03/07/2013
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 8 milhões de pessoas estão infectadas com a doença de Chagas no mundo e 25 milhões encontram-se em áreas de risco para a enfermidade. Na América Latina, diversos países são endêmicos e os insetos das espécies do gênero Rhodnius aparecem como importantes vetores. Por apresentarem grande importância epidemiológica na transmissão da doença de Chagas, as espécies do gênero Rhodnius estão entre as mais estudadas na subfamília Triatominae e a difícil diferenciação entre suas espécies permanece como desafio científico. O primeiro estudo usando a metodologia conhecida como DNA barcoding (código de barras) utilizou essas informações para a diferenciação de triatomíneos e acaba de ser desenvolvido no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Biodiversidade e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Estudo diferencia espécies de Rhodnius utilizando técnica conhecida como DNA barcoding
A dissertação de mestrado Caracterização das espécies do gênero Rhodnius Stal, 1859 (Hemiptera, Reduviidae, Triatominae) pelo método código de barras de DNA foi elaborada por Carolina Branco Dale Coutinho, sob orientação do pesquisador do Laboratório de Triatomíneos e coordenador do programa, Cleber Galvão. De acordo com a mestre recém-titulada pelo programa, há casos descritos na literatura de que na região amazônica existem espécies crípticas, ou seja, espécies morfologicamente idênticas mas geneticamente distintas como, por exemplo, Rhodnius robustus e Rhodnius pictipes. O desafio justifica a importância de um estudo que possa utilizar o código de barras de DNA dessas espécies como estratégia para diferenciá-las. “Espécies com características morfológicas semelhantes podem possuir capacidade vetorial distinta. O código de barras vai atuar na identificação dessas espécies já conhecidas, assim como auxiliará também na descoberta de novas”, afirma Carolina Coutinho.
O processo de identificação das espécies, segundo a biológa, é parte fundamental para o reconhecimento e descrição da biodiversidade. A correta identificação dos vetores e o desenvolvimento de métodos mais apurados para identificação das espécies, como a técnica do código de barras ao DNA, podem contribuir para o controle dos vetores. O gênero Rhodnius, em especial, vem ganhando destaque em função do aumento do número de casos da doença de Chagas na Amazônia brasileira. “Segundo os idealizadores da nova metodologia, chamada de código de barras de DNA, a ferramenta auxilia no mapeamento da biodiversidade e na taxonomia, independentemente de um treinamento mais profundo em taxonomia clássica, habilitando a identificação de uma espécie de forma rápida e fácil”, explica Carolina.
Extração do DNA
No estudo, foram utilizados insetos coletados em campo e exemplares depositados em coleções biológicas. Foi empregada técnica para a extração de DNA dos insetos que garantiu a integridade das amostras oriundas de coleções secas e úmidas, assegurando a preservação de exemplares com importância histórica e científica. Das 178 espécimes utilizados na pesquisa, 65 eram do gênero Rhodnius e as sequências genéticas obtidas foram conferidas com as já depositadas no GenBank, banco de dados online internacional de sequências genéticas.
O código de barras do DNA é um sistema projetado para fornecer de forma rápida, precisa e automatizada a identificação de espécies utilizando uma região padronizada de seu código genético. Para o trabalho foi utilizado o gene mitocondrial conhecido como citocromo oxidase 1 (CO1), marcador adotado na identificação global para os animais. “O citocromo oxidase 1 foi escolhido por fornecer informações filogenéticas mais acuradas de todos os filos animais”, explica a mestre.
O DNA de algumas amostras estava muito degradado, provavelmente pela forma de conservação dos insetos em coleções, o que dificultou a obtenção do sequenciamento deles. Mas os resultados das amostras de espécies de campo e de colônias demonstraram que as sequências de DNA das diferentes espécies de Rhodnius apresentam divergências esperadas no processo evolutivo de cada uma das espécies. “O padrão de divergência que encontramos em insetos de mesma espécie variavam de 0 a 2,6%. Já em insetos de espécies diferentes variavam de 2,8% a 17,4%”, conclui.