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É cada vez maior o número de profissionais interessados em estudar a história da saúde e da medicina – que aborda a origem e evolução dos problemas de saúde, as mudanças nos processos sanitários e sua interação com os contextos sociais, culturais, econômicos e políticos. Um exemplo disso é a rede História da Saúde Pública na América Latina e Caribe (Hispalc), que há cinco anos se comunica virtualmente e participa de congressos. O grupo reuniu os melhores trabalhos apresentados no XXI Congresso Internacional de História da Ciência, realizado na Cidade do México, em 2001, para criar o suplemento Ciência, saúde e poder na América latina e no Caribe, nono volume da série História, ciências, saúde: Manguinhos, publicada pela Casa de Oswaldo Cruz (COC) [1]. Os artigos, apresentados em suas línguas originais, compõem um panorama sobre os múltiplos aspectos da saúde na região. Maria Cristina da Costa Marques nos brinda com a análise das respostas políticas à Aids [2] no Brasil. Segundo ela, a evolução das políticas de saúde em relação ao HIV caracterizou-se por cinco fases diferentes. O período entre meados da década 1970 e 1982 é quando a doença chega ao país; de 1983 a 1986, há um aumento do número de casos e a primeira resposta oficial à Aids por parte do governo de São Paulo. Apesar de reconhecer a doença como um problema de saúde pública, o governo federal não consegue articular uma resposta. A primeira intervenção do governo ocorre entre 1987 e 1989, quando se criou o Programa Nacional de DST/Aids, ainda sem muita articulação entre os estados. Entre 1990 e 1992, houve um retrocesso na implantação de diretrizes. Arbitrariamente, foi nessa época que a distribuição gratuita da medicação necessária ao portador de HIV e pacientes de Aids foi autorizada pelo governo federal. De 1993 até o momento, os acordos internacionais, principalmente com o Banco Mundial, passaram a ser os grandes mantenedores das ações referentes ao confronto com o HIV/Aids. O artigo de Sandra Caponi compara o modo como os pesquisadores argentinos a brasileiros construíram seus programas de estudo sobre as doenças tropicais. Segundo ela, a higiene brasileira e argentina eram herdeiras diretas dos programas e princípios pasteurianos. No entanto, os problemas sanitários que não encontravam respostas nessa agenda, foram respondidos com um novo programa de investigação, que integrava a bacteriologia, a parasitologia e a preocupação com os vetores. A Argentina, por sua vez, preferiu desconsiderar os problemas sanitários típicos de regiões tropicais, que ocorriam nas províncias de Salta, Formosa e Jujuy, e reduziu todos os seus problemas sanitários àqueles que podiam ser pensados no marco da microbiologia, como fazia a Europa. A relação existente entre a tuberculose [3] e a sociedade de Buenos Aires no início do século 20 é tema analisado por Diego Armus. Segundo o autor, vários artistas, entre poetas, dramaturgos, compositores de tango e escritores, relacionam a enfermidade ao universo feminino. São numerosos os exemplos de obras feitas por homens que contam a história de garotas simples, que vão para os centros urbanos em busca de melhores condições de vida, passam a trabalhar em cabarés, conhecem todo tipo de homem e acabam tuberculosas e sozinhas. Ao contrário do que os artistas escreviam, era alta incidência de tuberculose entre os homens. Mesmo assim, o "mito da doença feminina" foi usado até pela imprensa para "manter a mulher no mundo doméstico". Armus argumenta que naquela época havia muitas mulheres trabalhando em fábricas, oficinas e consultórios médicos. Os homens, incomodados com esse progresso, tentam fazer com que parem de deixar suas casas, espalhando o medo em relação à tuberculose. A obra ainda traz artigos sobre o aparecimento da Aids no Peru, as doenças relacionadas à prostituição na Colômbia e a modernização da medicina em Caracas, entre outros. A seção de imagens mostra um conjunto inédito de fotografias sobre ações e campanhas contra malária [4] no início do século 20 no Brasil. História, ciências, saúde: Manguinhos é uma publicação quadrimestral. A assinatura anual da revista pode ser adquirida por R$ 40 (valor individual) ou R$ 60 (valor institucional). Para quem está no exterior, os preços são US$ 40 (individual) e US$ 65 (institucional). Há ainda uma versão online da publicação [5]
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