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24/10/2022

Evento na Fiocruz Amazônia avalia impactos da pandemia na violência

Fiocruz Amazônia


O Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazônia) deu o pontapé inicial às atividades presenciais do Programa Institucional de Articulação Intersetorial Violência e Saúde da Fiocruz, com a realização do primeiro Seminário Violência e Saúde em Tempos de Emergências Sanitárias Globais. O evento reuniu, na última quarta-feira (19/10), na sede da unidade, em Manaus, representantes de diversos setores da sociedade civil local e a coordenação do PI-AIVS. Em seu pronunciamento online, na mesa de abertura, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, saudou os participantes, agradeceu a Fiocruz Amazônia pela iniciativa e reforçou o compromisso da Fiocruz com a agenda do impacto da violência, ressaltando a importância de realização de seminários e simpósios sobre o tema em todas as regiões brasileiras.

Presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima reforçou o compromisso da Fiocruz com a agenda do impacto da violência e ressaltou a importância de realização de seminários e simpósios sobre o tema em todas as regiões brasileiras  (foto: Divulgação)

 

“Observamos que a pandemia de Covid-19, além do dramático impacto sanitário, aprofundou desigualdades e exacerbou as diferentes formas de violência. Em 2020, em seu primeiro ano, vimos por exemplo que a violência contra a mulher e a criança no mundo aumentou em 30%, tornando mais distante os objetivos centrais da Agenda 2030”, afirmou Nísia Trindade Lima. Ela também destacou a importância do seminário na abordagem às especificidades das várias formas de violência na região amazônica, em diferentes contextos (urbano, no campo, contra populações tradicionais e povos indígenas).

A presidente da Fiocruz ressaltou que, com a previsão de que emergências sanitárias serão cada vez mais frequentes, será necessário antecipar seus efeitos, inclusive no tocante ao aumento nos índices de violência. “Dessa forma, torna-se importante que os diferentes atores se reúnam, gestores, pesquisadores, estudantes, movimentos sociais e órgãos de controle para discutir as origens das várias formas de violência e as possíveis formas de enfrentá-la. Os seminários têm um papel essencial em fortalecer a articulação institucional em violência e saúde na Fiocruz e na ampla rede em torno dessa agenda”, reforçou.

O seminário na Fiocruz Amazônia foi coordenado localmente pelo epidemiologista Jesem Orellana. Para ele, a oportunidade de fortalecer a articulação institucional em violência e saúde na Fiocruz foi o principal ganho da iniciativa. “O seminário superou as expectativas em relação à finalidade principal que era levantar e debater diferentes expressões da violência na Amazônia brasileira em tempos de complexas e sequenciais emergências sanitárias globais. Esperamos ampliar colaborações local e regionalmente, visando fortalecer nossa capacidade de resposta aos inúmeros desafios da violência estrutural, interpessoal e autoprovocada, pois diversos tipos de violência seguem sendo negligenciados e se agravando no norte do país, como a violência contra a criança/adolescente, violência de gênero, homicida, suicida, bem como os conflitos que envolvem a ocupação e a retomada de territórios, além do amplo leque de crimes ambientais com impactos sobre a violência e saúde”, explica. 

"Conseguimos reunir um coletivo de especialistas formado por academia, sociedade civil organizada, movimentos sociais e órgãos governamentais e não-governamentais, além de estudantes de pós-graduação, entre outros atores, em torno da pauta. São demandas que cada vez mais exigem respostas e esforços intersetoriais à sua mitigação, como também uma dinâmica e abrangente compreensão dos seus principais determinantes, sejam eles sanitários, sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais”, avaliou. 

Seminário eu o pontapé inicial às atividades presenciais do Programa Institucional de Articulação Intersetorial Violência e Saúde da Fiocruz (foto: Divulgação)

 

Diretora da Fiocruz Amazônia, Adele Benzaken lembrou indicadores importantes sobre a situação da violência. Segundo ela, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), na América Latina e no Caribe, uma em cada três mulheres experimentou violência física ou sexual durante suas vidas. “Ao mesmo tempo inexistem respostas efetivas das autoridades governamentais para a escalada da violência, que inclui a mais extrema forma, o feminicídio”, ressaltou, enumerando outras formas de violência na região amazônica que aprofundam a produção de desigualdades sociais. Para a diretora, existe uma tendência de interiorização da violência que preocupa, pois acompanha as frentes de desmatamento e da intensificação de atividades ilegais, atingindo um número progressivo de municípios. “A violência está presente além das regiões de fronteira, já atingiu a periferia das pequenas e grandes cidades da Região Norte”, observou.  

Presente ao evento, a coordenadora do PI-AIVS, Simone Assis, adianta que a intenção do grupo é realizar seminários semelhantes ao de Manaus em outras regiões do país, onde as unidades da Fiocruz possam assumir o papel de elemento articulador local, trabalhando junto com secretarias estaduais e municipais, além do movimento civil organizado descentralizado. “Manaus tem estado presente desde o início do programa, em 2016, e é a primeira unidade a realizar um evento nesses moldes, preocupada em aglutinar forças a partir da vivência das diferentes formas de violência na região”, explicou.

Para Simone Assis, o papel da Fiocruz é o de propor estratégias articuladas mas a autonomia é local. “Importante que os pesquisadores fomentem forças e pensamentos, proporcionando trocas entre nós, mas fomentando a ideia de Amazônia Legal como um todo. O contexto da violência muda e preciso aprofundar a análise de cada contexto. Neste sentido a epidemiologia é um legado fundamental. Dados feitos na Fiocruz sobre violência, acidentes, questões de saúde mental associadas a violências, são melhores entendidos quando se conhece o contexto social, aí entra o olhar da sociologia e da antropologia”, explicou. Até então, os encontros do Programa Institucional de Articulação Intersetorial Violência e Saúde vinham acontecendo à distância com todos os representantes das unidades da Fiocruz.

O Seminário Violência e Saúde em Tempos de Emergências Sanitárias Globais tratou, entre outros temas, das relações entre a ocorrência de homicídios e suicídios e o dramático desenvolvimento da epidemia de Covid-19 na região; possíveis impactos da flexibilização do Estatuto do Desarmamento; repercussões da violência urbana sobre a mortalidade por homicídio de mulheres e a violência de gênero; agravamento da violência no campo, com destaque para os diferentes tipos de vitimização em desfavor de comunidades tradicionais, indígenas e agricultores familiares. Pela manhã, os painéis contaram com as presenças do professor e pesquisador da Universidade do Estado do Amazonas André Luiz Machado das Neves, da titular do Núcleo de Defensoria da Infância e Juventude Juliana Linhares de Aguiar Lopes, da docente e pesquisadora da UEA Lihsieh Marrero, e Juliana Marques, presidente do Instituto Mana de empoderamento feminino.

À tarde, os trabalhos foram iniciados com um relato de experiência da Advogada Natália Demes, nas linhas de atuação da ONG Humaniza Coletivo Feminista de Manaus, acerca da violência institucional contra mulheres gestantes e parturientes no Amazonas. Em seguida, as discussões se concentraram nos temas Suicídios e homicídios no Norte do país, abordado pelo epidemiologista Jesen Orellana; Conflitos Agrários e pelo Uso da Terra na Amazônia, com a jornalista Elaíze Farias, editora de Conteúdo da Agência Amazônia Real; Violência no campo na Amazônia: estatísticas recentes e perspectivas, por Patrícia Rocha Chaves, consultora da Comissão Pastoral da Terra; e Enfraquecimento da governança socioambiental e desmatamento na Amazônia, por Terine Husek Coelho.

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