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01/04/2021

História da saúde e da doença tem novos protagonistas

Casa de Oswaldo Cruz


A compreensão histórica da saúde e da doença tem dado voz à subjetividade do homem enfermo. Até então relegado ao ostracismo, tornou-se um dos protagonistas no campo de estudos que vem conquistando cada vez mais espaço, promovendo pesquisas que analisam questões relativas à medicina e às mudanças sociais e processos de construção de identidades, entre outros conhecimentos. A nova edição da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (volume 28, número 1, janeiro/março de 2021), editada pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e já disponível na íntegra no portal SciELO, lança luz sobre personagens sombreados nas franjas da História. Entre eles, os acometidos com o pênfigo foliáceo no Brasil, ao longo dos séculos 19 e 20. Doença autoimune de pele que despertava medo na população, imputava aos enfermos uma vida segregada e de muito sofrimento. Vetados pelos responsáveis pelos transportes, eram obrigados a se deslocar a pé em busca de alívio para suas chagas. Acesse integralmente a revista aqui.

“Nessas condições, os moribundos caminhavam por centenas de quilômetros, como aqueles que se deslocavam a partir de Miracema e Pedro Afonso, hoje pertencentes ao Tocantins. Os que vinham da primeira cidade caminhavam 890km até Goiânia, os que vinham da segunda, 1.008km. À beira da BR-153, sob sol, chuva e poeira, arrastavam-se “invisíveis” por meses a fio à beira da estrada”, conta o artigo de Sonia Maria de Magalhães e Dorian Erich Castro, da Universidade Federal de Goiás.

O artigo Dos aldeamentos ao horto botânico: a apropriação de plantas de uso indígena na capitania de Guayases, 1772-1806 também amplia a historiografia, ao trazer novas informações sobre empenho da América portuguesa em inventariar e comercializar produções naturais. O estudo revela que os indígenas, “com suas culturas, experiências, saberes e práticas constituíram um conhecimento milenar e ancestral sobre o mundo natural”, que, “devidamente reconhecido”, os torna protagonistas “na constituição do conhecimento científico ocidental”, frisam os autores na análise.

A revista traz também uma investigação de pesquisadores da Fiocruz sobre as ações de divulgação e popularização da ciência na instituição. Campo estratégico para a compreensão pública da ciência e o engajamento da população, ele se torna ainda mais importante nos tempos atuais, de ressurgimento de ações anticientíficas. É um movimento fundamental para fazer frente à propagação de notícias falsas, que representam uma ameaça a saúde dos brasileiros, ainda mais no contexto da pandemia de Covid-19.

Por mais transparência e diálogo na ciência

Na abertura da revista, o editor científico da HCS-Manguinhos, Marcos Cueto, atualiza as instruções aos autores, na direção dos princípios de transparência e diálogo do movimento ciência aberta. “Acreditamos que nesse processo a revista será um instrumento de discussão e convencimento das vantagens da ciência aberta, e que esta pode melhorar nossas pesquisas”, avalia o pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz, que faz também uma análise sobre futuro do artigo científico em ciências humanas na Carta do Editor.

A área de Análise da História, Ciencias, Saúde – Manguinhos reúne outros sete artigos, que abordam temas como medicina baseada em evidências; reforma sanitária brasileira e a saúde coletiva; relações entre arte e ciências e saúde no álbum Quanta, de Gilberto Gil; somaterapia; diplomacia científico-tecnológica; dança e movimento como processo terapêutico; e ensino da sociologia no século 19 no Amazonas. A publicação traz ainda uma revisão historiográfica sobre a constituição da transição nutricional latino-americana em uma perspectiva histórica, de 1850 até o presente; artigo sobre o desafio das enfermidades infecciosas emergentes e reemergentes e o novo paradigma de saúde global; e notas de pesquisa sobre gênero e a história do Instituto de Medicina Tropical em Portugal.

Além disso, este número de História, Ciências, Saúde – Manguinhos apresenta uma nova seção: Testemunhos Covid-19. Trata-se de uma versão mais elaborada dos textos divulgados nas redes sociais da revista sobre a atual pandemia, escritos predominantemente por historiadores da saúde, e traz ainda resenha de quatro publicações.

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