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16/12/2005

Fungos amazônicos podem ajudar a remediar solos poluídos

Catarina Chagas


Pesquisadores do Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane (CPqLMD), unidade da Fiocruz em Manaus, investigam a grande diversidade genética dos microrganismos da Amazônia e seu potencial biotecnológico quanto à produção de enzimas extracelulares e à capacidade de degradar hidrocarbonetos. O estudo visa à possível aplicação de fungos do gênero Aspergillus em processos de tratamento de solos contaminados por resíduos tóxicos. Conhecido como biorremediação, o método procura otimizar processos de degradação com a ajuda dos microrganismos e não requer produtos químicos, o que reduz os custos e riscos ambientais da intervenção.


O trabalho consistiu na classificação de 57 amostras isoladas do solo da região, que, posteriormente, foram submetidas a testes enzimáticos qualitativos. A equipe identificou seis espécies diferentes de Aspergillus, um grupo de fungos chamado "imperfeito" por, ao contrário dos outros, realizar exclusivamente a reprodução assexuada. Entre elas, a mais abundante é o Aspergillus niger, patologicamente a mais nociva ao homem e que, portanto, exige, antes de sua utilização, rigoroso teste de toxicidade.

 


"Das amostras estudadas, todas pertencentes à Coleção Biológica do CPqLMD, cerca de 93% demonstraram produzir enzimas de interesse biotecnológico, como as celulases e as fenoloxidases", conta a bióloga Ormezinda Celeste Cristo Fernandes, coordenadora do projeto. Enquanto as celulases estão envolvidas na decomposição da celulose, combinação orgânica de maior ocorrência no planeta e que se infiltra no solo por meio de folhas e plantas, as fenoloxidases estão participam da degradação da lignina, principal dejeto de águas residuais de indústrias de papel. "Isso mostra como essas espécies podem ser importantes para a biorremediação", completa a pesquisadora.


Os Aspergillus foram, ainda, testados durante sete dias quanto à capacidade de degradar hidrocarbonetos de cadeia longa, como petróleo e seus derivados. Quase 90% das amostras apresentou crescimento microbiano e o desaparecimento gradativo do substrato, o que confirma sua capacidade oxidativa. Embora a degradação dos hidrocarbonetos seja, geralmente, realizada por bactérias, os fungos mostraram-se mais eficientes para a agir em condições adversas, como valores extremos de pH, limitação de nutrientes e baixo teor de umidade do solo.


"Uma vez que a Amazônia está em desenvolvimento e, cada vez mais, acolhendo novas e diversas indústrias, pesquisas desta natureza são importantes, pois permitem avaliar o potencial da microbiota regional em áreas onde serão implantados novos projetos ligados ao petróleo", justifica Fernandes. O projeto, iniciado em 2003, foi submetido à avaliação da Petrobras, que trabalha na implantação de um oleoduto e um gasoduto no local, para financiamento.




 

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