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11/11/2005

Virilidade contra a saúde

Sarita Coelho






Apesar de a morte entre os homens ser maior do que entre as mulheres em todas as faixas etárias, eles raramente procuram atendimento nos serviços de saúde. A razão para esta omissão, segundo uma pesquisa apresentada na 13ª Reunião Anual de Iniciação Científica da Fiocruz, pode estar relacionada com a idéia de "ser homem" presente no imaginário social. O estudo feito com 18 homens maiores de 40 anos de diferentes níveis de escolaridade residentes na Região Metropolitana do Rio de Janeiro apontou entre as razões deles não procurarem cuidados médicos o fato de os homens darem mais importância para o trabalho do que para a saúde.










André Az/Fiocruz




Fábio Carvalho de Araújo em frente ao pôster de seu trabalho

"Eles se sentem os provedores da casa, aqueles que têm por função social dar o sustendo da família, por isso o trabalho vem em primeiro lugar", explica Fábio Carvalho de Araújo, estudante da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF) e bolsista de iniciação científica da Fiocruz. "No imaginário masculino, ser homem também significa ser forte; expressar a preocupação em cuidar de si pode comprometer essa imagem", completa.


O estudante também mencionou a falta de hábito dos homens em agir preventivamente. "Eles primeiro recorrem à farmácia, aos chás caseiros e só em último caso, quando não conseguem se livrar da dor, buscam um atendimento médico. A questão da virilidade é vista como um grande empecilho na hora de se submeter ao exame de toque retal, medida mais indicada para homens acima de 40 anos na prevenção do câncer de próstata.


"Ser submetido ao exame é constrangedor para homens de todos os níveis de escolaridade", diz Araújo. "O exame fere o que é mais viril no homem, ele vai ser invadido em sua parte traseira, que o iguala à mulher, e assumirá uma posição passiva, geralmente é atribuída à mulher. E existe a possibilidade de ocorrer uma ereção, que é meramente uma reação fisiológica, mas que para o homem representa uma humilhação", explica o estudante.


A pesquisa faz parte de um projeto mais amplo, que tem como objeto investigar as relações entre a construção da masculinidade e o cuidar de si. O próximo passo do estudo será analisar a fala de médicos urologistas. Outra percepção apontada no estudo é a falta de visibilidade das especificidades de uma saúde do homem no campo das políticas de saúde. "Eles sentem falta de um serviço voltado para especificamente para o atendimento dos homens", comenta Araújo.




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