O ano de 2018 foi de grandes conquistas para a ciência e a saúde pública brasileiras. Para lembrar esses momentos, pelo sexto ano seguido a Agência Fiocruz de Notícias (AFN) reúne em uma área especial as reportagens mais importantes do ano passado, que abordam projetos e iniciativas da Fiocruz. São 50 matérias selecionadas entre as centenas de notícias das unidades da Fiocruz em todo o Brasil: na sequência ao lado, estão as Dez Mais de 2018; abaixo, estão reunidas mais 40 reportagens relevantes, publicadas de janeiro a dezembro na AFN. Relembre também as retrospectivas dos outros cinco anos anteriores. Confira ainda o especial da AFN sobre os 100 anos do Castelo Mourisco da Fiocruz [1].
Em janeiro, a 14ª reunião do Grupo Executivo do Complexo Industrial da Saúde (Gecis), do Ministério da Saúde, anunciou a aprovação de 25 novas Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) de medicamentos essenciais para o SUS [2]. No mesmo mês, o Governo de São Paulo autorizou o repasse de R$ 12 milhões do Fundo Estadual Científico e Tecnológico à Fiocruz [3], visando à implantação da primeira fase do projeto de desenvolvimento e produção de dispositivos para o diagnóstico molecular de zika, dengue e chikungunya, incluindo a diferenciação entre os quatro sorotipos do vírus da dengue. Também na área de arboviroses, a Fundação lançou um curso sobre chikungunya em inglês e espanhol [4]. Aberto e gratuito, o curso está disponível na plataforma do Campus Virtual de Saúde Pública da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).
No mês de fevereiro, um estudo da Fiocruz Amazonas fez um alerta [5]: mudanças climáticas, destruição de ecossistemas, desmatamento e urbanização contribuem para o aumento de várias doenças infecciosas, como dengue, febre amarela, malária, tripanossomíases, leishmaniose e leptospirose. A revista The Lancet Global Health publicou um artigo, assinado por um pesquisador da Fiocruz Bahia, entre outros cientistas, que lançou a hipótese [6] de que a infecção do vírus zika, transmitido principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, pode gerar imunoproteção contra o vírus da dengue. A AFN também destacou a iniciativa internacional que propõe uma estratégia absolutamente diversa da que tem sido adotada ao combate dos riscos virais [7]. O Centro de Desenvolvimento de Tecnologias em Saúde (CDTS/Fiocruz) faz parte de projeto que busca pandemias globais.
Em março foram divulgados os resultados de uma pesquisa desenvolvida pela Fiocruz Paraná [8] que abriram novas perspectivas para o tratamento de câncer, em especial da Leucemia Linfóide Aguda (LLA). A Fiocruz e outras instituições deram início a uma atuação conjunta visando fortalecer a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação, em Minas Gerais e no país, no enfrentamento da febre amarela [9]. Ainda no campo das parcerias, uma reunião da diretora-geral da Opas, Carissa Etienne, com a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, reafirmou a colaboração estratégica entre as duas instituições [10] e abordou a instalação de uma Comissão de Saúde para discutir as lacunas de Alma Ata. Outro destaque foi que o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) passou a oferecer novo medicamento contra tuberculose [11]. Neste mês, a Fiocruz ainda lançou uma pós-graduação para o Complexo Industrial da Saúde [12].
Um dos destaques de abril foi a capacitação, pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), de profissionais de saúde de 14 estados no diagnóstico de sarampo [13]. Outro foi o acordo assinado entre o Governo de Minas Gerais e a Fiocruz [14] que prevê uma cooperação técnico-científica para promover projetos de pesquisa e ensino, o desenvolvimento tecnológico e produtivo em diversas áreas da saúde. No mesmo mês, a AFN divulgou uma inovação em diagnóstico molecular [15] idealizada pelo IOC/Fiocruz e desenvolvida em parceria com a Universidade de Bonn que permite diferenciar, com precisão e mais agilidade, se a origem do caso foi uma transmissão comum ou um evento adverso após a vacinação. A Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) e a Fiocruz assinaram um acordo de cooperação internacional [16] voltado ao cumprimento da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Uma das primeiras notícias de maio foi uma descoberta que surpreendeu até especialistas [17]: pesquisadores do IOC/Fiocruz e da UFRJ identificaram, de forma inédita, que molhos prontos para salada – comumente utilizados em refeições – estavam sendo deteriorados por uma espécie de bactéria que costuma estar presente no solo. Outro estudo, conduzido por pesquisadores da Fiocruz Minas, mostrou que mosquitos Aedes aegypti que carregam a bactéria Wolbachia têm a capacidade reduzida de transmitir o arbovírus Mayaro [18]. Da Bahia veio outra boa notícia: pesquisadores da Fiocruz na unidade sediada no estado avaliaram positivamente o teste rápido que oferece diagnóstico de leptospirose em 20 minutos [19], em artigo publicado na revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases. Uma pesquisa da Fundação Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado em parceria com a Fiocruz Minas mostrou que o Aedes aegypti pode ser infectado simultaneamente por vírus da zika e da dengue [20]. Ainda em maio, a Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) deu início às obras para a preservação do sítio arqueológico [21] do antigo Complexo de Incineração de Lixo Urbano da cidade do Rio de Janeiro, construído no final do século 19.
Junho começou com a premiação da pesquisadora Patricia Brasil, que foi a vencedora do Prêmio Científico Christophe Mérieux 2018 [22], oferecido pela Fondation Christophe et Rodolphe Mérieux e pelo Institut de France. A Fiocruz lançou uma campanha para combater a tuberculose nos presídios [23], com ações de educação em saúde. E um artigo apontou o crescimento de 465% no uso de opiáceos no Brasil [24]. Pesquisadores do IOC/Fiocruz apostaram em uma tecnologia baseada em análises químicas por raios infravermelhos que é capaz de agilizar em até 18 vezes e de baratear em até 116 vezes o monitoramento da presença do zika em mosquitos Aedes aegypti [25]. E para combater a influenza, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) produziu mais de 8 milhões de cápsulas do antiviral Oseltamivir 75 mg [26], o mais eficiente contra a enfermidade.
O mês de julho marcou o início das atividades do Polo Industrial e Tecnológico da Saúde do Ceará, com a inauguração da sede cearense da Fiocruz [27]. O espaço abrirá caminhos para que o Ceará se torne referência em pesquisa e desenvolvimento tecnológico e industrial na área da saúde.
Em agosto, a Fiocruz novamente capacitou profissionais de saúde no manejo clínico e na vigilância do sarampo [28]. No mesmo mês, um estudo pioneiro com uma coorte de pessoas vivendo com HIV [29] mostrou que as manifestações clínicas e laboratoriais da infecção por zika nessa população são similares às observadas em indivíduos com a mesma doença, mas com sorologia negativa para HIV. A Fiocruz Pernambuco lançou um aplicativo que aponta onde estão sendo aplicados os recursos da saúde nos municípios [30]. E outro estudo inédito [31] mostrou que a redução de bebidas açucaradas e cereais refinados pode modificar a atuação de receptores de hormônios que produzem a sensação de saciedade. Ainda em agosto, o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) foi um dos dois vencedores na categoria Setor Público do Prêmio Viva Voluntário 2018 [32].
O maior destaque de setembro foi a descoberta de que a dengue, transmitida pelo mesmo vetor e velha conhecida dos brasileiros, pode aumentar em 50% as chances de a criança nascer com problemas neurológicos [33].
Em outubro, o Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, de acesso livre e gratuito e integrado por instituições de ensino e pesquisa de todo o Brasil, uma estratégica única em nível nacional, completou um ano com 7 mil usuários [34] ativos mensalmente. Também em outubro, pesquisadores do IFF/Fiocruz publicaram artigo no periódico internacional Plos One com resultados inéditos [35] que confirmaram a presença de alterações que interferem no funcionamento normal da bexiga em bebês filhos de gestantes infectadas pelo vírus zika durante a gravidez.
Novembro foi o mês de comemorar o centenário do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas [36] (INI/Fiocruz) e de celebrar a parceria entre o Governo de Pernambuco e a Fiocruz [37] com o objetivo de fortalecer o uso da inovação na área da saúde e do desenvolvimento social no estado. Ainda em novembro, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Fiocruz discutiram a candidatura do Castelo Mourisco [38], símbolo da Fundação, a Patrimônio Cultural Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). E a Fiocruz assinou um memorando de entendimento para parcerias com a Swissnex Brazil [39], agência da Secretaria para Educação, Pesquisa e Inovação do governo suíço.
No último mês de 2018 (dezembro), a Fiocruz organizou um seminário sobre febre amarela e chikungunya [40] em parceria com o Conselho dos Secretários Municipais de Saúde, a Associação dos Prefeitos e Municípios do Rio de Janeiro e a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. E um estudo identificou uma variante de rotavírus nas Américas [41].
Texto: Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)