Início do conteúdo

12/09/2006

Vice-diretora da EPSJV analisa a concessão da Medalha Tiradentes à instituição

Fernanda Buarque de Hollanda


Nesta segunda-feira (11/09) os profissionais e alunos da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), uma unidade da Fiocruz, estiveram na Sala das Comissões do Palácio Tiradentes, na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), em cerimônia de condecoração da instituição. No local houve a entrega da Medalha Tiradentes, maior honraria conferida pela Alerj, cuja concessão necessita de aprovação do plenário e de todas as comissões da Casa. Entre os presentes à cerimônia esteve a vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da EPSJV, Isabel Brasil. Nesta entrevista, ela aponta os possíveis motivos para o reconhecimento obtido pela instituição e analisa o que representa para a Escola receber a Medalha Tiradentes.


Única escola federal do país voltada exclusivamente para a educação profissional em saúde, a EPSJV foi oficializada em agosto de 2004 como Centro Colaborador da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a Educação de Técnicos em Saúde. Criada em 1985, a Escola tem como objetivo articular o ensino, a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e a cooperação técnica em benefício da melhoria da qualidade dos serviços da saúde. Leia mais sobre a Escola Politécnica no sítio www.epsjv.fiocruz.br.


Uma das principais condecorações do Estado do Rio de Janeiro, a Medalha Tiradentes é concedida a personalidades e instituições nacionais e estrangeiras que, de alguma forma, tenham prestado serviços ao estado, ao Brasil ou à Humanidade. De que maneira a Escola Politécnica está cumprindo este papel?


Isabel Brasil: O principal objetivo da EPSJV, unidade técnico-científica da Fiocruz, é promover, em âmbito nacional, a educação profissional em saúde, voltada aos trabalhadores de nível médio e fundamental. E vem cumprindo esse papel buscando influenciar as políticas locais e nacional, elaborando e realizando programas e projetos de ensino, pesquisa e D&T e demais ações, sempre norteada por um projeto de formação na sua dimensão técnica, ético-política, como parte de um projeto de sociedade que tenha como meta a transformação do existente, infelizmente traduzido pelo cenário do capitalismo tardio do nosso país. Neste caminho, a EPSJV não ignora, portanto, que cumprir este papel de formação técnica em saúde é também recuperar o significado e a importância destes profissionais no processo de trabalho em saúde, o que significa lutar contra o esquecimento produzido por essa formação histórica chamada capitalismo, que hierarquiza e produz a divisão social das formas do trabalho.


O que representa para a instituição receber a Medalha Tiradentes?


Isabel: O reconhecimento é uma das formas de estimular as instituições e os trabalhadores e alunos que as inventam e reinventam a prosseguir na sua caminhada. No caso da EPSJV, rumo a um projeto de educação de trabalhadores que institui e é instituído por maneiras de negar, conservar e superar formas históricas de se pensar a formação humana. Desse modo, receber a Medalha Tiradentes é receber o reconhecimento de uma instituição que deve ter como finalidade ser expressão maior de uma das formas da democracia.


Este ano, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do Ministério da Educação, disponibilizou um levantamento inédito das médias obtidas pelos participantes do Enem, por escola e por município, que demonstrava que a EPSJV obteve a melhor nota entre as instituições públicas de ensino. Você acredita que a divulgação deste resultado e a concessão da Medalha Tiradentes poderão contribuir para que a Escola cumpra seu papel com maior eficácia? Por quê?


Isabel Brasil: O resultado do Enem tem importância, pois aponta (pela forma de avaliação traçada pelo próprio Inep) uma vitória e a possibilidade do ensino público. Neste sentido, não há dúvida que o resultado ajuda a EPSJV em sua finalidade. É de grande pertinência ressaltar que o papel da EPSJV, assim como outras escolas públicas, como os Cefets, os CAPs e o Pedro II, demonstra no dia-a-dia que a escola pública, gratuita e estratégica é viável e condição inexorável para ajudar na construção de uma sociedade mais igualitária e democrática, na medida em que, por ser pública, tem como premissa ser o lugar de todos, por ser gratuita, garante o acesso, e por ser estratégica exige projetos qualificados. Portanto, este resultado e os resultados negativos apresentados por escolas públicas de esferas estaduais e municipais trazem com eles uma verdade inquestionável: a escola pública é o lugar privilegiado de formação qualificada e só deixa de ser quando não há condições objetivas (leia-se investimentos governamentais, financeiros e de projetos).


Em que medida as diversas atribuições da Escola - tais como ser a Secretaria Executiva da Rede Internacional de Técnicos em Saúde e sediar a Estação de Trabalho do Observatório de Técnicos em Saúde, além dos projetos e atividades que desenvolve e desenvolveu, como o periódico científico Trabalho, Educação e Saúde e o Fórum Internacional de Educação de Técnicos em Saúde - influenciam na boa formação dos alunos e em conseqüência no reconhecimento obtido pela instituição como a Medalha Tiradentes?


Isabel: Na EPSJV, a produção e a difusão de conhecimentos nas diversas áreas da ciência se associam aos conhecimentos específicos que estruturam a formação técnica. Seus cursos são formulados tendo como referência o processo de trabalho em saúde e as necessidades próprias da formação de profissionais para a produção de ciência e tecnologia em saúde. Projeto singular e hoje já adotado em outras instituições é a formação do jovem pesquisador ainda no Ensino Médio (projeto Trabalho, Ciência e Cultura e Programa de Vocação Científica). Essa atividade em particular e a formação como um todo são enriquecidas e estimuladas pelas acima citadas atribuições da EPSJV. No mesmo sentido, a formação docente - um dos eixos que a EPSJV persegue e realiza através de programas de pesquisa e ensino para docentes - é também qualificada por essas ações. Ou seja, o conjunto de atividades desenvolvidas pela EPSJV no âmbito já mencionado se articula em projetos dentro e para além dos muros da instituição. Como exemplo, o Fórum Internacional de Educação de Técnicos em Saúde, realizado em agosto, no Rio de Janeiro, articulado ao Congresso da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), trouxe experiências de educação profissional em saúde desenvolvidas em diversos países, dentre eles Cuba e Venezuela. Esses conhecimentos, certamente, são indispensáveis para instituições voltadas à formação em saúde. Resumindo, o que não dá para ser resumido, pois é projeto, portanto sempre em construção, as atividades aqui desenvolvidas e as que virão terão sempre que ser articuladas e afinadas por um sentido de formação omnilateral, onde desde o cotidiano escolar (o lócus mais importante do ensino) até as atividades internacionais articulem ciência, ética e política como condição de projeto de formação humana e, portanto, de sociedade.

Voltar ao topo Voltar