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23/08/2012

Estudo aponta necessidade de diferenciar calendário para vacinação contra H1N1

Cecília Lopes


Com mais de 8 milhões de quilômetros quadrados de extensão, o Brasil possui grande diversidade cultural, climática, topográfica e de hábitos da população. Estudos sugerem que as variáveis, principalmente de temperatura e umidade, devem ser consideradas como parte dos determinantes para a propagação da Influenza A (H1N1), conhecida também como gripe suína. A tese Pandemia de Influenza no Brasil: epidemiologia, tratamento e prevenção da Influenza A (H1N1), defendida pelo coordenador de Programas e Projetos da Fiocruz Brasília, José Cerbino, mostra que, nas regiões sul e sudeste, a mortalidade foi mais alta nos meses de inverno em 2009 e 2010. “Os resultados recomendam que medidas preventivas adequadas às características locais e regionais poderiam ser mais efetivas no controle da influenza que as recomendações nacionais”, alerta o pesquisador. A tese foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). 


 Segundo pesquisador da Fiocruz Brasília, José Cerbino, a fim de respeitar as diversidades existentes em cada região do país, seria necessário definir calendários distintos de vacinação para localidades distintas.

Segundo pesquisador da Fiocruz Brasília, José Cerbino, a fim de respeitar as diversidades existentes em cada região do país, seria necessário definir calendários distintos de vacinação para localidades distintas.


O Ministério da Saúde realiza a campanha anual para a prevenção da gripe A em todo o país no mês de maio. Cerbino defende que, a fim de respeitar as diversidades existentes em cada região do país, seria necessário definir calendários distintos de vacinação para cada local. “Poderia ser mais eficaz se pensado de forma regional, devendo-se considerar ainda o estreito período entre a determinação dos vírus circulantes no mundo e a produção da vacina anual”, afirma. E acrescenta: “regiões tropicais e subtropicais apresentam transmissão de influenza durante todo o ano, mas também estão sujeitas a oscilações, influenciadas pelas estações chuvosas. Nessas regiões pode ocorrer mais de um período de atividade viral por ano”.


Cerbino utilizou dados do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) do Minstério da Saúde para analisar o número de óbitos em casos confirmados de Influenza nos anos de 2009 e 2010. Entre 19 de abril de 2009 e 2 de janeiro de 2010, foram notificados 23,3 casos por 100.000 habitantes. No mesmo período, ocorreram 2.051 óbitos por influenza, levando a uma taxa de mortalidade de 1,1 por 100 mil habitantes. Na região sul, a taxa foi de 3,0 óbitos por 100 mil habitantes, enquanto na região nordeste foi de 0,1 óbito por 100 mil habitantes. As regiões norte, nordeste e centro-oeste contribuíram com apenas 6% do total dos casos.


A tese ainda aponta que o medicamento oseltamivir, conhecido comercialmente como tamiflu, é eficaz na prevenção de mortes pela gripe A. O tamiflu, recomendado pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para casos de suspeita de H1N1, foi ministrado, em 2009, em 426 pacientes internados em hospitais do Rio de Janeiro e reduziu em 60% o risco de óbito. Foi observada diminuição em os doentes que tomaram o oseltamivir até quatro dias do início dos sintomas (Acompanhe no box abaixo os sintomas mais frequentes). “A tese mostra que o medicamento é eficaz mesmo após as 48 horas do aparecimento dos sintomas”, ressalta Cerbino. O tamiflu é vendido em farmácias e distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Não é preciso receita médica para comprar o medicamento. 


O terceiro resultado da pesquisa conclui que as vacinas com adjuvantes - fabricadas com o vírus e com compostos lipídicos que aumentam o efeito da resposta imunológica do indivíduo - utilizadas na primeira campanha contra a H1N1, apresentam risco até seis vezes maior de causar reações adversas como dor, vermelhidão e edema. “É importante levar em conta os fatores que influenciam a adesão à vacinação, e um dos determinantes são as reações adversas”, lembra o pesquisador. 


Para fabricar a vacina com adjuvante é utilizada uma menor quantidade de vírus, do que na vacina tradicional, composta apenas pelo vírus, e também utilizada na campanha. Durante a primeira campanha de imunização contra a H1N1, a vacina sem adjuvante foi indicada para profissionais da saúde, gestantes, população indígena, doentes crônicos, crianças entre seis meses e dois anos e idosos. “Havia uma limitação de doses no mundo e o Ministério teve que priorizar os grupos considerados de risco”, explica Cerbino. 


O pesquisador acompanhou a incidência de reações adversas em 511 profissionais de saúde do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz), no Rio de Janeiro. A vacina sem adjuvante foi aplicada em 171 profissionais. Os outros 340 receberam com o adjuvante. Os profissionais vacinados receberam ligações do serviço de farmacovigilância após 24 horas, sete dias e 21 dias de vacinados para relatarem os efeitos adversos.


O pesquisador lembra que existem diversos tipos de vírus que causam a síndrome gripal em circulação pelo mundo, e que, muitas vezes, o cidadão toma a dose da vacina contra gripe e dias depois apresenta sintomas respiratórios porque é nesse período do ano que a maioria dos outros vírus circula. “A vacina não causa gripe. É provável que seja outro vírus e as pessoas acabam associando a vacinação com o resfriado”, afirma. Cerbino explica que é impossível ocorrer uma gripe por conta da vacina, já que está inativada, contendo apenas partes do vírus.


Perfil – José Cerbino Neto é médico, mestre em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutor em Epidemiologia pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). É pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz desde 2006 e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília. É coordenador de Programas e Projetos (CPP) na Fiocruz Brasília.




Saiba mais (Fonte: Ministério da Saúde)


Qual a diferença entre a gripe comum e a Influenza A (H1N1)?


Elas são causadas por diferentes subtipos do vírus influenza. Os sintomas são muito parecidos: febre repentina, tosse, dor de cabeça, dores musculares, dores nas articulações e coriza. Por isso, a população deve procurar seu médico ou um posto de saúde quando aparecerem os sintomas. Os sintomas dos casos mais graves da H1N1 são: febre acima de 38ºC, tosse, dificuldade respiratória, acompanhada ou não de dor de garganta ou manifestações gastrointestinais.


Importante: O Ministério da Saúde não recomenda o uso do Oseltamivir (tamiflu) para toda a população, pois o uso inadequado do produto pode levar à resistência do vírus ao único tratamento disponível no mundo. O uso racional do Oseltamivir no tratamento da influenza A (H1N1) é uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar mais riscos à saúde pública.


Como ocorre a transmissão?


O vírus é transmitido de pessoa a pessoa, principalmente por meio da tosse ou do espirro e de contato com secreções respiratórias de pessoas infectadas. No entanto, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a principal forma de transmissão não é pelo ar, mas sim pelo contato com superfícies contaminadas.


Como devo me prevenir?



- Lavar bem e com frequência as mãos com água e sabão;

- Evitar tocar os olhos, boca e nariz após contato com superfícies;

- Não compartilhar objetos de uso pessoal;

- Cobrir a boca e o nariz com lenço descartável ao tossir ou espirrar.


Publicado em 23/8/2012.

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