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06/06/2022

Pesquisador da Fiocruz Rondônia esclarece dúvidas sobre leishmaniose

José Gadelha (Fiocruz Rondônia)


Casos recentes de leishmaniose tegumentar foram identificados no Setor Prosperidade, município de Cacoal-RO, que fica a cerca de 480 km de Porto Velho. A região considerada como foco das transmissões está localizada próximo ao Parque de Exposições da cidade. De acordo com a Agência de Vigilância em Saúde, pelo menos 15 cães, além de uma pessoa foram diagnosticados com a doença. Desses 15 cães, 10 foram recolhidos pela Unidade de Vigilância em Saúde de Cacoal para eutanásia, a pedido dos donos. O pesquisador em Saúde Pública e chefe do Laboratório de Epidemiologia Genética da Fiocruz Rondônia, Gabriel Eduardo Melim Ferreira, está acompanhando os casos e informou que testes moleculares foram realizados, em Porto Velho, para a confirmação da doença nos animais e no paciente. 

Conforme alerta o pesquisador, no homem, as feridas podem aparecer em cerca de duas semanas após a picada do mosquito transmissor infectado pelo parasita (foto: José Gadelha, Fiocruz Rondônia)

 

Gabriel explica que existem dois tipos de leishmaniose, a visceral e a tegumentar. O primeiro tipo acomete normalmente baço e fígado e, nesses casos, o cão tem uma importância como reservatório doméstico da doença, tornando-se fonte de infecção para o vetor (flebotomíneo mais conhecido como mosquito palha, ou asa de palha) que vai transmitir o parasita causador da leishmaniose visceral (Leishmania infantum) ao homem. 

Já a leishmaniose tegumentar (provocada pelo parasita Leishamania braziliensis), possui como transmissores outras espécies de flebotomíneos, e os sintomas são completamente diferentes. “Nesse tipo de doença, o sintoma típico é uma lesão circular na pele, com a borda um pouco elevada que é conhecida por ser indolor de difícil cicatrização, podendo evoluir para o comprometimento da mucosa nasal e, nesses casos de tegumentar, a participação do cão no ciclo de transmissão da doença ainda não é um fator determinante, ou seja, nós não temos o animal como reservatório domiciliar do parasita, assim como na leishmaniose visceral”, esclarece o pesquisador dizendo que o cão tem um papel “ainda indefinido” na epidemiologia da leishmaniose tegumentar aqui na região. 

Especialmente, em relação aos casos que vêm sendo acompanhados em Cacoal, os animais estavam muito debilitados e com sérias lesões, por isso, a Unidade de Vigilância em Zoonoses ofereceu aos moradores a possibilidade de recolhimento, no sentido de amenizar o sofrimento dos cães. Nesse caso, é importante deixar claro que “o animal é submetido à eutanásia, o que ocorre sem nenhum sofrimento e de forma apropriada, conforme recomendado pelos órgãos competentes, uma vez que não há tratamento para a leishmaniose tegumentar. O tratamento autorizado e recomendado pelo Ministério da Saúde é apenas para a leishmaniose visceral”, reforça Gabriel Melim.

Para o tipo tegumentar da doença não há tratamento recomendado e nem vacina disponível com eficácia comprovada por parte do Ministério da Saúde. 

Aparecimento dos sintomas

Conforme alerta o pesquisador, no homem, as feridas podem aparecer em cerca de duas semanas após a picada do mosquito transmissor, lembrando que é preciso que o mosquito esteja infectado pelo parasita para que se transmita a doença. É necessário observar se há dificuldade de cicatrização. Nesses casos, a orientação é que, diante de qualquer suspeita, o morador procure a unidade de saúde mais próxima de sua residência e solicite a avaliação e, se necessário, o encaminhamento ao um centro especializado no tratamento. Em Porto Velho, o tratamento é realizado no Hospital Cemetron e na Policlínica Oswaldo Cruz, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

Em Rondônia, dados oficiais fornecidos pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, apontam que no estado são cerca de mil casos anuais de Leishmaniose. Só no ano de 2021, o Laboratório de Epidemiologia Genética da Fiocruz Rondônia analisou amostras de cerca de 200 casos suspeitos atendidos no Hospital Cemetron e cerca de 100 delas tiveram resultado positivo para a presença de DNA de Leishmania

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