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29/11/2005

Estudo avalia a adesão dos soropositivos à terapia anti-retroviral

Catarina Chagas


Mundialmente reconhecido por sua abrangência, o Programa Nacional de Aids distribui regularmente os medicamentos constitutivos da terapia anti-retroviral a cerca de 150 mil pessoas infectadas pelo HIV. A eficácia do programa, no entanto, não depende apenas da disponibilidade dos remédios, mas também da aderência dos pacientes ao tratamento correto. Em estudo realizado por pesquisadores do Centro de Informação Científica e Tecnológica da Fundação Oswaldo Cruz (Cict) da Fiocruz, médicos falaram sobre a dificuldade de assegurar que seus pacientes sigam suas prescrições.


Publicada na edição de setembro/outubro dos Cadernos de Saúde Pública, a pesquisa ouviu as impressões de 40 médicos, selecionados em hospitais públicos do Rio de Janeiro, com destaque para os hospitais universitários. "Muitos investigadores entrevistam os pacientes, mas conhecemos pouco a visão dos médicos sobre o assunto", justifica a psicóloga Mônica Malta, coordenadora do projeto. "Vendo os dois lados dessa questão, conseguiremos encontrar soluções mais adequadas para o problema da não adesão ao tratamento com anti-retrovirais". A pesquisadora explica, ainda, que a opção por uma pesquisa qualitativa, em vez de quantitativa, busca compreender com mais precisão como o fenômeno ocorre nas unidades estudadas.


Entre os motivos identificados pelos médicos para que os pacientes não sigam corretamente o tratamento está a falta de diálogo. Sem tempo para explicar como deveria ser o uso dos medicamentos e mesmo para entender o estilo de vida levado pelos usuários, os médicos prescrevem tratamentos difíceis de se seguir. "Não adianta dizer para uma pessoa que mora na rua que ela tem que guardar o remédio na geladeira e tomá-lo três vezes ao dia", adverte Malta. "O médico precisa compreender a realidade do paciente e encontrar um tratamento compatível com seu estilo de vida".


Alguns médicos relataram também ter receio de conversar com os usuários sobre os efeitos adversos que podem ser causados pela terapia anti-retroviral. "Às vezes eu acho que não devia assustar tanto assim os meus pacientes", disse um deles. A atitude, no entanto, pode gerar ainda mais casos de abandono de tratamento. Por outro lado, grande parte dos entrevistados relatou que pacientes que experimentaram complicações decorrentes da infecção pelo HIV e foram instruídos sobre a importância dos medicamentos tendem a seguir melhor o tratamento prescrito do que pacientes que nunca adoeceram.


Além de treinamento específico aos médicos que lidam com pessoas vivendo com HIV/Aids, Malta sugere ações conjuntas com organizações comunitárias e não-governamentais para conscientizar os pacientes da importância da terapia anti-retroviral. "Falta ao hospital falar uma linguagem mais acessível às populações que atende", recomenda. "Essas organizações podem servir de intermediário entre a academia, o hospital e a comunidade". Segundo a psicóloga, o Ministério da Saúde planeja realizar um estudo semelhante para avaliar, em hospitais de todo o Brasil, a adesão dos pacientes ao tratamento com anti-retrovirais.


 

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