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08/06/2021

OTSS/Fiocruz implanta ações em saúde mental nos territórios tradicionais do Carapitanga (RJ)

Vanessa Cancian (OTSS/Fiocruz)


Durante a pandemia de Covid-19, um dos maiores desafios da sociedade tem sido conseguir alinhar cuidados com a saúde mental frente aos inúmeros desafios que o momento impõe. No contexto dos povos e comunidades tradicionais, isso não é diferente e promover ações de saúde mental torna-se mais uma ferramenta de luta e de preservação da vida. Nesse cenário, nasce uma iniciativa chamada Intervenções territoriais e comunitárias em saúde mental, projeto que está sendo realizado pelo Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis (OTSS/Fiocruz) para implantar ações ligadas a área da saúde mental nos territórios tradicionais do Carapitanga, em Paraty (RJ). 

Iniciativa 'Intervenções territoriais e comunitárias em saúde mental' visa implantar ações ligadas a área da saúde mental nos territórios tradicionais do Carapitanga, em Paraty (RJ) 

 

A iniciativa foi contemplada pelo edital Inova Território e está sendo realizada em parceria com o Núcleo de Saúde Mental, Álcool e outras drogas (Nusmad) da Fiocruz Brasília. "O projeto surge por meio de diálogos que começaram em 2016, em que essas questões de saúde mental já eram sinalizadas como uma demanda importante para o [Fórum de Comunidade Tradicionais] FCT. A partir do ano passado começamos a dar um contorno para essa proposta e, quando surgiu a oportunidade do edital Inova Territórios, em conjunto elaboramos essa proposta, que felizmente foi contemplada", explica Helena Fonseca. 

Segundo ela, o projeto irá realizar ações comunitárias e territorializadas em saúde mental junto com os residentes do programa de Residência Multiprofissional de Saúde Mental, Álcool e outras drogas da Fiocruz Brasília, em busca de desenvolver tecnologias de cuidado e atenção psicossocial que considerem as especificidades da região. "Pensando nas frentes de atuação do OTSS, tudo que ele promove hoje nos territórios se trata de saúde mental. Economia solidária, TBC, agrofloresta, tudo isso é um encontro e cuidado com a saúde mental”, completa Helena. 

Intercâmbio entre Brasília e a Bocaina 

"Nosso núcleo possui esse programa de residência em saúde mental e achamos que seria uma oportunidade interessante de trazer os residentes e contribuir para que essas invenções aconteçam. Trata-se da primeira residência em saúde mental da Fiocruz. E essa parceria com o OTSS é fundamental porque podemos levar nossos profissionais para uma formação na Bocaina, trabalhar essa questão da cultura e da sustentabilidade. Vai dar uma nova experiência para esses residentes", discorre André Guerreiro, coordenador do Nusmad da Fiocruz Brasília. 

O que é uma residência em saúde mental?

"A residência é uma formação que se faz depois da graduação, os profissionais podem fazer esse tipo de especialização, que é estudar o que chamamos de aprendizado em ato. Estudar na prática, também recebendo informações teóricas, mas a maior parte da carga horária dessa formação se dá no campo de prática em que o tema daquela especialização é trabalhado. Na saúde mental, o serviço estratégico é o Caps. A residência de saúde mental que estamos trabalhando é a primeira da Fiocruz, é interdisciplinar, ou seja, têm profissionais de diversas profissões", conta Gabi Barreiros, socióloga, sanitarista e especialista em atenção comunitária para área de saúde mental, álcool e outras drogas da Fiocruz Brasília. 

Cuidado gera autonomia e liberdade

"Tem uma coisa que é fundamental para nós que é a liberdade. A reforma é sobre a liberdade e sobre um projeto de sociedade. E tem uma coisa que é essa do fazer sentido. Que cuidado faz sentido para mim. E esse projeto tem uma aproximação com a medicina tradicional. Tem a ver com o cuidado que estão nos territórios, com os recursos que estão lá. O projeto vai trazer os profissionais para fazer essa reverência, aprender de verdade, com respeito a esses recursos escondidos dentro de cada território", salienta Gabi Barreiros. 

"A ideia é que a gente construa junto, aprenda junto, numa perspectiva de interdisciplinaridade, ou seja, os profissionais juntos com o que eles aprenderam na universidade com as experiência profissional e de vida, construindo o cuidado dos usuários desses serviços. E colados nas equipes, aprendendo com a experiência acumulada, com o território, com as comunidades, a ser e a atuar como um profissional a partir dos princípios da reforma psiquiátrica", reforça Gabi sobre a importância do projeto promover o intercâmbio de saberes e conhecimentos dos residentes para os territórios e vice-versa. 

Diversidade de culturas para promover a saúde mental 

Os desafios impostos pelo contexto da pandemia pedem também um olhar para a terra e para os aprendizados e conhecimento que são produzidos por meio das experiências de resistências nos territórios. "Estamos falando de liberdade, de autonomia, equidade, justiça social, e tudo isso tem a ver com sustentar as diferenças no mesmo campo, celebrar as diferenças, incluir as pessoas, as suas culturas, as perspectivas de mundo, suas possibilidades, enfrentar também essa formação que é no ato, na vida das pessoas, enfrentar questões que atingem a todos. Questões que chamamos de matriciais, têm a ver com o machismo, o racismo, as diversas opressões, desigualdades sociais. É essa especialização que, a partir dos princípios da reforma, vai tentando formar profissionais que tenham consistência técnica, consistência política, que conversem com os interesses do [Sistema Único de Saúde] SUS", pontua Gabi Barreiros. 

O projeto já iniciou suas atividades de campo, tendo se reunido com as coordenações do FCT para o planejamento da chegança nos territórios, bem como tem realizado discussões e capacitações dos residentes para as atividades que serão desenvolvidas. Nestas etapas iniciais, em que estão sendo realizadas entrevistas e grupos focais, o envolvimento e participação das comunidades será muito importante.

Ouça podcast sobre o projeto de saúde mental:

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