Desenvolvido em conjunto por diversas unidades da Fiocruz e entidades parceiras, um novo projeto busca fortalecer ações de reflorestamento, agricultura e cuidado em saúde em territórios indígenas do Nordeste. O estudo é desenvolvido em dois territórios, das etnias Xukuru de Ororubá, em Pernambuco, e Tingui-Botó, em Alagoas. Ambas inseridas no semiárido e vulnerabilizadas pela desertificação e agravamento de problemas de saúde ligados à alimentação. Tendo por base uma pesquisa anterior, desenvolvida com os mesmos parceiros, que resultou, entre outros produtos, na criação de uma plataforma de audiovisual [1]Narrativas Indígenas do Nordeste [1] (NIN).
Iniciado em agosto de 2022, o projeto prevê o desenvolvimento de atividades de educação e comunicação junto aos Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e aos Agentes Indígenas de Saneamento (Aisan). A próxima capacitação será realizada com os AIS e Aisan Tingui-Botó, na segunda semana de março. “A ideia é intensificar processos de recuperação de saberes e práticas tradicionais que avancem na recuperação dos ecossistemas para a produção de alimentos e plantas tradicionais, tornando tanto os ecossistemas como as populações locais mais resilientes”, explica o coordenador do projeto e pesquisador da Fiocruz Pernambuco, André Monteiro.
A adoção de metodologias sensíveis 'co-labor-ativas' - que visam pesquisar “com” os povos e não “sobre” eles – permitirão a esses agentes trabalhar a promoção da saúde numa perspectiva ampliada, que integra os saberes institucionais e os tradicionais. Entre elas as Guianças, assim denominadas pelos Tingui-Botó, e Guianças do Trapiá, como são conhecidas pelos Xukuru de Ororubá, que são turnês guiadas, onde os sábios detentores das tradições e conhecimentos de cura conduzem uma caminhada pelos territórios para promover a troca de saberes a respeito do poder das plantas e da força dos encantados para o equilíbrio espiritual. A partir desses métodos, será feita a identificação e registro das árvores, sementes, cascas e seus usos medicinais e terapêuticos nos territórios, bem como dos processos de degradação ambiental relacionados à saúde.
Estão previstas a criação de estufas de mudas, casas de sementes e planos de manejo ambiental nos dois territórios, assim como a produção de documentários a serem disponibilizados na plataforma de Narrativas Indígenas do Nordeste. A formação e certificação dos Agentes Indígenas de Saúde e dos Agentes Indígenas de Saneamento nos territórios, visando qualificar suas atividades e apoiar suas atuações, resultará na confecção de cadernos de promoção da saúde nesses locais, além da realização mesas redondas e oficinas presenciais e virtuais ao longo de 2023.
Diversas instituições integram esse trabalho. A Fiocruz Pernambuco, por meio do Laboratório de Saúde, Ambiente e Trabalho (Lasat), a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), via Núcleo Ecologias, Epistemologias e Promoção Emancipatória da Saúde (Neepes), a Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz) e os Territórios Indígenas Xukuru de Ororubá (PE) e Tingui-Botó (AL). Colaboram também: a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), o Núcleo Interdisciplinar de Cinema e Educação (Nice) da Universidade Federal de Sergipe, o Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas, a Universidade de Pernambuco/Campus Garanhuns e a VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz. O financiamento é do Programa Inova Fiocruz – edital Encomendas Estratégicas - Saúde Indígena.