Foi num vagão do trem da Leopoldina que o jovem engenheiro português Luiz Moraes Júnior conheceu Oswaldo Cruz. Naquela época, o Instituto Soroterápico Federal acabara de ser criado e Luiz Moraes fazia, cotidianamente, o percurso dos técnicos de Manguinhos, pois trabalhava na reforma da Ermida da Penha. A partir daí, mal sabia ele que o seu destino iria se entrelaçar intimamente ao de Oswaldo Cruz e ao conjunto arquitetônico de Manguinhos, onde se destaca a obra do Castelo Mourisco, hoje símbolo da Fiocruz. Luiz Moraes nasceu em Faro, capital da província de Algarve, em 28 de janeiro de 1868. Era filho de Luiz Moraes e de Eugênia Amélia da Fonseca Morais. Graduou-se como engenheiro civil, casou-se e teve sua primeira filha. Porém, pelo que consta, não foi feliz no casamento, o que o teria levado a emigrar para o Brasil com 32 anos. A princípio, Luiz Moraes veio para o Rio de Janeiro como técnico de uma firma alemã, ao que parece contratada para executar obras de restauração do Mosteiro de São Bento. Resolveu fixar-se aqui, por conta própria, contando certamente com o apoio de parentes, que lhe facilitaram o acesso à colônia portuguesa e às construções eclesiásticas. Ele era sobrinho do Visconde de Moraes, um dos negociantes mais ricos e influentes do Rio de Janeiro e parente do vigário-geral da Penha, com quem obteve o seu primeiro trabalho como arquiteto independente, em 1900. Ao fazer amizade com o pessoal do Instituto Soroterápico Federal, Luiz Moraes passou a conhecer de perto o trabalho que os pesquisadores faziam no laboratório na Fazenda de Manguinhos. Sua vida profissional mudou tanto quanto a de seus companheiros, quando Oswaldo Cruz assumiu, em março de 1903, a Diretoria Geral de Saúde Pública. Desde então, Moraes tornou-se artifície não só do conjunto arquitetônico de Manguinhos, como também de todas as instalações criadas ou reformadas por Oswaldo Cruz, no seu esforço de modernizar o sistema sanitário do Rio de Janeiro.
Durante os sete anos em que Oswaldo Cruz esteve à frente da Saúde Pública e nos 15 anos em que dirigiu o Instituto batizado com seu nome, Luiz Moraes acumulou experiência notável em construção civil nos campos da arquitetura hospitalar, sanitária e médico-experimental. Entre os inúmeros trabalhos realizados por Luiz Moraes, além do conjunto arquitetônico de Manguinhos, destacam-se a sede da Policlínica do Rio de Janeiro, na antiga Avenida Central, hoje Rio Branco, a residência da família Oswaldo Cruz, na Praia de Botafogo, ambas demolidas; o Pavilhão Visconde de Morais, na Beneficiência Portuguesa, hoje totalmente descaracterizado; a conclusão das obras do Desinfectório de Botafogo, na Rua General Severiano, atual Hospital Rocha Maia; os Dispensários da Fundação Gaffré Guinle; o prédio do jornal Tribuna de Petrópolis; a reforma do Hospital do Engenho de Dentro (reforma); e o túmulo de Oswaldo Cruz no Cemitério São João Batista. Fonte e fotos: Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). |
Um português em estilo mourisco
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