31/10/2024
Júlio Pedrosa (Fiocruz Amazônia)
O Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) e o Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz) acompanharam, na terça-feira (29/10), a agenda especial do ministro da Saúde da Alemanha, o médico e epidemiologista Karl Lauterbach, em Manaus, um dia antes de sua participação no encontro dos ministros de Saúde do G20, no Rio de Janeiro. A missão foi coordenada pela diretora da Fiocruz Amazônia, Stefanie Lopes, juntamente com a analista da Coordenação de Cooperação com a Europa, Ana Helena Freire, a assessora internacional para Cooperação com a Europa do Cris, Ilka Vilardo, e os pesquisadores Fernando Herkrath e Pritesh Lalwani, dos laboratórios de Situação de Saúde e Gestão do Cuidado de Populações Indígenas e Outros Grupos Vulneráveis (Sagespi) e de Diagnóstico e Controle de Doenças Infecciosas da Amazônia da Fiocruz Amazônia.
O ministro da Saúde da Alemanha, o médico e epidemiologista Karl Lauterbach (ao centro), com representantes da Fiocruz e membros da delegação alemã (Foto: Júlio Pedrosa)
Acompanhado de uma delegação de representantes do governo alemão, o ministro esteve na comunidade ribeirinha Jatuarana, situada às margens do Rio Amazonas, zona rural de Manaus, para conhecer o trabalho de atendimento realizado pela Unidade Básica de Saúde Fluvial Dr Antônio Levino, pertencente à Secretaria de Saúde de Manaus e, deste modo, avaliar o impacto da seca extrema vivenciada hoje no Amazonas sobre os serviços de assistência em saúde para essa população. O ministro ouviu relatos dos ribeirinhos e profissionais de saúde em atuação na UBS Fluvial, e conversou com os pesquisadores da Fiocruz Amazônia sobre estudos desenvolvidos na região em torno das patologias e agravos em saúde decorrentes do desmatamento e da perda da biodiversidade, controle e prevenção de arboviroses, vigilância de patógenos, segurança alimentar, bem como a melhoria da qualidade do serviço de saúde em conjunto com as comunidades.
O impacto das mudanças climáticas sobre a saúde das pessoas é hoje uma das principais preocupações das autoridades de saúde mundiais e tema de discussão do G20. Para a diretora da Fiocruz Amazônia, Stefanie Lopes, a relevância da presença do ministro está no fato dele poder vivenciar um pouco da realidade vivida pelas populações ribeirinhas locais. “Estamos aqui na visita à comunidade Jatuarana com o ministro alemão, que fez questão de vir ao Amazonas porque é um ponto de interesse dele, que é médico e epidemiologista, a questão das mudanças climáticas e foi possível mostrar a Unidade Básica de Saúde Fluvial, que é um modelo de atendimento exitoso prestado às populações ribeirinhas e, na oportunidade, apresentamos os trabalhos desenvolvidos pela Fiocruz Amazônia junto a essas comunidades, bem como projetos relacionados a mudanças climáticas, doenças infecciosas, doenças crônicas e populações vulneráveis da Amazônia”, explicou.
Stefanie Lopes salienta que outro ponto destacado junto ao ministro foi o impacto do desmatamento e dos fenômenos climáticos extremos, como o da estação seca, no que se refere ao acesso à saúde. “Foi uma oportunidade para que o ministro e a delegação do Governo da Alemanha pudessem conferir como o Brasil inova nessas ferramentas de acesso à saúde para populações vulneráveis e como podemos melhorar essa assistência a partir de possíveis parcerias com aquele País”, comentou a diretora da Fiocruz Amazônia. Segundo ela, a Amazônia ainda é uma floresta superpreservada, embora o cenário esteja mudando. “Este ano tivemos o maior desmatamento registrado na nossa floresta e com isso a potencialidade de novos patógenos surgirem a partir desse desequilíbrio é grande. Temos muitas comunidades e populações que vivem e sobrevivem da floresta e todo esse desbalanço muda as formas de vida e faz surgir a probabilidade de um potencial desastre ainda mais com a população extremamente vulnerabilizada e com pouco acesso a saúde. Com isso, as doenças podem surgir e se espalhar”, explicou.
A comunidade Jatuarana tem cerca de 120 famílias e 350 pessoas residentes. O ministro ouviu relatos dos ribeirinhos e profissionais de saúde em atuação na UBS Fluvial e visitou uma escola de Ensino Fundamental da comunidade, onde estudam 67 alunos que residem na localidade e entorno. “A seca dificulta o acesso aos serviços de saúde e leva ao agravamento de doenças”, afirmou a aposentada Nerimar Cunha do Norte, 70, moradora da comunidade e usuária dos serviços oferecidos pela UBS fluvial Antonio Levino. Segundo ela, a falta de assistência em determinados tipos de exames obriga os moradores a terem que se deslocar para Manaus. “Tem gente muito doente que precisa ir pra cidade e espera meses para realizar um determinado tipo de exame. Às vezes, a espera demora anos e, nessa seca, aumenta a distância e os gastos com a gasolina da embarcação. Muitos não têm condições de fazer esse percurso até a cidade, nem cobrir os gastos com o transporte até a unidade de saúde”, lamentou.
A assessora internacional para Cooperação com a Europa do Cris/Fiocruz, Ilka Vilardo, destacou a importância da vinda do ministro alemão para conhecer a região amazônica e os trabalhos de pesquisa que estão sendo feitos pela Fiocruz Amazônia. Tivemos a oportunidade de levar o ministro e a delegação alemã até Jatuarana, onde vimos o quanto de benefícios é feito para a população feita com a UBS Fluvial. “O ministro entrevistou médicos e profissionais de saúde, e durante a ida e a vinda foi importantíssima a conversa dele e outros membros da delegação do Ministério da Saúde alemão, não só com a diretora da Fiocruz Amazônia, como outros pesquisadores que tiveram oportunidade de contar sobre os diversos projetos de pesquisa em saúde que estão sendo desenvolvidos”, ressaltou.
Ilka salienta que a Alemanha é um parceiro importantíssimo para o Brasil e América Latina. “Foi muito importante o Centro de Relações Internacionais de Saúde estar aqui não só testemunhando como também contribuindo para que as relações se dessem da melhor maneira possível e para as informações nos dois sentidos de cooperação entre os dois países”, observou.
Conexões
Fernando Herkrath, que é coordenador do laboratório Sagespi, afirma que o modelo de organização da UBS fluvial, na Atenção Básica, é aplicado hoje na região amazônica e do pantanal de forma exitosa. “Esse é um modelo superimportante para garantir o acesso aos serviços de saúde e melhoria das condições de saúde dessas populações, um modelo itinerante para atendimento com profissionais que ficam no território e podem trabalhar com promoção, prevenção e assistência no nível da Atenção Primaria, um locus de extrema importância para atuação da Fiocruz Amazônia, no sentido de contribuir para uma melhor organização do serviço, em parceria com diversos órgãos e com as comunidades”, reforçou.
O pesquisador Pritesh Lalwani lembrou que a visita do ministro da Saúde da Alemanha demonstra a preocupação dele com as conexões existentes entre os problemas gerados pela crise climática. “Os problemas não são só na Amazônia, são mundiais. È importante a parceria para que possamos trabalhar em conjunto para trazer soluções permanentes, em termos de resiliência e deixar legado para as próximas gerações”, frisou. De volta à área urbana de Manaus, ministro e comitiva, foram recebidos pelo governador Wilson Lima, no Palácio do Governo. Na oportunidade, foram apresentados projetos do governo estadual apoiados pela Governo da Alemanha e novas possibilidades de parcerias e investimentos.