise: o modelo simplista de transferência de informação vigente entre o Norte e Sul precisa ser questionado (Foto: Andréa Cândido)


Com o título original Can the "North" learn from developing countries: question or affirmation?, o ensaio de Denise faz uma reflexão, do ponto de vista sociológico, sobre os “efeitos perversos” do fluxo desigual da informação científica e aborda a relação entre países com níveis tão distintos de desenvolvimento. “Esta é uma grande questão que envolve troca de informação, colaboração científica internacional e relações implícitas de poder. Procuro saber como estes países se interagem na produção de conhecimento, sobretudo em questões relacionadas às doenças negligenciadas como malária, leishmanioses, esquistossomoses e doença de Chagas, entre outras. Será que basta somente o acesso a informação? Como transformar informação em conhecimento?”, indaga Denise.


Desde a iniciação científica no IRR, Denise vem trabalhando com aspectos de educação em saúde, tecnologias de informação e comunicação e doenças negligenciadas. Em 2004 a estudante recebeu uma bolsa de estudos do Special Programme for Research and Training in Tropical Diseases (TDR/OMS) para desenvolver mídias interativas em saúde internacional na Wellcome Trust, em Londres. Por quase dois anos, a estudante teve contato com diversos ambientes que a auxiliaram na reflexão sobre as relações entre os países ditos “desenvolvidos” e “subdesenvolvidos”, também conhecidos, genérica e respectivamente, como “Norte” e “Sul”.


Para ela, o modelo simplista de transferência de informação vigente entre o “Norte” e “Sul” precisa ser questionado. “Há uma necessidade urgente de se progredir das práticas tradicionais de transferência da informação (monólogo) para uma noção mais ampla de troca da informação (diálogo) entre os países. Os conceitos de “Norte” e “Sul” também devem ser questionados, desfazendo-se da noção de que, por exemplo, a Austrália faz parte do “Norte” e a Índia, do “Sul”. Essa herança colonial estimula a alienação e favorece o status quo, com uma mensagem subliminar de que o “Sul” está sempre atrasado e subjugado aos favores e doações do “todo poderoso Norte”. “Portanto, é preciso estarmos atentos à reprodução não-crítica dos valores e ideais hegemônicos de desenvolvimento”, afirma.


Denise relaciona o contexto das doenças reconhecidas como “negligenciadas” com o fluxo de informação. Ela lembra que as doenças infecto-parasitárias “continuam contribuindo para altas taxas de morbidade e mortalidade no mundo, sobretudo nos países mais empobrecidos”. Denise defende em seu ensaio que a disseminação da informação em saúde teria mais impacto se a informação deixasse de ser considerada como “mercadoria” e se baseasse num modelo bidirecional de comunicação. “Com isto, poderia haver um real e autêntico diálogo, por meio do qual todos os países poderiam e deveriam aprender uns com os outros e trocar, não somente informação, mas também conhecimento”, conclui a doutoranda.


Saiba mais


Veja aqui o site do Fórum Mundial de Pesquisa em Saúde.

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