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29/10/2020

Pesquisadores debatem em curso dimensões do acesso à água

Nathalia Mendonça, sob supervisão de Luiza Gomes (Cooperação Social Fiocruz)


O curso Saúde, Saneamento Ambiental, Recursos Hídricos, Meio Ambiente e Produção Audiovisual encerrou (15/10) sua programação de encontros virtuais, ministrados entre setembro e outubro. As aulas foram realizadas pelo Observatório da Bacia Hidrográfica do Canal do Cunha, em parceria com pesquisadores e profissionais da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icicit/Fiocruz) e Cooperação Social da Presidência. As atividades chegaram a envolver 25 jovens moradores de territórios da Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara, periferias cariocas e da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro.

Os temas abordados, circunscritos ao campo da Saúde Pública, privilegiaram as dimensões da qualidade dos recursos hídricos, o saneamento básico e ambiental e o acesso à água, as desigualdades sociais, as políticas públicas relacionadas e seus espaços de participação social, e a produção audiovisual. Esse ano, as aulas teóricas foram ministradas de forma remota pelas pesquisadoras da Ensp/Fiocruz Adriana Sotero Martins, Bianca Diele, Maria José Salles, Natasha Berendonk Handam e Priscila Gonçalves Moura; também participaram Paulo Lara, do Icict/Fiocruz, e Rejany Ferreira, da Cooperação Social da Presidência.

As aulas foram conduzidas a partir da troca entre pesquisadores e os participantes com base em experiências pessoais, leitura de trabalhos acadêmicas, diagnósticos socioambientais, análises de conjuntura, consulta de dados e documentos, e análise de documentários já produzidos na chave da saúde ambiental. Entre os últimos, teve destaque o É Rio ou Valão?, realizado com jovens estudantes de escolas públicas da cidade do Rio de Janeiro, pelo Observatório da Bacia Hidrográfica do Canal do Cunha em parceria com a ONG Verdejar Socioambiental e com a Fiocruz.

Diante do cenário de crise hídrica no Estado do Rio de Janeiro resultante da contaminação das águas no início do presente ano, a necessidade da compra de água mineral foi um dos principais assuntos debatidos em aula. Com a alta dos preços de galões, a água potável se tornou uma realidade inalcançável para pessoas que vivem em territórios socioambientalmente vulnerabilizados.

Garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água potável e do saneamento para todos é o sexto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de uma lista de 17 metas globais estabelecidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Em contradição com esse objetivo e com a ótica da saúde pública – que contempla a dimensão ambiental -, os territórios de periferia e favelas enfrentam uma realidade bastante diversa com relação ao saneamento básico, em geral, e ao acesso à água potável, em particular.

Segundo o documento Água Doente, elaborado pelo Programa para o Meio Ambiente das Nações Unidas, mais pessoas morrem pelo consumo de água contaminada do que por violência. Maria José Salles, pesquisadora e coordenadora de disciplinas nos cursos de especialização do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da Escola Nacional da Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), destacou: “Universalizar o acesso à água significa que, além de atender quem já está atendendo, nós temos que chegar junto daqueles que necessariamente não tem domicílio fixo como residência, aqueles que  necessariamente não contam com instalações para fazer higiene pessoal e aqueles que não dispõem de recursos para pagar”.

Enxergar e transformar um direito em mercadoria pode trazer consequências graves que excluem pessoas em situação de risco, segundo ela. Em um dos encontros, a pesquisadora também levantou a discussão que tem sido motivo de preocupação de profissionais e pessoas que defendem a necessidade da universalização. 

“Um exemplo é esse modelo de privatização da Cedae que estamos assistindo, em que as favelas, as quebradas, as periferias e os pequenos municípios estão de fora. Enquanto você tem em países europeus os 10% , os 20%, 2% ou 1% que fica à margem porque esses já têm o serviço de outra forma: é uma área rural, um serviço individual; o nosso 1% que está fora da cobertura mora na favela, mora na periferia”, ponderou.

Gersyanne Oliveira, aluna do curso reafirmou a importância da experiência adquirida. “Aprendemos como identificar se um corpo hídrico é um rio, quando é um valão e não simplesmente reclamar sobre o odor característico; nem simplesmente trazer esse peso de responsabilidade somente para a população. População essa, que foi privada da conscientização e educação. Precisamos entender que com uma boa conversa e com várias outras iniciativas a gente pode sim, trazer esperança e a restauração de nossos rios”.

Segundo Rejany Ferreira, do Observatório da Bacia Hidrográfica do Canal do Cunha, o curso propõe a análise crítica e discussão sobre água e saneamento de uma forma que aproxima pessoas da questão política e social. “Pensamos esse curso com o objetivo de provocar debates e engajamento na defesa do acesso suficiente, seguro e sustentável à água respeitando a realidade e singularidade de cada território. Nesse sentido, a produção audiovisual dá suporte e estimula os participantes a atuarem ativamente na denúncia e esclarecimento sobre situações socioambientais do território onde vivem e atuam”, explicou. 

O curso também teve o apoio do Museu da Vida da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), contando com a participação de bolsistas envolvidos em seus projetos. Os trabalhos audiovisuais de conclusão de curso serão disponibilizados na página do Facebook do Observatório da Bacia Hidrográfica do Canal do Cunha. 

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