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01/03/2007

Entomologia forense: ciência que ajuda a divulgar crimes cresce no Brasil

Renata Fontoura


Ferramenta utilizada na solução de crimes, a entomologia forense, ciência aplicada que permite identificar causas de morte de seres humanos por meio de insetos que colonizam o cadáver, desperta um interesse cada vez maior entre os pesquisadores brasileiros. Prova disso é a realização do 1º Simpósio Brasileiro de Entomologia Forense, marcado para 1º e 2 de março, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em entrevista, a pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, Margareth Queiroz, palestrante convidada do simpósio, discute as perspectivas da entomologia forense no Brasil, suas aplicações e o trabalho que vem sendo desenvolvido na área pelo Laboratório de Eco-epidemiologia em doença de Chagas do IOC.


 Margareth mostra a coleção de moscas reunida em um ano e meio de pesquisas

Margareth mostra a coleção de moscas reunida em um ano e meio de pesquisas


Como auxilia na solução de crimes com grande repercussão, a entomologia forense já se transformou em tema de séries da TV americana. Qual é o panorama da ciência no mundo e no Brasil?


Margareth: Em países como os Estados Unidos o perito criminal obrigatoriamente precisa estar acompanhado de pelo menos dois entomologistas forenses no momento da perícia. No Brasil, isso não acontece. Porém, os grupos que atuam na área estão crescendo e buscam mais incentivos nos órgãos de fomento. Os grupos mais avançados estão no Rio de Janeiro e em São Paulo, com trabalhos desenvolvidos por pesquisadores da Unicamp, Unesp, os pesquisadores do IOC e da perita criminal Janira Oliveira Costa, única que trabalha com entomologia forense na polícia carioca. Ela fará alguns trabalhos em colaboração com o nosso laboratório e é autora de um livro sobre o tema. 


Quais são as linhas de pesquisa do IOC na área?


Margareth: Nós estudamos a dinâmica populacional dos insetos, investigamos seu ciclo de vida e avaliamos quais espécies colonizam a carcaça em todas as suas fases: ovos, larva, pupa e fase adulta. Estamos montando uma coleção, já que fazemos a identificação e a taxonomia dos exemplares coletados em dois anos e meio de pesquisa. São quatro experimentos por ano, um em cada estação, que contam com três carcaças de porco, modelo experimental utilizado por ser onívoro como o homem e apresentar fases de decomposição semelhantes. Cada carcaça chega a reunir 60 mil exemplares, entre moscas, que se alimentam da matéria orgânica e representam 90% deste número, e besouros, que chegam posteriormente e fazem a limpeza da ossada. Estudos como estes são importantes porque, por exemplo, o que conhecemos sobre os besouros são pesquisas referentes a sua atividade como praga agrícola. Na área da entomologia forense é preciso um aprofundamento maior.


Como surgiu o interesse por esta área no Instituto?


Margareth: O nosso laboratório foi criado pelo pesquisador Hugo de Souza Lopes, que sempre trabalhou com dípteros moscóides e descreveu cerca de 50 gêneros e 500 espécies diferentes. Sempre soubemos que se alimentavam do homem, causando a míiase. Um dos pesquisadores que deram continuidade ao trabalho de Hugo, Ricardo Salviano, fez pesquisas relacionadas à entomologia forense e tornou-se um pioneiro. Estamos dando continuidade.


Como será a sua participação no 1º Simpósio Brasileiro de Entomologia Forense ?


Margareth: Falarei, como palestrante convidada, sobre as técnicas de criação e conservação de insetos em laboratório. Existe uma dificuldade muito grande porque, por se tratar de tecido necrosado, morto, é necessário material e laboratórios especiais, além de dietas específicas que envolvem misturas na água e na ração dos modelos experimentais para que, por exemplo, o odor na pesquisa seja amenizado. Outro aspecto que estamos desenvolvendo é uma chave de microscopia eletrônica para facilitar a identificação dos ovos que colonizam a carcaça, uma vez que esta técnica proporciona o correto diagnóstico das espécies.

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