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02/07/2020

Estudo da EPSJV/Fiocruz analisa acesso de estudantes à internet

Julia Neves (EPSJV/Fiocruz)


Desde a suspensão das atividades escolares presenciais, em 16 de março, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) passou a contar com uma importante aliada para manter o contato com os seus alunos: a internet. Diante desse cenário imposto pelo novo coronavírus, foi realizada, no mês de junho, a pesquisa Diagnóstico sobre o acesso à internet e equipamentos de informática utilizados pelo corpo discente da EPSJV durante a pandemia de Covid-19.

Ao todo, foram entrevistados 622 alunos de diversos cursos oferecidos pela EPSJV/Fiocruz. Os dados gerais indicam que o percentual de 94%, equivalente a 590 do total de 622 estudantes participantes da pesquisa, acessa a internet. O celular ou equipamentos similares são utilizados por pelo menos 39% deles. Enquanto no mestrado todos os discentes possuem computador, na EJA o percentual daqueles que utilizam unicamente o celular para acessar a internet equivale a 82%. Participaram da pesquisa, estudantes dos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio, das habilitações de Análises Clínicas, Biotecnologia e Gerência em Saúde em Saúde; da Educação de Jovens e Adultos (EJA); dos cursos técnicos de Agente Comunitário de Saúde (CTACS) e Vigilância em Saúde (CTVISAU); da Especialização Técnica em Mamografia; da Atualização Profissional em Gestão Participativa em Saúde; da Qualificação Profissional de Doulas e Gestão Hospitalar e do Mestrado em Educação Profissional em Saúde.

Segundo Fernanda Cosme, que faz parte da coordenação  do Projeto Escola Saudável, da EPSJV, e que foi responsável pelo estudo, a pesquisa é importante para o planejamento de estratégias de interação entre professores e estudantes durante o período de distanciamento social. “Imaginamos que possa ser útil também na retomada das atividades presenciais, mas isso só saberemos quando começarmos a planejar essa etapa. Por essa razão, o diagnóstico é importante por nos permitir identificar quais as estratégias adequadas às possibilidades de estudo dos alunos durante o período de distanciamento social. A partir disso, é que pensamos quais são os canais de contato mais includentes”, ressalta.

Para ela, o relatório permitiu identificar que as dificuldades em realizar as tarefas propostas pelos docentes durante o período de distanciamento social estão relacionadas a diversos motivos como a conexão com a internet e os equipamentos utilizados; as condições de vida e trabalho; e o desenvolvimento ou agravamento de problemas de saúde. “No que diz respeito aos equipamentos, os dados dos estudantes que utilizam unicamente o celular para acessar a internet indicam que há variações entre os cursos, pois na EJA esse percentual é de 82% dos estudantes, enquanto no Curso de Mamografia é de 5%”, aponta.

Além disso, Fernanda destaca que nem sempre o celular apresenta condições adequadas de funcionamento, além do fato de ter limitações para a execução de tarefas de estudo como o tamanho da fonte, a capacidade de armazenamento e dificuldade para a utilização de editores de texto ou planilhas, por exemplo. “Há ainda as situações de alunos que não possuem acesso contínuo à internet por não terem dinheiro para custeá-la sempre e só conseguem se conectar quando fazem recargas no celular”, afirma.

De acordo com Fernanda, no que se refere aos impactos da pandemia nas condições de vida, trabalho e saúde, embora esse não tenha sido objeto da investigação, os relatos dos estudantes indicam questões como a dificuldade em executar tarefas sem interação com colegas ou docentes, intensificação das rotinas de trabalho remunerado (no caso dos estudantes que também são trabalhadores), do trabalho doméstico e do cuidado, o luto e o desenvolvimento ou agravamento de doenças. “O recorte de gênero no deixa atentos para a possibilidade de maior sobrecarga das mulheres e meninas com o trabalho doméstico e do cuidado, o que reduz ainda mais o tempo disponível para os estudos. Entre os adolescentes, há mais relatos de dificuldades em adaptar-se à rotina, pois a necessidade de distanciamento social restringiu as possibilidades de socialização”, destaca ela, acrescentando que, para além disso, há ainda as dificuldades de redução ou perda de rendimentos por desemprego (dos pais ou dos prórprios alunos) ou adoecimento, por exemplo, e essas questões impactam na possibilidade de que os alunos consigam dedicar-se às atividades propostas pela Escola.

Especificamente em relação ao mestrado, o estudo mostra que todos os alunos declaram ter acesso à internet em casa, através de computador, embora o equipamento, em vários casos, seja compartilhado e, na maioria das vezes, os espaços de trabalho em casa também sejam compartilhados. Já no CTACS, a turma em andamento conta com 29 estudantes, dos quais 97% participaram da pesquisa. Desses, apenas um aluno relatou não ter acesso à internet, e 51% informaram que a qualidade da conexão é regular ou ruim.

No caso do Ensino Médio, ainda que não tenham sido elaboradas questões a respeito da qualidade ou continuidade do acesso à internet, os estudantes relataram dificuldades relacionadas tanto ao serviço de internet quanto ao equipamento de que dispõem, como o acesso à internet restrito ao período em que possuem créditos no celular; internet com velocidade que oscila ou funciona de forma irregular; equipamentos antigos que não funcionam bem ou possuem capacidade limitada de armazenagem de novos arquivos e dificuldades na navegação na internet.

“Estamos atentos a essas questões para construir estratégias que contribuam para a permanência estudantil na EPSJV, que tem implantado medidas como o aumento do valor da bolsa de demanda social, de R$150 para R$300, para alunos do Ensino Médio e Provoc; e a distribuição de kits de alimentação para os estudantes que tinham direito à alimentação na Escola”, finalizou Fernanda.

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