Início do conteúdo

04/11/2024

Troca de experiências marca encontro sobre o Método Wolbachia

Alessandro Vieira (WMP Brasil)


Representantes do Ministério da Saúde, Fiocruz e 11 municípios contemplados pelo Método Wolbachia se reuniram em Curitiba (Paraná), nos dias 30 e 31 de outubro, para celebrar os 10 anos de implementação da tecnologia no Brasil. Nos painéis apresentados pelos primeiros municípios que tiveram a implementação do Método Wolbachia, realidades diferentes estiveram em pauta. Os desafios que foram enfrentados pelos governos locais e ainda pelos gestores do WMP Brasil. Foi possível ainda saber quais as soluções encontradas e as principais tomadas de decisão.

Representantes do Ministério da Saúde, Fiocruz e 11 municípios contemplados pelo Método Wolbachia se reuniram em Curitiba (Paraná) para celebrar os 10 anos de implementação da tecnologia no Brasil (foto: WMP Brasil)

 

Os participantes comentaram sobre a importância do engajamento comunitário, as estratégias de comunicação e a participação da população para o sucesso do projeto. Os municípios e estados que fazem parte da etapa de expansão deste ano também puderam falar sobre o atual momento do projeto, os desafios e o que aprenderam com os demais painéis.

“O evento de 10 anos do Método Wolbachia no Brasil foi um sucesso, trazendo representantes dos municípios e estados em que estamos em atuação. Foi uma troca de experiências incrível. Os primeiros municípios que receberam o Método puderam mostrar desafios e ainda, o que deu certo na implementação. Os novos municípios chegam com uma grande bagagem de informações que podem ser acessadas”, ressalta o líder do Método Wolbachia no Brasil, Luciano Moreira. 

De acordo com a coordenadora-geral de Vigilância de Arboviroses, Lívia Vinhal, o encontro dos 10 anos da Wolbachia no Brasil trouxe o balanço do quanto a estratégia tem sido bem sucedida sob vários aspectos. Para se ter uma ideia, de 2014 a 2024, houve um salto de 5 mil para mais de 4 milhões de pessoas residentes nos municípios que foram beneficiados com a tecnologia. Este número deverá chegar a 5 milhões no início de 2025.

“Nos municípios com mais tempo de implementação foi possível observar a redução da transmissão de dengue, mesmo em 2024, quando o Brasil apresentou a maior transmissão da história. Nos municípios que possuem menor tempo de intervenção e naqueles onde a estratégia ainda está em fases iniciais, ficou claro o quanto a estratificação de risco intramunicipal juntamente com o monitoramento por ovitrampas, propiciou maior conhecimento do território, e que o engajamento com a população e apropriação do método Wolbachia tem sido importante para fortalecer o controle vetorial. Os municípios e o Ministério da Saúde têm expectativas positivas desta intervenção de saúde pública para redução das arboviroses, que poderá ser escalonada nos próximos anos para mais municípios brasileiros com a construção de novas biofábricas”, reforça Vinhal.

Curitiba foi selecionada para sediar o evento porque, além de dois municípios do estado do Paraná serem beneficiados com a tecnologia (Foz do Iguaçu e Londrina), a maior fábrica de Wolbitos do mundo está em construção na capital paranaense. Um dos painéis mais esperados falava justamente da expansão do Método Wolbachia com a Wolbito do Brasil, companhia criada pela parceria entre o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), vinculado à Fiocruz, e a World Mosquito Program Brasil  já deu início à construção da maior fábrica do mundo de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia (Wolbitos) para controle de arboviroses, em especial a dengue, chikungunya e zika.

A expectativa é que a inauguração da biofábrica em Curitiba seja realizada no início do próximo ano. A construção segue dentro do cronograma esperado para que seja possível atender toda a demanda do Ministério da Saúde. Na oportunidade também foi falado sobre a construção de uma outra biofábrica no Ceará.

“Foi uma satisfação imensa, poder ver e refletir tanto sobre o que já foi feito, quanto conquistado ao longo desses 10 anos. Foi muito importante para a equipe do WMP, para o Ministério da Saúde e para a Fiocruz. Foi positivo para que todos entendessem as etapas e complexidades dos processos que envolvem o Método Wolbachia. Esperamos repetir o evento nos próximos anos. Um dos pontos mais esperados foi sem dúvida, as expectativas e preparativos para expansão nos próximos anos, a Wolbito do Brasil, essa grande biofábrica, que está sendo construída em Curitiba e que irá atender o Ministério da Saúde e Fiocruz. Além disso, a construção de uma nova biofábrica no Ceará. Foi muito positivo”, reflete Moreira.

Vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger participou remotamente do evento e comentou sobre os 10 anos de projeto no Brasil. “Para a Fiocruz, nós estamos celebrando porque é um projeto muito importante para nós. Tanto pelos resultados que já tivemos, quanto pela participação da Fiocruz desde o início do projeto, através do pesquisador Luciano Moreira. Esses 10 anos marcam um momento de inflexão do projeto, em que agora a gente vai dar escala e transformar isso em uma ferramenta de controle das arboviroses no Brasil”, conta Krieger. 

Expansão do Método Wolbachia no Brasil

Com sede na cidade de Curitiba (PR), a biofábrica da Wolbito do Brasil está sendo construída na área do Parque Tecnológico da Saúde, onde já se encontram instituições que trabalham no setor saúde, como a Fiocruz, o Tecpar e o IBMP. A Biofábrica contará com uma área de aproximadamente 3.000 m² e equipamentos modernos para automação e produção em larga escala dos Wolbitos. A previsão é que ao longo de 10 anos de atividade, aproximadamente 140 milhões de brasileiros possam ser beneficiados com a implementação do Método em diversos municípios do país.

Histórico

A Wolbachia é uma bactéria presente em aproximadamente de 60% dos insetos no mundo. Em laboratório, os pesquisadores do WMP conseguiram introduzir esta bactéria, que foi retirada da mosca-da-fruta, dentro dos ovos de Ae. aegypti. Foi comprovado que, quando a bactéria está presente no mosquito, estes vírus não se desenvolvem bem, reduzindo a sua transmissão.

O WMP iniciou os estudos no Brasil em 2012 através da Fiocruz. Em 2014 tiveram início as liberações nas áreas piloto, Jurujuba, em Niterói, e Tubiacanga, bairro da cidade do Rio de Janeiro. As últimas liberações de mosquito nesses locais foram realizadas em janeiro de 2016 e, desde então, o monitoramento tem revelado o estabelecimento da Wolbachia superior a 90% em relação ao Aedes transmissor da dengue. 

Em abril de 2019, o Ministério da Saúde anunciou uma 1a fase de expansão nacional do Programa através do aporte de recursos para a implementação do programa para três novos municípios brasileiros: Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE). As liberações nestes três municípios foram encerradas no final de 2023. A implementação de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia no município de Belo Horizonte vem sendo realizada como parte do estudo controlado randomizado (RCT, sigla em inglês) em parceria com o Professor Mauro Teixeira da Universidade Federal de Minas Gerais. No ano passado, Niterói foi o primeiro município brasileiro a ter seu território totalmente coberto pela tecnologia, com impacto significativo na redução dos casos de dengue na cidade.

Novos municípios

O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, anunciou a implementação do Método Wolbachia em seis novos municípios de acordo com indicadores epidemiológicos e entomológicos que já estão com atividades em andamento: Joinville (SC), Foz do Iguaçu (PR), Londrina (PR), Presidente Prudente (SP), Uberlândia (MG) e Natal (RN). Ao todo, 1.7 milhão de pessoas nestes municípios serão protegidas.

Voltar ao topo Voltar