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03/01/2007

Risco de distúrbios psíquicos é alto entre professores de Belo Horizonte

Fernanda Marques


Uma alta prevalência de transtornos mentais entre professores de ensino fundamental da rede municipal de Belo Horizonte foi identificada por pesquisadoras da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Publicado na edição de dezembro da revista Cadernos de Saúde Pública, o estudo investigou cerca de 750 docentes, que responderam a um questionário internacionalmente reconhecido para rastrear disfunções psíquicas. Um em cada dois professores estava em risco de apresentar algum tipo de transtorno mental.


A pesquisa indica que as alterações psíquicas dos docentes estão associadas às experiências de violência nas escolas. Episódios de hostilidade envolvendo alunos foram citados por 74% dos professores. Casos de agressão protagonizados por pais de alunos ou colegas de trabalho foram relatados por 57% e 15% dos participantes do estudo, respectivamente. Os resultados estão de acordo com os obtidos em outros estudos no Brasil e no mundo.


“A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) relatam um aumento progressivo da violência nas instituições escolares em todo o mundo e interpretam a violência escolar como expressão de fenômenos como a globalização e a exclusão social. A violência no Brasil tornou-se uma situação social grave e esse contexto tem repercussões importantes no trabalho, sendo uma fonte importante de estresse nas escolas”, diz o artigo, assinado pelas médicas Sandra Maria Gasparini, Sandhi Maria Barreto e Ada Ávila Assunção. Percepção negativa sobre o trabalho e piores condições do ambiente físico da escola são outros fatores associados aos transtornos mentais dos docentes.


A pesquisa foi dividida em duas etapas. Na primeira, as pesquisadoras se reuniram com a diretoria do Sindicato Único dos Trabalhadores de Ensino e entrevistaram profissionais da Gerência de Saúde e Perícia Médica. A segunda fase consistiu na aplicação dos questionários aos professores. Na maioria dos casos, a coleta dos dados foi feita nas escolas, no horário de recreio ou de reunião pedagógicas.


A rede municipal de Belo Horizonte é composta por 182 escolas, distribuídas por nove seções regionais. Exceto os professores de educação física e os licenciados, todos os 792 docentes do 1º ao º 3º ciclos das 26 escolas de ensino fundamental da Regional Nordeste foram convidados a participar do estudo, e somente 41 se recusaram. Os participantes eram, em sua maioria, mulheres jovens.


Ter pouco tempo para preparar as aulas e corrigir trabalhos foi queixa comum dos docentes, assim como a falta de autonomia e criatividade no exercício da profissão. Embora o uso de televisão e vídeo fosse satisfatório, quase 90% dos participantes da pesquisa julgavam o número de computadores nas escolas insuficiente para os alunos. Somam-se a isso problemas de ruído, ventilação e iluminação nas salas de aula.


Todas essas questões estão relacionadas ao risco de professores desenvolverem transtornos mentais. “A falta ou escassez de recursos materiais e condições adversas no ambiente de trabalho incidem diretamente sobre a ação docente, sendo considerados como fatores geradores de tensões negativas em sua prática cotidiana. A carência de recursos observada torna-se contraditória às diretrizes do sistema educacional que promovem uma renovação metodológica, sem, ao mesmo tempo, suprir os professores dos recursos necessários para atendê-las”, diz o artigo.


O mundo do trabalho, em geral, e as atividades docentes, em particular, têm sofrido progressivas transformações. Além de maior escolaridade, exige-se do profissional, cada vez mais, flexibilidade e capacidade de decidir, entre outros atributos. Contudo, nem sempre as exigências vêm acompanhadas por melhorias das condições de trabalho. Isso pode estar na origem do adoecimento mental de professores e outros profissionais, levando, em certos casos, ao afastamento do serviço. Já em 2001, os distúrbios psíquicos eram a terceira principal causa de concessão de benefício previdenciário, segundo estatísticas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

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