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30/12/2020

MonitoraCovid-19 finaliza 2020 com 42 mil usuários assíduos

Icict/Fiocruz


No início, era uma planilha de Excel com poucos dados. Em menos de três meses, o portal MonitoraCovid-19 tornou-se um sistema que se alimenta de mais de dez fontes de dados do Brasil e do Exterior e é um dos sites de informações sobre a epidemia mais utilizados no país, totalizando acima de 212 mil visitantes desde março – com 42 mil assíduos. Por trás de seu desenvolvimento, está uma pequena equipe de quatro especialistas em saúde pública do Núcleo de Geoprocessamento do Instituto de Comunicação e Informação Científica em Saúde (Icict/Fiocruz) – Diego Xavier, Mônica Magalhães, Raphael Saldanha e Christovam Barcellos.

Um fato significativo corrobora o resultado desse trabalho. Em 13 de maio, o MonitoraCovid-19 foi indicado pela Embaixada dos Estados Unidos, em mensagem a cidadãos norte-americanos no Brasil, como uma fonte confiável e referência de informações sobre a Covid-19 no país. Além disso, frequentemente seus dados são utilizados pela imprensa, que também noticiou várias das notas técnicas preparadas pela equipe.

“Quando, no final de janeiro e início de fevereiro, a gente começou a escutar sobre essa nova doença na China, que era transmitida de indivíduo para indivíduo, o mundo já esperava uma nova epidemia de influenza, que é mais ou menos aguardada a cada 10 anos. Aí acendeu um alerta para nós. Se aquilo fosse um vírus tipo H1N1, iria chegar aqui”, relembra Mônica Magalhães, engenheira cartográfica de formação, com mestrado em Engenharia de Sistemas e doutorado em Saúde Coletiva, única mulher do pequeno grupo de desenvolvedores do MonitoraCovid-19.


Em sentido horário: Raphael Saldanha, Mônica Magalhães, Diego Xavier e Christovam Barcellos, pesquisadores do MonitoraCovid-19 (imagem: VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz)
 
 

O alerta significava que a equipe precisava começar a levantar dados e analisar o desenvolvimento daquela nova doença, sempre com o objetivo de achar informações e tendências que pudessem ajudar o Brasil a se preparar, para quando a epidemia chegasse por estas bandas. “No início, tínhamos poucos dados e usávamos apenas o Excel. Rapidamente vimos que precisaríamos construir análises, agregar gráficos e fazer cruzamento de dados. Começamos então a usar o pacote de sistemas R, software livre que tem uma linguagem de programação voltada para a Estatística. O R tem uma função de construção de páginas para a internet, chamada Shimy, que aproveitamos para construir o MonitoraCovid-19”, conta Raphael Saldanha, geógrafo com especialização em Métodos Estatísticos Computacionais, mestre em Saúde Coletiva e doutorando em Informação para Saúde Pública.

Sediado no endereço bigdata-covid19.icict.fiocruz.br, o MonitoraCovid-19 traz diariamente os dados de novos casos e óbitos de todos os estados e de milhares de municípios brasileiros, além de vários países. Os gráficos podem ser visualizados com opção de média móvel de 7 dias e de escala logarítmica. O sistema traz os dados acumulados desde o início da epidemia e a linha do tempo nos estados, mostrando os períodos de pico de Covid-19.  O MonitoraCovid-19 é atualizado diariamente, inclusive nos fins de semana e feriados, entre 20h e 21h. Agora em dezembro, conta Raphael, a atualização passou a ser feita de maneira automática.

Desde 23 de março, quando entrou no ar, o MonitoraCovid-19 já teve suas páginas visitadas mais de 665 mil vezes. De seu lançamento até o final de dezembro, o acesso às páginas do sistema cresceu 81%. As 14 funções em sua aba lateral incluem registros sobre Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG); sintomas de Covid-19; gráficos e mapas mostrando a interiorização da epidemia; medidas de combate e decretos de estados e municípios; medidas de mobilidade da população obtidas por técnicas de big data; bem como estimativas de populações em risco.

Todos esses dados têm sido analisados por jornalistas e pesquisadores espalhados por todo o Brasil. Além disso, os próprios pesquisadores do grupo produzem notas técnicas usando esses dados para analisar situações específicas que vêm ocorrendo no Brasil, como o processo de interiorização da pandemia; os impactos indiretos da epidemia, que são avaliados calculando o excesso de mortalidade; e as condições de internação nos hospitais em função da origem do paciente e das fases da epidemia, entre outras.

“Mais ou menos em fevereiro, eu e Diego começamos a fazer uns gráficos de internação, no Excel mesmo, pois já sabíamos que era uma doença que deixava a pessoa muito tempo no leito. E começamos a perceber que os leitos do Brasil, de maneira geral, já ficam lotados o ano inteiro. Aí acendeu mais um alerta pra gente: se já não tínhamos muitos leitos sobrando, e essa doença chegasse com a dimensão que estávamos vendo no Oriente e na Europa, o Brasil seria afetado fortemente”, recorda Mônica.

Naquele início, o Ministério da Saúde não tinha nada muito sistemático que oferecesse dados sobre cada caso individual de Covid.  Logo a equipe descobriu que a organização não-governamental Brasil.io já estava organizando esses dados, com a ajuda de vários voluntários, junto às secretarias estaduais de Saúde.

“Nós nos aproximamos do pessoal da Brasil.io e começamos com casos e óbitos e coisas muito diretamente ligadas, como a população em grupos de risco, idosos e pessoas com comorbidades. Tivemos ajuda do pessoal do Laboratório de Informação em Saúde (LIS) com a Pesquisa Nacional de Saúde e começamos também a trabalhar com alguns dados sobre mobilidade, que conseguimos na época com o Waze, Google Maps e Movit (transporte público) para algumas cidades. E aí criamos a primeira cara do sistema”, relembra Mônica.

Ela conta que o intuito original era monitorar para verificar aonde estava acontecendo o maior número de casos, em que município e como o SUS iria responder a essa doença. “Começamos a monitorar os municípios, mas não conseguimos a informação sobre leitos, que era muito difícil de ser obtida.

Começamos então a focar mais no número de casos e óbitos e na difusão espacial da doença, ou seja, como a epidemia iria percorrer o território nacional, olhando o total de casos e óbitos e a mobilidade das pessoas. Agregamos então ao sistema a população em risco, que veio da PNS. Teve também a parte espacial, que veio do IBGE com a Região de Influência das Cidades (Regic), uma pesquisa que foi liberada para nós antes mesmo de ser lançada oficialmente, que avalia os serviços dos municípios e que nos permitiu determinar aonde a população vai buscar os serviços de saúde”, lembra Mônica.

A evolução do projeto do MonitoraCovid-19, expressada em boa parte através das notas técnicas, foi sempre atrás da trilha de desenvolvimento da epidemia no Brasil. O objetivo era procurar respostas e identificar tendências que pudessem municiar os gestores de saúde e pesquisadores de informação científica para apoiar suas decisões e estudos.

“Nós tínhamos uma ideia de que municípios pequenos não dariam conta dos seus pacientes, devido à gravidade da doença, de precisar de um leito de UTI, e vimos que a tendência seria que essas pessoas seguissem a prática do Sistema Único de Saúde (SUS): sair dos municípios pequenos e ir para municípios polo, um pouco maiores, em busca de assistência mais especializada. Começamos a ficar preocupados: não haveria leito para todo mundo. Procuramos ver então como a doença iria se espalhar no território nacional. Só que, quando chegou mais ou menos em maio, vimos que a doença já estava tomando o país todo, e aí começamos a pensar em outras possibilidades de análise”, relata Mônica.

Diego Xavier é epidemiologista, técnico em Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e doutorando em Saúde Pública. Juntamente com Christovam Barcellos, ele tem sido porta-voz regular do Icict para explicar à imprensa as notas técnicas e outras informações do MonitoraCovid-19. Diego conta que, após a fase inicial de lançamento do sistema, a situação da Covid-19 foi evoluindo no Brasil e novos temas foram surgindo e sendo demandados pela imprensa e por gestores públicos, exigindo mais ações da equipe do MonitorasCovid-19.

“Em julho, começamos a ver que gestores de vários estados se movimentavam para voltar com as aulas. Nós, que estávamos trabalhando com os dados, vimos que prefeitos e governadores não entendiam o tamanho do problema que a volta às aulas naquele momento poderia causar. Nas cidades do Rio e de São Paulo os novos casos começavam a diminuir, mas ainda eram muitos, e em muitos outros lugares estavam aceleradíssimos. Fizemos então uma nota técnica mostrando que os tempos epidêmicos são diferentes para cada local, que, por exemplo, São Paulo não era um modelo para o Mato Grosso, porque estava num estágio diferente da epidemia. Como não tinha no ministério ninguém apontando isso, a gente acabou assumindo esse papel, mostrando com dados da Pesquisa Nacional de Saúde, por exemplo, que há muitos idosos que cuidam de crianças e, com a volta às aulas, seriam colocados em situação de risco, pois os estudantes poderiam levar a Covid-19 para dentro de casa” recorda Diego.


Evolução de novos casos de Covid-19 no Brasil, desde o início da pandemia até a última semana de dezembro (fonte: MonitoraCovid-19, Icict/Fiocruz)
 
 

Uma das últimas notas técnicas da equipe do MonitoraCovid-19 saiu perto do Natal, também respondendo a uma questão de momento. “Vimos que a doença se propaga em função de as pessoas estarem se locomovendo, o que incluiu o período da eleição municipal, e aí fizemos um alerta para o Natal e réveillon, afirmando que depois da fase de interiorização, a epidemia havia se sincronizado, mostrando uma dinâmica semelhante entre áreas metropolitanas e o interior. Se todo mundo sair de casa ou viajar durante o Natal e o fim de ano, o início de 2021 vai ser um desespero. Como a gente trabalha com dados todos os dias, acaba tendo esses insights. E temos a chancela da Fiocruz, o que é muito importante, porque tudo o que afirmamos ganha um peso enorme na opinião pública”, complementa Diego.

Christovam Barcellos, que trabalha na equipe do MonitoraCovid-19, é engenheiro e geógrafo de formação, com doutorado em Geociências e experiência como sanitarista nos governos estaduais do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul.  Ele destaca que o MonitoraCovid-19 está totalmente em sintonia com a missão do Icict, que é a de levar informação científica de saúde, de forma rápida e em linguagem acessível, para quem efetivamente precisa dela.

“No início focamos em oferecer uma informação científica útil para gestores de saúde de estados e municípios e também pesquisadores e público acadêmico. Rapidamente, percebemos que o MonitoraCovid-19 tinha também muita utilidade para jornalistas, profissionais de saúde em geral, pessoas comuns que tinham curiosidade em saber como estava a epidemia em sua cidade ou região, e até para empresas, que nos consultam regularmente porque precisam de informação para tomar suas decisões de negócios. Hoje somos um dos principais e mais completos portais de informação sobre a Covid-19 no Brasil”, aponta Christovam.

Segundo ele, informação e comunicação, que são as bases do trabalho do Icict, estão cada vez mais interligadas e a pandemia exigiu que as conexões com a sociedade, a mídia, o meio acadêmico e governos se fizesse de modo cada vez mais consistente e rápido.

Para 2021, conta Raphael, o MonitoraCovid-19 já tem uma boa notícia. Vai ganhar uma nova versão, com outra identidade visual, remodelagem das abas, reorganização de conteúdo e novos gráficos. Em breve o portal ganhará também uma página com dados sobre testagem de Covid-19. O objetivo, acrescenta o pesquisador, é melhorar a navegabilidade e facilitar a vida dos usuários. A nova versão não tem data certa para entrar no ar, mas a equipe está trabalhando para lançar a novidade ainda no primeiro trimestre.

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