Início do conteúdo

20/10/2005

Estudo mostra a relação da herança de mutações genéticas com o câncer de mama

Roberta Monteiro


"Cerca de 10% de todos os casos de câncer de mama existentes está relacionado à herança de mutações genéticas". É o que afirma o médico Roberto Vieira, chefe do Serviço de Mastologia do Instituto Fernandes Figueira (IFF) da Fiocruz e um dos autores do artigo A contribuição do gene BRCA2 na predisposição hereditária ao câncer de mama. Descrição de uma nova mutação em família brasileira, publicado na revista Bulletin du Cancer, na França.


O artigo teve como base o estudo genético de 15 indivíduos pertencentes a uma mesma família, com histórico de casos não apenas em câncer de mama, mas também de próstata, intestino, estômago e melanoma. Os indivíduos estão sendo acompanhados desde 1995, no Laboratório de Biologia Molecular Aplicada do IFF, com o objetivo de observar eventuais alterações genéticas. "Em dez anos de pesquisa, nove pessoas apresentaram resultado positivo para a mutação no gene BRCA2, das quais cinco desenvolveram algum tipo de câncer", destaca o mastologista.


De acordo com Vieira, uma parcela significativa do câncer de mama está associada à herança de mutações nos genes de predisposição ao câncer de mama, BRCA1 e BRCA2. As mutações nos outros genes são mais raras ou envolvem riscos moderados ou baixos. As alterações nestes dois genes são influenciadas por muitos fatores, incluindo o tipo de gene, a posição da mutação, o histórico reprodutivo e fatores externos considerados cancerígenos. "As estimativas para o desenvolvimento de câncer de mama ao longo da vida, em mulheres portadoras de mutações nestes genes, sugerem um risco de 50 a 80% até os 70 anos", ressalta Vieira.


O câncer de mama já é considerado o tipo de câncer mais freqüente entre as mulheres em todo o mundo. No Brasil, a cada hora seis mulheres descobrem ser portadoras da doença. A recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) é que toda mulher deve fazer o exame da mamografia anualmente, após os 40 anos. No entanto, os indicadores mostram que 25% dos casos da doença são diagnosticados em mulheres antes de completar esta idade. "Em famílias de risco há uma grande incidência da doença em mulheres jovens. Nestes casos, o ideal é iniciar o exame pelo menos dez anos antes da idade em que foi detectado o último caso na família, pois é o tempo que o câncer de mama leva para se desenvolver", alerta Vieira.


O IFF é considerado pela SBM um dos principais centros de referência do Brasil no diagnóstico e tratamento do câncer de mama. A cada ano, são realizados cerca de cinco mil exames de mamografia e, atualmente, 200 mulheres estão em fase de tratamento no Instituto. O IFF se destaca ainda como centro de pesquisa e ensino sobre a doença, iniciando este ano a primeira residência em mastologia do estado do Rio de Janeiro. "Como ainda não existe um método de prevenção para o câncer de mama, é preciso que a população se conscientize em procurar assistência médica ao primeiro sinal da doença, pois o diagnóstico precoce pode representar 80% de chance de cura da doença", garante o mastologista.

Voltar ao topo Voltar