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08/09/2020

Evento de 66 anos da Ensp/Fiocruz debate Covid-19 nas Américas

Informe Ensp


Com 13.596.877 casos confirmados e 473.437 mortes, a pandemia de Covid-19, causada pelo vírus Sars-CoV-2, apresenta um mosaico de situações entre as sub-regiões, países e até mesmo dentro dos próprios países que integram a região das Américas. Além de a dinâmica de transmissão possuir uma característica que gera esse tipo de padrão, as desigualdades e a pobreza fazem com que a Covid-19 concentre seus efeitos mais adversos entre os mais pobres. A situação do novo coronavírus no continente foi detalhada pelo subdiretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e da Oficina Regional para as Américas da Organização Mundial da Saúde (OMS), Jarbas Barbosa, no terceiro dia de comemorações do aniversário de 66 anos da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). A mesa teve participação da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, e do diretor da Escola, Hermano Castro.

Mesa com Jarbas Barbosa, da Opas, teve participação da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, e do diretor da Ensp/Fiocruz, Hermano Castro (imagem: Informe Ensp)

 

Após mencionar que a Ensp/Fiocruz foi responsável pelo começo de sua formação como sanitarista, Jarbas fez uma rápida exposição sobre os países que mais se destacaram em relação aos casos de Covid-19 nas sub-regiões das Américas. Estados Unidos, Brasil, Peru, Colômbia e México lideram o número de casos no continente, mas o convidado chamou a atenção para a alta taxa de letalidade no México, que chega a 10,8%, e sugere testagem muito baixa e grande subnotificação das pessoas infectadas.

Apesar de relembrar que os países da América Latina adotaram medidas de proteção e distanciamento social desde março, Barbosa admite que as ações não foram implementadas de forma coerente. Até mesmo pela própria situação econômica de alguns, cuja informalidade chega a beirar 50% da economia. “Temos um grau elevado de pobreza, pessoas vivendo em situação de aglomeração em pequenas moradias, casas acumuladas em áreas restritas, ruas estreitas, dificuldade de acesso à água e saneamento. As próprias condições sociais, além da dificuldade de liderança nas respostas, trouxeram problemas importantes para alguns países”.

O ex-diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (2015-2018) reconheceu que a pandemia não afeta a todos da mesma maneira. Para isso, expôs dados do CDC-EUA sobre como o coronavírus acomete as populações vulneráveis nos EUA. 

Os casos de Covid-19 entre as populações indígenas foram 2,8 vezes maiores do que na população não indígena americana. Entre os negros, os casos foram 2,6 vezes maiores e, entre latinos, também foram mais que o dobro (2,8 vezes maior). Com relação aos óbitos por raça e etnia, similarmente, essas populações são as que mais morrem. São 1.4 vezes maior na população indígena, 1.1 vez maior nos latinos, e a população negra americana registra o dobro (2.1 vezes) de mortes por Covid-19.

“Não há evidencia biológica que isso se deva a alguma fragilidade no sistema imunológico de determinada raça. Há uma dupla relação, que é perversa contra esses grupos. São os que, historicamente, têm dificuldade de acesso ao sistema de saúde. Logo, o risco de uma causa grave de Covid-19 é maior. A população negra norte-americana, por exemplo, possui 60% a mais de hipertensão não-controlada do que os brancos. Há uma barreira de acesso ao sistema de saúde. Portanto, essa histórica dificuldade também se reflete quando a pessoa tem a Covid-19. Eles chegam mais tarde e em situação grave aos serviços de saúde”.

Com relação à vacina, Jarbas Barbosa destacou o esforço mundial na realização de pesquisas lembrando que 23 propostas participaram da Fase 1 de Testes; 14 na Fase 2; e 9 vacinas estão na Fase 3. Ao falar sobre as formas de acesso, citou a iniciativa global Covax, cujo objetivo é trabalhar com fabricantes de vacinas para fornecer aos países, em todo o mundo, o acesso equitativo a vacinas seguras e eficazes, assim que licenciadas e aprovadas.

Já no final de sua apresentação, o diretor da Opas admitiu que a pandemia superou as piores expectativas de todos e a classificou como a pior crise de saúde pública do século. Citou as ações da Opas de enfrentamento à pandemia e fez questão de ressaltar que todos estão aprendendo a partir das evidências científicas. Cobrou, ainda, mecanismos de solidariedade dos países mais ricos. “Para enfrentar uma pandemia ou crise de saúde pública, nenhum país estará mais protegido se todos não estiverem. Há um debate sobre se o mundo sairá melhor ou não da pandemia de Covid-19. Sairemos melhores se apoiarmos e fortalecermos os mecanismos de solidariedade internacional”.
 
Uma Escola para Ciência, Saúde e Cidadania

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, homenageou a garra e compromisso da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca com a ciência, saúde e cidadania, reconhecendo o engajamento da Ensp e demais unidades nos seis eixos de atuação da Fiocruz no que diz respeito ao enfrentamento à pandemia (apoio diagnóstico; atenção à saúde; pesquisa e produção de medicamentos; informação e comunicação; apoio às populações vulnerabilizadas; educação).

Nísia falou, também, sobre a essencialidade do SUS. “Na pandemia, há um fenômeno de disrupção do cotidiano. Estamos convivendo com o medo, as angústias e esperanças ao mesmo tempo. Essa esperança vem da ciência, do nosso SUS e de construções democráticas como as que deram luz ao nosso sistema de saúde”, destacou. 

O diretor da Ensp/Fiocruz, Hermano Castro, parabenizou toda a Fiocruz por ser uma instituição em defesa da vida. Sem ter o que celebrar, admitiu que 2020 será o ano lembrado pela intensificação das iniquidades em um cenário de pandemia, e a ausência de uma política adequada de distanciamento social contribuiu para isso. O diretor saudou os profissionais da instituição que estão atuando na linha de frente da pandemia, além de destacar o desempenho de todos os trabalhadores que mantêm acesa a chama da Fiocruz por intermédio do desenvolvimento de pesquisas, produção de aulas, comunicação à população e realizações de tarefas administrativas. “Devemos continuar defendendo a saúde pública, o Sistema Único de Saúde fazendo com que ele avance, e, assim, tenhamos algum legado dessa pandemia”.

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