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26/09/2016

Qualidade no cuidado é tema do 2º Seminário de Segurança do Paciente

Antonio Fuchs e Juana Portugal (INI/Fiocruz)


O que é preciso para inovar na saúde? Altos investimentos? Tecnologia de ponta? Uma mudança no processo de trabalho? O 2º Seminário de Segurança do Paciente, promovido pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) em parceria com as Vice-Presidências de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) e Gestão e Desenvolvimento Institucional (VPGDI) da Fiocruz, nos dias 15 e 16/9, teve como objetivo tentar responder a essas e outras questões. “Aproximadamente 10% dos pacientes internados sofrem algum tipo de evento adverso, mas 50% deles poderiam ser evitáveis. Esse grande número de ocorrências médicas desfavoráveis é uma preocupação cada vez maior para nós e precisamos buscar, sempre, formas inovadoras para evitá-las. Por isso, o tema ‘Segurança do Paciente’ vem ganhando cada vez mais importância nas unidades de saúde”, explicou o coordenador do Núcleo de Segurança do Paciente do INI/Fiocruz e organizador do evento Corsino, ao dar as boas-vindas aos participantes.

A mesa de abertura do evento contou com as presenças do vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel, da vice-diretora de Qualidade e Informação do INI/Fiocruz, Marilia Santini, do diretor do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Carlos Maciel, além de Eduardo Corsino. “A partir do seminário de 2015, onde identificamos a necessidade da Fiocruz de organizar uma diretriz geral para a Segurança do Paciente, levando em conta as especificidades de cada unidade da Fundação que trabalha nessa área, é que pensamos na segunda edição do evento. Queremos, ao longo de dois dias, ouvir relatos das experiências realizadas aqui dentro, bem como de outros municípios e estados brasileiros, para disseminar, ainda mais essa cultura organizacional em prol do paciente”, disse Corsino.

A vice-diretora Marilia Santini ressaltou a importância dada pelo INI/Fiocruz ao tema, que resulta em um contínuo processo de aprimoramento da área, visando minimizar, cada vez mais, os eventos adversos dentro do Instituto. Ainda, segundo a vice-diretora, o aprendizado constante do INI/Fiocruz colabora para disseminar seu conhecimento, ampliando assim a integração entre a Fiocruz e as demais unidades hospitalares brasileiras.

Por contar com dois institutos nacionais (INI e IFF), a Fiocruz tem que ser uma referência no que compete à Segurança do Paciente, destacou o diretor do IFF/Fiocruz, Carlos Maciel. “A preocupação com os eventos adversos é diária e constante e temos que trabalhar para diminuir isso cada vez mais, levando toda expertise adquirida ao longo dos anos por esses dois Institutos para outros cantos do Brasil”, afirmou. Por fim, o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel, lembrou que a qualidade do cuidado e da segurança do paciente tem que ser uma questão central de todo o sistema de saúde brasileiro, seja público ou privado, principalmente nesse momento crítico para as políticas públicas de saúde aliado à falta de investimento. “Isso amplia, ainda mais, o papel da Fiocruz como instituição exportadora das experiências aqui acumuladas para outros locais. Temos que ter em mente que essa crise é um combustível para aumentar nossa capacidade em produzir conhecimentos e inovações para a Segurança do Paciente”, enfatizou.

Comitê Assessor de Qualidade e Segurança do Paciente

As experiências do INI/Fiocruz, do Centro Colaborador para Qualidade e Segurança do Paciente (Proqualis), da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) foram o foco da primeira mesa redonda do seminário Desafios para Formação de Comitê Assessor de Qualidade e Segurança do Paciente da Fiocruz. A assessora técnico-científica do Proqualis, Maria de Lourdes Moura, apresentou os eixos do Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), do Ministério da Saúde, e destacou o papel do Proqualis como Centro Colaborador, criado em 2009, como uma fonte de produção e disseminação de informações e tecnologias em qualidade e segurança do paciente, através das mais variadas formas de interação tecnológica.

A pesquisadora da Ensp/Fiocruz, Lenice Reis, lembrou que o Brasil é um dos pioneiros no estudo de eventos adversos para o mundo, e que a Escola vem introduzindo, nos últimos anos, o tema de segurança do paciente em seus cursos lato e stricto sensu. Adriana Reis, pesquisadora do IFF/Fiocruz, ressaltou os desafios na consolidação do Comitê Assessor de Qualidade e Segurança do Paciente da Fiocruz, em que a formação em saúde, a sensibilização profissional e a cultura de segurança e de prevenção a incidentes em qualquer área devem ser pontos fundamentais a serem abordados e incluídos nas grades curriculares dos cursos ofertados pela Fundação.

Por fim, Eduardo Corsino afirmou que a proposta de se avançar na consolidação desse grupo único, envolvendo o Proqualis e as unidades da Fiocruz que oferecem atendimento médico e ambulatorial, deve ser o foco da Fiocruz no sentido de qualificar e incentivar o profissional de saúde e sensibiliza-lo quanto à importância da segurança do paciente.

Uso da simulação realística

Coordenada por Valéria Fonseca, do Centro de Estudos Estratégicos (CEE) da Fiocruz, a mesa Uso da Simulação Realística no Ensino em Segurança ao Paciente contou com a apresentação de Sayonara Barbosa, professora da Universidade Federal de Santa Catarina. Valéria explicou que a simulação não é uma tecnologia e sim uma metodologia para se chegar a algo, neste caso específico, a segurança do paciente. Esse tipo de trabalho teve início no Brasil por volta dos anos 2000, através de experiências no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e hoje há dois grandes processos de ensino-aprendizagem sendo aplicados na rede privada: no HIAE e no Hospital Sírio-Libanês, destacando a importância de incorporar esse tipo de estratégia no Sistema Único de Saúde.

Sayonara apresentou o trabalho que ajuda a desenvolver na UFSC, propiciando uma modalidade de aprendizagem para substituir ou ampliar as experiências dos estudantes: a simulação realística que se utiliza de protótipos do ser humano para simular os sintomas vividos por um paciente. Os modelos podem ser de baixa, média ou alta fidelidade, emitir sinais e sons muito próximos da realidade enfrentada pelas equipes de enfermeiros ou médicos em um ambiente hospitalar. Ela explicou que esse tipo de simulação pode também ser feita com atores e exemplificou o caso do INI/Fiocruz, quem em 2014 representou o caso de um paciente com suspeita de ebola, gerando uma boa repercussão para a instituição.

Entre os benefícios citados pela professora está a possibilidade de submeter os profissionais que fazem parte da simulação a inúmeras situações cotidianas vividas no atendimento em enfermagem, permitindo assim que a ação seja revista inúmeras vezes e que as correções necessárias sejam feitas. A fase final da simulação, o chamado debriefing, é o momento na qual toda a atividade é avaliada, passando pela descrição do que foi feito, a reflexão e a conclusão, espaço onde é possível reconhecer e gerenciar melhor os possíveis erros ocorridos para que sejam evitados futuramente.

Inovação e Tecnologia em Saúde

Encerrando o primeiro dia de atividades, a mesa Incorporação da Inovação e Tecnologia em Saúde, coordenada pelo vice-diretor de Gestão do INI/Fiocruz, Roberto Reis, enfatizou que a segurança do paciente é apenas uma das vertentes que pode ser beneficiada por essa temática. “A inovação não precisa ser necessariamente uma nova tecnologia ou um novo equipamento que mude radicalmente a rotina de trabalho, mas sim o aprimoramento de um processo”, explicou. Como exemplo de um método inovador, Roberto citou o caso brasileiro da criação do Dia Nacional de Vacinação, uma vez que o país contava com uma baixa adesão nas campanhas de imunização, concentrando todo o calendário anual de vacinação para um único dia, otimizando assim uma política pública existente e aumentando o índice de participação da população.

Em seguida, o assessor da vice-presidência de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Jorge Costa, abordou o papel da Fiocruz na consolidação de um Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) e o seu potencial de contribuir para um modelo de desenvolvimento socialmente inclusivo, tendo como foco as reais necessidades do SUS. Um dos pontos levantados por Jorge Costa foi a importância do campo da Ciência, Tecnologia e Inovação para a produção interna de biofármacos, para que o país passe a depender menos da produção externa. A verba disponibilizada pelo Ministério da Saúde para adquisição de medicamentos é consumida 39% na compra de fármaco/sintéticos e 61% na compra de biofármacos. Para Costa, a importância da Ciência, Tecnologia e Inovação é evidente neste caso, quando se pensa que investindo na pesquisa básica e na descoberta de novos produtos é possível ampliar a produção interna de novos produtos, tornando o país menos dependente da produção externa.

O assessor da vice-presidência destacou ainda a publicação A Saúde no Brasil em 2030: diretrizes para a prospecção estratégica do sistema de saúde brasileiro, fruto do projeto Saúde Brasil 2030, conduzido pela Fiocruz mediante acordo de cooperação técnica com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), com participação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e convênio pactuado com o Ministério da Saúde, cujo objetivo principal é a constituição de uma rede permanente de prospectiva estratégica no campo da saúde pública.

Confira a cobertura do segundo dia do evento.

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