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26/11/2020

Fiocruz participa de ação do MS para prevenção da febre amarela 

Fernanda Marques (Fiocruz Brasilia)


O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), iniciou na segunda-feira (23/11) uma ação estratégica com o objetivo de prevenir a febre amarela no Distrito Federal, em Goiás e outros estados. Com a parceria da Fiocruz, de secretarias estaduais de Saúde e outras entidades, a ação consiste em formar multiplicadores para o uso da tecnologia Siss-Geo, a modelagem de dados e a elaboração de mapas de risco e áreas prioritárias para a vigilância. Com oficinas presenciais e online, bem como expedições de campo, a ação reúne gestores e técnicos da vigilância em saúde, epidemiologia, imunização, vigilância ambiental e de zoonoses, entre outros.

Com mais pessoas fazendo registros, a capacidade de compreender o que está acontecendo e agir será cada vez maior (Foto: Fiocruz Brasília)

 

A pesquisadora Marcia Chame, coordenadora do Centro de Informação em Saúde Silvestre e da Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fiocruz, foi responsável pela primeira parte do treinamento, em que os participantes foram apresentados ao Siss-Geo e suas funcionalidades. O Siss-Geo está disponível em versão web e em aplicativo, que funciona mesmo em smartphones simples e antigos, inclusive quando estão offline. Qualquer cidadão pode fazer seu cadastro e utilizar o Siss-Geo para registrar de forma rápida, por meio de fotos e outros dados, animais vivos, mortos ou doentes. Com base na análise das informações desse registro, como condições do animal, características do ambiente, localização etc, o sistema gera alertas de anormalidades que, em tempo real, aciona técnicos de vigilância para coleta de amostras e investigação do caso.

No caso da febre amarela, esse monitoramento animal é importante porque a doença, antes de atingir os humanos, afeta os macacos, que, dessa forma, atuam como sentinelas da circulação viral. Destaca-se que os macacos não transmitem a febre amarela para os humanos. A doença é causada pelo vírus transmitido pela picada de determinadas espécies de mosquitos silvestres tanto para humanos como para os macacos, que também adoecem e morrem. A morte de macacos é assim o alerta da presença da febre amarela numa região. Por uma falta de compreensão desse importante papel dos macacos como sentinelas, algumas pessoas matam esses animais, achando que, assim, estariam se protegendo, quando, na verdade, estão cometendo um crime ambiental e, ainda, prejudicando as estratégias de prevenção da febre amarela. Embora o vírus da febre amarela também possa ser transmitido pelo mosquito Aedes aegypti (o mesmo que transmite a dengue), não há evidências de transmissão urbana da febre amarela no Brasil. 

"O Siss-Geo possibilita registros padronizados, que podem gerar modelos cruzando dados de animais, humanos, atividades econômicas, clima, infraestrutura etc. Os dados saem das planilhas e vão para os mapas, com a visualização das áreas de maior risco", explicou Marcia. Em parceria com o Ministério da Saúde, as secretarias de Saúde dos estados do Sul e a Superintendência de Endemias do Estado de São Paulo, a partir dos registros de macacos mortos e doentes, foi possível construir modelos que identificaram as áreas por onde a febre amarela se disseminaria e com qual velocidade. Dessa forma, os gestores conseguiram planejar com antecedência as medidas necessárias, como a vacinação da população suscetível à doença. "Com mais pessoas fazendo registros, a capacidade de compreender o que está acontecendo e agir será cada vez maior", sublinhou Marcia.

A proposta da SVS é harmonizar as rotinas de vigilância já estabelecidas nos estados com a incorporação de novas tecnologias. "É preciso prestar atenção no que acontece com os macacos, porque, quando se detecta alguma anormalidade com eles, é o momento de agir, prevenindo a doença em humanos. O vírus pode chegar a um território e demorar a ser percebido pelos serviços de saúde", afirmou Alessandro Romano, da Coordenação Geral de Vigilância das Arboviroses da SVS. "É possível reduzir esse tempo com o uso de modelagem de dados, para compreender os circuitos de transmissão e subsidiar a tomada de decisões estratégicas", completou.

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