A leishmaniose é uma doença com alto índice de manifestação em Rondônia. Dados da Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa) confirmam que entre 2017 e 2018, foram registrados 2.175 casos, e só em 2019 foram contabilizados 226 registros, no estado. A doença é causada por protozoários parasitas do gênero leishmania, que são transmitidos ao homem pelas fêmeas de flebotomíneos, insetos popularmente conhecidos como mosquito palha. Em Rondônia, até o ano passado, 131 espécies desses insetos tinham sido registradas, mas um estudo recente publicado na revista periódica Brazilian Journal Of Biology [1] destaca quatro novas ocorrências de espécies de flebotomíneos, elevando para 135 o número de espécies, já registradas para o estado de Rondônia.
A descoberta foi descrita pelos pesquisadores Antônio Marques Pereira Junior, Jansen Fernandes de Medeiros, Genimar Rebouças Julião e Adriele Nunes, vinculados ao Laboratório de Entomologia da Fiocruz Rondônia, e pelos pesquisadores Gabriel Eduardo Melim Ferreira e Fábio Resadore, do Laboratório de Epidemiologia Genética. Denominado Novo registro de quatro espécies de flebotomíneos (Diptera, Psychodidae) no Estado de Rondônia, Amazônia Ocidental, o estudo envolve coletas desses insetos realizadas em várias localidades de Rondônia, incluindo a reserva biológica de Jaru, localizada entre os municípios de Vale do Anari e Ji-Paraná, o Parque Estadual de Guajará-Mirim, localizado entre os municípios de Nova Mamoré e Guajará-Mirim, e a Floresta Nacional do Jamari, que fica no município de Itapuã do Oeste.
Algumas espécies de flebotomíneos têm importância para a área médica porque são vetores de protozoários que causam as leishmanioses em Rondônia e, no Laboratório de Entomologia da Fiocruz Rondônia, há linhas de pesquisas dedicadas a esses insetos. “Na prática, fazemos coletas para verificar quais dessas espécies são possíveis vetores da leishmaniose e acabamos encontrando algumas que ainda não possuem registros do seu papel na epidemiologia da doença, como é o caso dos novos registros ”, esclarece o pesquisador Antônio Marques.
Embora não se tenha confirmação se as novas espécies são ou não vetores da leishmaniose, o estudo evidencia a diversidade de flebotomíneos no estado, além de reforçar a necessidade de novas pesquisas para que se descubra a importância desses insetos no ciclo de transmissão de algumas doenças.
Descrição científica e localização do registro
Os trabalhos de pesquisa e identificação dos novos registros de quatro espécies de flebotomíneos para Rondônia seguem a seguinte descrição: Brumptomyia mesai, coletada no Parque Estadual de Guajará-Mirim (figura 1A-B); Psathyromyia elizabethdorvalae, coletada no município de Monte Negro (figura 1C); Nyssomyia delsionatali, coletada no município de Cacoal e na Reserva Biológica do Jaru (figura 1D); e Trichopygomyia wagleyi, coletada na Floresta Nacional do Jamari (figura 1F).
Morfologia da genitália masculina das quatro novas ocorrências de espécies de flebotomíneos para o estado de Rondônia
Importância da divulgação em ciência
A leishmaniose é uma doença muito comum em Rondônia e também associada aos espaços de floresta, mas pouco se sabe a respeito do ciclo de transmissão ou dos insetos que atuam como responsáveis pela proliferação do protozoário causador da doença. O coordenador do Programa Estadual de Leishmanioses em Rondônia, José Lima de Aragão, explica que a doença ocorre nos 52 municípios do estado, sendo a terceira em transmissão vetorial e a segunda causada por protozoário. Apenas 10 municípios concentram 56% do número total de notificações do estado, incluindo a capital Porto Velho, e os municípios de Vilhena, Ariquemes, Machadinho do Oeste, Ji-Paraná, Espigão do Oeste, Rolim de Moura, Cujubim, Cacoal e Pimenta Bueno.
Como boa parte da população vive na zona rural, em virtude da atividade agrícola, é importante que se discuta as formas de atuação do inseto que transmite a leishmaniose. “No contexto científico, esta investigação é de grande relevância por tratar-se de uma descoberta que certamente irá nortear novos estudos, além de propor caminhos a pesquisas que já estão em andamento, no Laboratório de Entomologia da Fiocruz Rondônia”, pontua Antônio Marques. Para o pesquisador em Saúde Pública, Jansen Fernandes de Medeiros, o trabalho preenche uma lacuna de conhecimentos relacionados aos vetores de Leishmaniose Tegumentar em Rondônia, tendo em vista a alta incidência de casos e as poucas pesquisas realizadas com os vetores dessa doença.
As leishmanioses são classificadas em dois tipos, a tegumentar americana que pode apresentar as formas clínicas cutânea e mucocutânea, incluindo sintomas como úlceras na pele e mucosas; e a visceral que entre os sintomas apresenta febre de longa duração, perda de peso, anemia, aumento do fígado e baço, entre outros. Nos dois casos, o tratamento é feito com uso de medicamentos específicos, e segundo o Ministério da Saúde o tipo tegumentar é responsável por cerca de 21 mil casos anuais no país. Já o tipo visceral em, em média, 3,5 notificações a cada ano.