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29/10/2021

Alasag e Fiocruz debatem saúde global por reflexões sobre a América Latina

Patricia Álvares (Agência Fiocruz de Notícias)


Que rumo pode tomar a saúde global no mundo pós-Covid-19? E na América Latina? Qual é o papel das relações internacionais nas políticas sanitárias de cada país? O que foi compreendido com o Sars-CoV-2? Mais de 16 perspectivas regionais sobre a gestão da pandemia convergiram em possíveis respostas durante a nova edição dos Seminários Avançados em Saúde Global e Diplomacia do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz) na última quarta-feira (27/10). 

O webinário Saúde Global e Diplomacia da Saúde: Visões desde a América Latina e o Caribe marcou ainda o lançamento do livro de mesmo nome da Aliança Latino-americana de Saúde Global (Alasag). A obra está disponível para download e o debate pode ser acompanhado no canal VídeoSaúde da Fiocruz (confira acima).  

Em apenas “três eternos minutos”, nas palavras de Paulo Buss, coordenador do Cris/Fiocruz e presidente da Alasag, médicos, diplomatas, economistas, sociólogos, ex-ministros, acadêmicos, pesquisadores e gestores de políticas públicas (todos eles autores de capítulos do livro) compartilharam ao vivo as principais lições da pandemia de Norte a Sul na região. Entre elas, a interseção da saúde com outras disciplinas protagonizou diagnósticos variados.

Direto ao ponto e na hora “H”, o debate precede instâncias emblemáticas e decisivas para o rumo do planeta: a reunião do grupo de 20 países mais ricos do mundo (G20), a cúpula ibero-americana de ministros da Saúde em Santo Domingo e a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP26, em Glasgow. 

Ao compor uma radiografia multidimensional da América Latina, três palavras se repetiram com frequência em vozes do México, Guatemala, Costa Rica, Colômbia, Peru, Brasil, Uruguai, Argentina e Chile. Transversal, universal e resiliente, assim caracterizaram o modelo de gestão sanitária capaz de responder e mitigar novas e velhas crises. Para isso, demarcaram uma agenda regional estratégica com a saúde integrada a todas as micro e macro decisões políticas. 

Confira os principais trechos do seminário em 12 pontos: 

Inovação 

Ainda se aplicam “soluções antigas para problemas novos, precisamos de ousadia para pensar fora da caixa”, concluiu o diplomata Santiago Alcázar, que foi embaixador do Brasil em Burkina Faso e Azerbaijão e integra o Cris/Fiocruz. 

Políticas obsoletas 

O “paradigma da proteção social” vigente na América Latina se traduz em “ajuda humanitária” e mantêm as desigualdades. São “um remédio pior que a doença”, resumiu o médico cirurgião e obstétrico René Leyva, diretor de Avaliação de Sistemas e Economia da Saúde (INSP) e coordenador da Unidade de Estudos sobre Migração e Saúde (UMyS) no México. 

O que é sindemia?  

É a soma de uma epidemia com outras pré-existentes. No caso da América Latina, a insegurança alimentar já era alarmante, derivam em doenças crônicas e se agravam no contexto de uma pandemia como a de Covid-19. “E as políticas de proteção social, como a distribuição de cestas básicas, não promovem resiliência”, analisou a médica Lorena Rodríguez, mestre em Nutrição, diplomada em Gestão de Políticas Públicas e acadêmica da Escola de Saúde Pública da Universidade do Chile. 

É possível uma governança global? 

Promover a saúde pública requer “um tratado internacional vinculante” para os países signatários, porém quem incide nessas discussões “são os mesmos Estados que não querem derrubar as patentes das vacinas, por exemplo”. “A miopia do Norte exclui os países em desenvolvimento”, disparou o colombiano Germán Velázquez, doutor em Economia da Saúde pela Universidade Sorbonne, em Paris. 

Integração e solidariedade 

Passar do “salve-se quem puder à cooperação regional” é urgente para os países latino-americanos, segundo a doutora em Farmácia Claudia Vargas, pesquisadora em química farmacêutica da fundação IFarma, na Colômbia.  

Constância, coerência e cooperação  

Reuniões semanais para constante intercâmbio de experiências é a receita para a integração que a Organização Andina da Saúde aplicou na pandemia, coordenando o trabalho intersetorial de seis países, contou a médica María del Carmen Calle, secretária-executiva da Organização Andina de Saúde - Convênio Hipólito Unanue (Oras-Conhu) e ex-vice-ministra da Saúde do Peru. 

Recuperação ou retrocesso? 

“Voltar à normalidade é impossível porque está baseada em um modelo de consumo e produção insustentável”, considerou o sociólogo Sebastián  Tobar, assessor de Cooperação para a América Latina do Cris/Fiocruz, doutorando em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), e coorganizador do livro da Alasag. 

Não só curativos 

A pandemia concentrou esforços na atenção hospitalar, com foco em “testes, leitos e respiradores artificiais”, que são paliativos. Investir na “atenção primária com participação de redes comunitárias e apoio às famílias” é chave para a resiliência, observou a médica e ex-ministra de Saúde do Chile María Soledad Barría, acadêmica do Departamento de Atenção em Saúde Primária e Familiar da Universidade do Chile. 

Empoderar a saúde 

Uma atenção primária que possibilite “autonomia, autocuidado e parcerias público-privadas” é fundamental para construir uma estratégia transversal e duradoura, propôs a presidente-executiva do Instituto Misto de Assistência Social (IMA), no Ministério de Desenvolvimento e Inclusão Humana e Social da Costa Rica, Verónica Gamboa, mestre em Saúde Coletiva, Saúde Pública e em Epidemiologia. 

Contínua e permanente 

Construir um “sistema permanente e sustentável de saúde” para atender o “antes, durante e depois” de situações emergenciais previne erros repetidos da história, ressaltou a doutora em Direito Internacional e pesquisadora na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). 

O bom e velho check-up 

Apesar das iniciativas inovadoras que floresceram na pandemia, a “redução dos cuidados de rotina” implicam em graves consequências, alertou a médica sanitarista Lígia Giovanella, doutora em Saúde Pública, além de professora e pesquisadora sênior na Ensp/Fiocruz. 

Não é culpa dos outros 

“A ideia de fracasso ou sucesso tem a ver com expectativas, depositamos expectativas na Organização Mundial da Saúde (OMS), mas como países não a dotamos de instrumentos necessários para atuar”. Os Estados-membros são quem conduzem a OMS, ponderou o diplomata argentino Julio Mercado, atual diretor para América do Norte no Ministério de Relações Exteriores da Argentina. 

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