Início do conteúdo

01/12/2021

ArticulaFito participa de evento sobre bioeconomia e sociobiodiversidade

Bel Levy (ArticulaFito/Fiocruz)


"Para pensar a saúde planetária precisamos dialogar sobre os modelos de produção e consumo de nossa sociedade", afirmou a pesquisadora Joseane Costa, coordenadora técnica e executiva do projeto ArticulaFito - Cadeias de Valor em Plantas Medicinais, no painel Biodiversidade e Saúde Planetária, que marcou o último dia do Green Rio, evento internacional sobre bioeconomia e sociobiodiversidade realizado de 25 a 27 de novembro na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, em formato híbrido. Ao lado de Antônio Saraiva, professor do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Universidade de São Paulo (USP), e de Valcler Rangel, assessor de relações institucionais da Fiocruz, Joseane apresentou a trajetória do projeto ArticulaFito e apontou a inclusão produtiva de empreendimentos da sociobiodiversidade como caminho para o desenvolvimento sustentável.

Apresentações sobre o projeto ArticulaFito - Cadeias de Valor em Plantas Medicinais marcaram evento internacional Green Rio (foto: Divulgação)

 

"A forma como a economia se instala nos territórios tem  impacto na saúde das pessoas e dos ecossistemas que elas habitam. O reconhecimento das práticas tradicionais de uso da biodiversidade e a inclusão produtiva de agricultores familiares, povos indígenas e comunidades tradicionais são essenciais para mudar os atuais padrões de produção e consumo e estabelecer relações mais justas, que respeitam as vidas das pessoas e do planeta" defendeu Joseane. O painel Biodiversidade e Saúde Planetária e as demais atividades do ArticulaFito no Green Rio foram transmitidos ao vivo com o apoio da VideoSaude Distribuidora da Fiocruz.  

Fruto de parceria da Fiocruz com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o projeto ArticulaFito - Cadeias de Valor em Plantas Medicinais é o maior mapeamento do potencial produtivo de plantas medicinais, aromáticas, condimentares e alimentícias já realizado no Brasil. Foram identificados 26 produtos da sociobiodiversidade com potencial para mercados diferenciados públicos e privados, dentre eles, o Sistema Único de Saúde (SUS), como chás, colírios, repelentes, hidratantes, azeites para uso na gastronomia, dentre outros, que têm como matéria-prima espécies vegetais da flora brasileira. “Na perspectiva das cadeias de valor, consideramos não apenas o valor monetário, mas também os valores étnicos, sociais, culturais e ambientais agregados às cadeias de valor mapeadas. Nesse contexto, o ArticulaFito está alinhado às diretrizes do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, do Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Valor da Sociobiodiversidade, do Programa Bioeconomia Brasil e da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, explicou a coordenadora do projeto.

“O ArticulaFito é uma iniciativa fundamental para que possamos mapear, conhecer e entregar ao mercado produtos da sociobiodiversidade. As pessoas estão clamando para consumir produtos naturais, com origem na nossa biodiversidade. Estruturando as cadeias de valor, nós vamos promover não só o aumento da produção para atender o mercado, também vamos qualificar o pequeno produtor, gerar renda e promover o desenvolvimento regional. É um trabalho que não se faz do dia para a noite, que depende de capacitação e articulação. Nós, no Brasil, com o apoio do Mapa, estamos empenhados nesse sentido”, afirmou o então secretário de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Mapa, César Halum, presente ao evento.

Joseane destaca que o Green Rio proporcionou momentos de interação muito importantes, depois de quase dois anos de diálogos a distância durante a pandemia de Covid-19. “Para o ArticulaFito, foi a oportunidade de reunir presencialmente articuladores regionais e territoriais do projeto, que vieram do Pará, de Tocantins, do Norte de Minas, do Rio Grande do Sul, do Brasil inteiro, para realizar intercâmbio e trocar conhecimentos com atores estratégicos do governo, da iniciativa privada, da sociedade civil. Foram três dias de intensa programação, com painéis internacionais e minicursos e palestras promovidos pelo ArticulaFito, com a participação da diretora de projetos da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), Tatiana Balzon”, resumiu Joseane.

Sociobiodiversidade

A sociobiodiversidade brasileira esteve representada no evento por agricultores familiares, indígenas, quebradeiras de coco e quilombolas que integram as bases produtivas das cadeias de valor mapeadas pelo ArticulaFito. A extrativista Cledeneuza Maria de Oliveira, do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), participou de roda de conversa no estande da Fiocruz e conheceu a mesa ergonômica desenvolvida por projeto da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). “Somos 300 mil quebradeiras de coco no Brasil. Essa ferramenta de trabalho ainda não chegou para todas nós. Enquanto isso, adaptamos um machado num cano e vamos quebrando os cocos, sentadas na cadeira. Improvisamos. No passado, a gente tinha vergonha de dizer que era quebradeira de coco. Hoje, nós temos orgulho em dizer que sustentamos nossas famílias com esse trabalho. O babaçu traz riqueza para as quebradeiras de coco. Da polpa, fazemos a farinha. Da amêndoa, tiramos o óleo. E a casca vira carvão, para nosso fogão. Estamos vivendo um momento difícil, porque os babaçuais estão ficando longe de nós. A devastação está muito grande. Agora não matam mais as palmeiras com machado nem com motosserra, matam com veneno. E o veneno não mata só o babaçu. Mata os rios, mata tudo. E nós é que estamos sofrendo com esse impacto”, afirmou Cledeneuza, que está na base produtiva da cadeia de valor do óleo extravirgem e farinha de babaçu, mapeada pelo ArticulaFito no Pará.

No estande do Mapa, a ribeirinha Suena Nascimento da Silva participou da apresentação do projeto ArticulaFito, ao lado de Joseane Costa, Rose Bezercy, da empresa Cativa Natureza; e Onaur Ruano, da chácara Pacha Mama. A presidenta do Grupo de Trabalhadoras Artesanais e Extrativistas (GTAE), empreendimento que está na base da cadeia de valor do repelente de andiroba, situada também no Pará, mostrou a importância das cadeias de valor para o desenvolvimento territorial, a geração de renda, a equidade de gênero, a redução das desigualdades, a preservação de saberes tradicionais e a conservação da natureza. "É impossível falar do GTAE sem falar de preservação da natureza. Todo nosso trabalho é voltado à proteção da Amazônia, para manter a floresta em pé", concluiu Suena. 

Voltar ao topo Voltar