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01/02/2023

Projeto promove curso para profissionais de saúde de regiões indígenas e produz materiais educativos

Julia Neves (EPSJV/Fiocruz)


A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) vai iniciar, em março de 2023, mais uma turma do Curso de Atualização Profissional em Vigilância e Monitoramento de Populações Expostas ao Mercúrio no Brasil para profissionais de saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena do Rio-Tapajós (DSEI Rio-Tapajós), no estado do Pará. A formação faz parte de uma série de produtos de comunicação e de educação em saúde previstos na pesquisa Impacto do Mercúrio na Saúde de Indígenas Munduruku: Pesquisa-Educação-Serviço, coordenada pela professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz, Ana Claudia Vasconcellos, que também está à frente do curso, em conjunto com o pesquisador Paulo Basta, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz). A pesquisa foi aprovada em 2020 no edital Atenção Primária em Saúde (PMA) do Programa Fiocruz de Fomento à Inovação (Inova Fiocruz).  

O público-alvo e a localização da formação são justificados, segundo Ana Claudia, porque o garimpo contribui fortemente para a contaminação do meio ambiente amazônico e de toda a população que ali vive e consome pescado contaminado. “Priorizamos a população indígena, porque, além de serem submetidas a uma condição de vulnerabilidade pela negligência do Estado, eles consomem grandes quantidades de peixe. E esse consumo do pescado contaminado por mercúrio é a principal via de exposição humana”, aponta, explicando que a ideia do curso foi chamar a atenção dos profissionais em saúde para os sinais e sintomas que são relacionados à exposição humana ao mercúrio. “Assim, esses profissionais podem orientar a população amazônica sobre as formas de diminuir essa exposição e encaminhar essas pessoas para o tratamento médico mais adequado”, acrescenta. 

Em 2021, a formação já tinha sido ofertada a 80 profissionais do DSEI-Rio Tapajós e, em 2022, para 40 profissionais do mesmo Distrito Sanitário. A ideia é que o DSEI-Yanomami receba a formação ainda em 2023. Segundo Ana Claudia, a formação tem o objetivo de contribuir com a reorganização do processo de trabalho das equipes de saúde que atuam em territórios impactados pela atividade garimpeira, onde vivem populações humanas potencialmente expostas ao mercúrio. “Queremos sensibilizar e chamar a atenção dos profissionais em saúde que trabalham na Amazônia brasileira, uma região muito impactada pelo mercúrio, que é utilizado na atividade garimpeira há muitas décadas”, explica.   

Ana Claudia destaca que, além do curso, estão em produção o material didático Mercúrio na Amazônia: Consequências na Saúde e no Ambiente, escrito em português e em Munduruku, além do livro O grito ancestral, escrito em Sawé, pela liderança indígena Daniel Munduruku. As publicações serão lançadas ainda no primeiro semestre de 2023. 

Para Ana Claudia, a informação é uma arma de luta. “Com informação, possibilitamos que as pessoas tomem decisões mais acertadas e, como fazemos pesquisa em instituição pública, é nosso compromisso compartilhar com todos os brasileiros os resultados das pesquisas. É preciso levar conteúdos científicos em outros formatos, como em livros, músicas e filmes, para que qualquer grupo da população, em qualquer parte do país, tenha acesso. É uma forma de democratizar o conhecimento científico”, destaca Ana Claudia. 

Impacto do mercúrio na Amazônia  

A ideia da pesquisa Impacto do Mercúrio na Saúde de Indígenas Munduruku: Pesquisa-Educação-Serviço surgiu em 2019, quando um grupo de estudo, liderado por Paulo Basta, promoveu uma investigação em comunidades do estado do Pará, por demanda da Associação Indígena Pariri e em comunidades do Amazonas. “Pediram nosso apoio para investigar os impactos provocados pela mineração ilegal de ouro e pelo uso extensivo do mercúrio na região, tanto no ambiente quanto nas pessoas”, recorda-se Paulo. 

Entre outubro e novembro de 2019, a equipe da pesquisa realizou um longo trabalho de campo na região. E os resultados foram reveladores. “Durante a pesquisa, coletamos e avaliamos amostras de cabelos de 200 pessoas. E todas elas, independentemente da idade e gênero, estavam contaminadas pelo mercúrio em algum nível”, afirmou. Além disso, Paulo contou que foram coletadas diversas espécies de peixes e todas estavam contaminadas pelo metal. 

A partir disso, a equipe produziu um relatório de pesquisa, com os principais achados, que foi entregue para as principais lideranças da comunidade em outubro de 2020.  

Saude Indigena

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