Agência Fiocruz de Notícias

A interação de cinco grupos de pesquisa, que mobilizou quatro instituições diferentes, resultou na publicação do artigo Matrix Metalloproteinases 2 and 9 are Differentially Expressed in Patients with Indeterminate and Cardiac Clinical Forms of Chagas Disease, na revista Infection and Immunity, uma revista Qualis A1. O trabalho surgiu da integração entre pesquisadores de três unidades da Fiocruz, o Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e o Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz Minas), além de outros especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e que ocorreu graças às reuniões do Programa Integrado de Doença de Chagas (PIDC). A pesquisa aponta que o estudo das metaloproteinases pode ser uma nova maneira de se avaliar prognóstico, uma vez que mostra como pacientes com forma indeterminada já têm alterações nos níveis de metaloproteinases que podem estar associados ao desenvolvimento de fibrose, como observado no modelo in vitro. “É possível que talvez surja um biomarcador para fibroses que possa ser útil. Já existem biomarcadores para insuficiência cardíaca que tem a ver com a fibrose, com valor prognóstico”, afirrma o pesquisador Roberto Saraiva. “O estudo pode mostrar, no futuro, que a expressão das metaloproteases pode estar associada com o prognóstico dos pacientes que são indeterminados e que podem evoluir para uma forma cardíaca grave”, complementa a pesquisadora Luciana Garzoni.

A pesquisadora apresentou o modelo de fibrose in vitro induzida pelo Tripanossoma cruzi em culturas 3D de cardiomiócitos em um encontro do PIDC em 2009. No ano seguinte, estabeleceu-se a colaboração desses grupos na Rede de Fisiopatogenia, com o objetivo de testar o efeito do soro de pacientes com doença de Chagas sobre a matriz extracelular no modelo de cultura 3D. O estudo fez parte da tese de doutorado de Rafaelle Gomes Fares, orientada por Rodrigo Correa-Oliveira, que avaliou os níveis de metaloproteases nos diferentes estágios da cardiopatia chagásica crônica.

A cardiomiopatia dilatada crônica (DCM) da doença de Chagas está associada com o remodelamento do miocárdio e fibrose intersticial. No estudo foram caracterizados, pela primeira vez, os níveis séricos das MMPs 2 e 9, bem como suas fontes principais de células  mononucleares do sangue periférico de pacientes que apresentam as formas indeterminada (IND) ou cardíaca (Card)  da doença de Chagas. Os resultados mostraram que os níveis séricos de MMP-9 são associados com a gravidade da doença de Chagas. A análise da produção de MMP por linfócitos T mostrou que células T CD8 + são os principais leucócitos mononucleares fonte de MMP-2 e MMP-9. Utilizando o modelo tridimensional de fibrose observou-se que o soro de pacientes com a doença de Chagas induziu um aumento nos constituintes da matriz extracelular em esferóides cardíacos.

Além disso, a MMP-2 e MMP-9 mostrou correlação com diferentes proteínas de matriz e citocinas inflamatórias em pacientes com doença de Chagas. Os resultados sugerem que a MMP-2 e MMP-9 mostram atividades distintas na patogênese da doença de Chagas. Embora a MMP-9 pareça estar envolvida com a inflamação e remodelamento cardíaco na doença de Chagas, não observou-se correlação entre níveis de MMP-2 e moléculas inflamatórias.