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17/09/2020

Fiocruz lamenta a morte do pesquisador Elisaldo Carlini

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)


A Presidência da Fiocruz lamenta profundamente o falecimento, na quarta-feira (16/9), do médico, professor e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Elisaldo Carlini, aos 91 anos. Formado em Medicina pela Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp), pela qual era professor-emérito, Carlini deu aulas no Departamento de Farmacologia e fundou o Departamento de Psicobiologia e o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid). Contribuiu para a formação do Instituto de Ciências Ambientais Químicas e Farmacêuticas, do Campus Diadema da Unifesp. Foi orientador de diversos programas de pós-graduação e formou gerações de pesquisadores e cientistas. Ele continuava trabalhando, como orientador de mestrado e doutorado do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp.

Considerado o maior nome da ciência brasileira quando o assunto é cannabis medicinal, Carlini deixou um legado de mais de 50 anos dedicados ao estudo de drogas psicotrópicas no Brasil. Seus trabalhos sobre a cannabis puseram o canabidiol no foco da ciência brasileira e mundial para o tratamento de convulsões, epilepsia, esclerose múltipla e dor crônica.

O pesquisador foi citado 12 mil vezes em pesquisas científicas nacionais e internacionais. Ele foi presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), coordenador da Câmara de Assessoramento Técnico-Científico da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), órgão do Ministério da Justiça, e membro do Conselho Econômico Social da ONU. Doutor honoris causa de várias universidades, no Brasil e no exterior, teve mandatos como membro do Expert Advisory Panel on Drug Dependence and Alcohol Problems, da OMS. Carlini também foi pesquisador emérito do CNPq. Participou do Comitê Nacional da Política de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, como formulador da política, junto com representantes da Fiocruz, entre 2008 e 2013.

Seus trabalhos e pesquisas renderam-lhe condecorações e títulos, entre eles a medalha de Grande Oficial da Ordem do Rio Branco (1996) e a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (2000), ambas concedidas pela Presidência da República. Também recebeu os títulos de conselheiro emérito do Conselho Federal de Entorpecentes (1987), membro titular do International Narcotics Control Board, eleito pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (2001), e doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2002).

Mesmo reconhecendo que a cannabis pode causar efeitos adversos, Carlini acreditava que estes representam experiências menores perto das qualidades médicas que a primeira oferece. Ele lembrava, ainda, que seu uso era uma terapêutica corrente no mundo inteiro para vários males até o início do século 20 e que somente depois dos anos 1930 o composto psicoativo passou a ser considerado uma droga maldita por questões comerciais.

“O grande segredo do médico é fazer a avaliação risco/benefício. Ele tem de saber que toda droga, sem exceção, traz algum risco ao paciente. E tem de avaliar se o benefício que traz é suficientemente forte para valer o risco”, disse em entrevista em 2014. Ele dizia que “há mais crença e ideologia na proibição total do uso medicinal da cannabis” e explicava que na planta herbácea existem mais de 60 substâncias que podem ajudar a medicina.

Por toda sua contribuição, está circulando o projeto de lei 399/2019, que permite pesquisa, produção nacional e experimentação de medicamentos com a cannabis medicinal. Um abaixo-assinado pede que a legislação tenha o nome de Lei Elisaldo Carlini, prestando homenagem ao pioneiro nos estudos sobre a cannabis para o controle de epilepsia no Brasil.

Carlini deixou esposa, Solange Nappo, também docente da Unifesp, filhas e netos. A causa da morte não foi divulgada.

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