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30/07/2009

Fungo causador de doença pulmonar é alvo de estudo no Piauí

Isis Breves


A ocorrência de coccidioidomicose, doença que causa lesões pulmonares, em população do interior do Nordeste, sobretudo do Piauí, onde são registrados 80% dos casos, virou alvo de estudo do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz). Pesquisadores do Laboratório de Micologia estão desenvolvendo o projeto Isolamento e identificação de Coccidioides posadasii / C. immitis de amostras de solo relacionadas a surtos de coccidioidomicose, contemplado recentemente pelo Programa Bolsa Nota 10 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Submetido por Regina Célia de Lima Macêdo, aluna do Programa Stricto Sensu em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas do Ipec, o projeto tem como objetivo realizar uma investigação epidemiológica de amostras de solo da região. Nas amostras, a identificação dos fungos causadores da doença é feita a partir de técnica inédita de biologia molecular.


 Regina Célia de Lima Macêdo: ao final do doutorado, ela poderá validar um novo método para investigação epidemiológica com foco na prevenção de surtos de micoses sistêmicas (Fotos: Laboratório de Micologia/Ipec/Fiocruz) 

Regina Célia de Lima Macêdo: ao final do doutorado, ela poderá validar um novo método para investigação epidemiológica com foco na prevenção de surtos de micoses sistêmicas (Fotos: Laboratório de Micologia/Ipec/Fiocruz) 





"A pesquisa teve início na década de 1990, quando a coccidioimicose, até então uma doença endêmica da região desértica do sudoeste dos Estados Unidos, registrou casos no Nordeste brasileiro, onde indivíduos apresentavam sintomas como febre, tosse seca e lesões pulmonares. Na época, suspeitava-se de tuberculose, descartada em exames diagnósticos. Após investigações, confirmou-se a presença do fungo Coccidioises paradassi", conta o pesquisador Bodo Wanke, coordenador do projeto e orientador de doutorado de Regina Célia. "Começamos, então, a investigar de que maneira esses indivíduos foram contaminados pelo fungo, cuja principal via de transmissão é a inalação de esporos provenientes do solo contaminado pelo agente”, explica ele.



Segundo Regina, o que se descobriu, por meio de relatos dos indivíduos infectados, é que havia algo em comum entre eles: a maioria tinha contato com solo de toca de tatu, por ocasião da caçada a este animal. O tatu, geralmente, se refugia em sua toca e a caçada requer uso de pá ou enxada para escavar e revolver a terra. Esta prática é muito comum na região, para o consumo da carne do animal. A partir dessas informações, os pesquisadores foram a campo, para coleta de amostras de solo, em cooperação com a Universidade Federal do Piauí e o hospital do Instituto de Doenças Tropicais Nathan Portela. As análises mostram que a poeira levantada naquelas escavações, para a caçada dos tatus, é responsável pela aspiração dos esporos do fungo pelos indivíduos. 


 O pesquisador Bodo Wanke, coordenador do projeto, em estudo de campo no Piauí 

O pesquisador Bodo Wanke, coordenador do projeto, em estudo de campo no Piauí 





A metodologia usada neste estudo é o diferencial. “Quando coletamos amostras de solo para a identificação molecular do agente causador da doença, nos deparamos com um desafio: naquelas amostras, havia o DNA de uma floresta inteira, isto é, elas continham uma quantidade e uma diversidade enormes de microorganismos", conta Regina. "Para a identificação, é necessário um marcador específico para definir o fungo. Conseguimos, no Laboratório de Micologia, um marcado molecular de qualidade, capaz de ser o identificador do fungo patogênico em questão", explica a pesquisadora, destacando que a manipulação deste microrganismo exige precauções de biossegurança de risco 3.



Após a análise de DNA, feita pela técnica de PCR, os pesquisadores confirmaram que 100% das amostras eram positivas para a presença do fungo caudador da coccidioimicose. Para efeito de comparação, quando a análise foi feita pela metodologia clássica (cultura com inoculação em camundongos), o fungo foi detectado em apenas 30% das amostras. “Com a metodologia clássica, o resultado não foi tão preciso. Já com um PCR simples, tivemos uma maior sensibilidade no método de biologia molecular, além da vantagem de dispensar o uso de animais de laboratório”, diz Regina Célia. Ao final do doutorado, a pesquisadora terá resultados mais completos quanto à abordagem molecular, comprovados em um número maior de amostras para identificação fúngica, o que poderá validar um novo método para investigação epidemiológica com foco na prevenção de surtos de micoses sistêmicas. O Programa Bolsa Nota 10 da Faperj tem como objetivo incentivar os melhores alunos de programas de pós-graduação de excelência.


Publicado em 30/07/2009.

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