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07/12/2007

Vacinação contra hepatite B em índios tem bons resultados, mas precisa melhorar

Fernanda Marques


Um estudo veiculado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz avaliou a prevalência da infecção pelos vírus das hepatites B e D em comunidades indígenas do grupo parakanã, que habita entre os rios Xingu e Tocantins, nos municípios de Altamira e São Félix do Xingu, no sudoeste do Pará. Na aldeia Apyterewa, 55,7% dos indivíduos já haviam tido infecção pelo vírus da hepatite B e 5,4% se encontravam infectados no momento da pesquisa. Já na aldeia Xingu, havia 49,5% casos de infecção pregressa e 1,1% de portadores do vírus na ocasião do estudo. Nas duas comunidades, esses percentuais foram inferiores aos observados em inquérito realizado cerca de uma década antes. A redução é resultado de medidas preventivas contra a hepatite B, como a vacinação. No entanto, de acordo com o artigo, a cobertura vacinal ainda precisa melhorar.


 Crianças em aldeia do povo parakanã (Foto: Eletronorte)

Crianças em aldeia do povo parakanã (Foto: Eletronorte)


Na pesquisa, foram incluídos 258 indígenas, que correspondem a 77,5% da população das aldeias Apyterewa e Xingu. Quanto à hepatite D, não foram detectados casos nas aldeias pesquisadas, o que sugere que esse vírus ainda não foi introduzido naquelas comunidades. O vírus da hepatite D (HDV) necessita da presença do vírus da hepatite B (HBV) para provocar infecção. Estima-se que, no mundo, dos 350 milhões de portadores crônicos do HBV, cerca de 18 milhões estejam infectados também pelo HDV. As infecções por HBV e HDV podem causar formas graves de doença aguda ou crônica do fígado e representam sério problema de saúde pública. No Brasil, alta endemicidade de HBV é encontrada na Amazônia, no Espírito Santo e no oeste de Santa Catarina.


No inquérito realizado em 1995 nas aldeias Apyterewa e Xingu, havia portadores do vírus da hepatite B a partir de 3 anos de idade e a faixa etária de maior prevalência da infecção era de 30 a 39 anos. No estudo mais recente, observou-se que só havia portadores acima de 10 anos de idade e a maior prevalência foi em indivíduos com idade maior que 40 anos. Ou seja: constatou-se um deslocamento da infecção para faixas etárias mais velhas. Existe, portanto, “a possibilidade de, em longo prazo, ocorrer a redução dos portadores desse vírus nas populações, caso medidas de prevenção sejam mantidas nas comunidades”, diz o artigo.


Sobre prevenção, o artigo mostra, ainda, que quase 90% dos indígenas participantes da pesquisa tinham recebido três doses da vacina contra hepatite B. Além disso, houve 100% de cobertura vacinal nas faixas etárias de 3 a 4 anos, 10 a 19 anos e 40 anos ou mais. No entanto, detectou-se ausência do esquema completo de vacinação entre bebês menores de 1 ano de idade, que deveriam receber uma dose logo após o nascimento, nas primeiras 12 horas de vida. Esse achado reforça “a necessidade de reavaliar o programa de vacinação contra a hepatite B, nas aldeias investigadas, com o objetivo de melhorar a cobertura vacinal”, destaca o artigo, assinado por Heloisa Nunes e Manoel Soares, do Instituto Evandro Chagas, em Belém, e por Maria Rita de Cássia Monteiro, da Universidade Federal do Pará.


Nas aldeias Apyterewa e Xingu, a transmissão sexual do HBV parece ser significativa, pois há indivíduos potencialmente transmissores em idade sexualmente ativa, além de as práticas sexuais serem iniciadas precocemente e, às vezes, com múltiplos parceiros. A perfuração de lábios e orelhas para colocação de adornos, com compartilhamento de utensílios cortantes, e as viagens para fora da área indígena, mais comuns entre os homens, são outros aspectos que favorecem a transmissão do HBV.

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