28/03/2014
Marina Lemle
Com a presença de representantes ministeriais e pesquisadores de diversas instituições, foi lançado no Museu da Vida, na Fiocruz, o Centro de Informação em Saúde Silvestre (CISS). O centro é um espaço virtual projetado para consolidar informações sobre a circulação, na fauna silvestre, de patógenos que possam vir a acometer humanos, e buscar sua interface com mudanças ambientais, avaliando os impactos da perda da biodiversidade sobre a saúde. Este conhecimento poderá subsidiar o desenvolvimento de modelos de previsão de emergência de doenças e disponibilizar dados confiáveis para tomadores de decisão. Concebido pela bióloga da Fiocruz Marcia Chame, o projeto contou com a participação de pesquisadores do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), que ajudaram a desenvolver o Sistema de Informação em Saúde Silvestre (SISS), uma plataforma computacional que agrega bases de dados de diferentes instituições e informações que serão fornecidas por pesquisadores e por cidadãos em geral. Uma rede de laboratórios vai apoiar os trabalhos do centro, validando as informações geradas pelo sistema.
A coordenadora Marcia Chame discursa no lançamento do CISS (Foto: Peter Ilicciev)
Aparelhos móveis enviarão informações
Por meio de um aplicativo, inicialmente em sistema Android, que pode ser baixado e instalado gratuitamente em aparelhos móveis (smartphones e tablets), qualquer pessoa poderá enviar registros georreferenciados e fotos de animais e incluir informações adicionais sobre problemas de saúde ou comportamentos atípicos que tenha observado. Um sistema de modelagem matemática irá correlacionar a distância e a frequência dos registros com as anormalidades informadas, o tipo de animal envolvido e outras informações para a construção de modelos de alertas. Quando o sistema gerar um alerta, a informação estará disponível para os setores responsáveis e especialistas que deverão tomar as medidas de cabíveis. Para apoiar estes setores e validar o alerta, os laboratórios da Rede de Laboratórios em Saúde Silvestre se colocam como pontos focais para recebimento de amostras coletadas no campo e das informações geradas para o dignóstico que voltam a alimentar o sistema. Quando um alerta for validado, ele proverá dados para a geração de um modelo de previsão de agravos de oportunidades ecológicas para ocorrência de doenças.
Integrado ao Projeto de Nacional de Ações Público-Privada para a Biodiversidade (Probio 2), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e financiado pelo Global Environmental Facility (GEF) e pelo Banco Mundial, em parceria com o Fundo Brasileiro da Biodiversidade e a Caixa Econômica Federal, o centro deverá subsidiar, com informação qualificada, ações e políticas para fortalecer a conservação da biodiversidade e a melhoria da saúde humana e dos animais, além de apresentar boas práticas para o desenvolvimento sustentável. O CISS conta com a colaboração de diversas unidades da Fiocruz, como Bio-Manguinhos, Icict e ICC. Também são parceiros no projeto a Embrapa, o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), o Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro e os ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Marcia Chame abriu a mesa com agradecimentos e disse que o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, foi o parceiro número 1 do projeto. A professora explicou que mudanças antropogênicas e demográficas estão relacionadas ao aumento das doenças. “É a questão da emergência das doenças que nos traz aqui. A biodiversidade é enorme e boa parte não conhecemos. Há uma alta complexidade na ecologia de doenças. Nosso trabalho começa agora, que é manipular os dados”, afirmou. Para Marcia, o Probio 2 trouxe um determinante de inovação no projeto que visa preencher uma lacuna entre saúde humana, produção animal e saúde silvestre. Uma questão central, segundo ela, é de diagnóstico: “Buscamos quem faz diagnóstico da fauna silvestre no Brasil e desafiamos equipes a produzir kits de diagnósticos para o campo, porque sabendo com antecedência o que está circulando pode-se promover prevenção e economizar esforço e dinheiro.”
Representando Gadelha, o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, Valcler Rangel, parabenizou Marcia pela capacidade de empreender e articular projetos, principalmente aqueles em rede, com instâncias da Fiocruz e externas. Rangel contou que Gadelha lamentou profundamente não poder estar presente no lançamento do centro porque viu a ideia nascer e hoje ela representa uma etapa diferenciada do trabalho da Fiocruz na interface saúde e ambiente. O vice-presidente também destacou que a Organização Panamericana de Saúde vê com bons olhos a Fiocruz assumir um tema emergente, que ultrapassa as fronteiras do setor saúde, para articulação institucional.
“Este é um dos temas estratégicos para trabalharmos de forma integrada, levando em conta o processo de desenvolvimento no mundo e especialmente no Brasil, a circulação de pessoas, a produção de alimentos, os animais e vetores de doenças. A movimentação da humanidade na Terra nos coloca desafios imensos e é fundamental que a saúde reconheça a importância desse tema”, disse. Rangel elogiou o sistema participativo do Centro: “Tem um pouco o gene da Fiocruz nesse pensamento”. Também integraram a mesa de abertura Eduardo Batista, chefe do Serviço de Inspeção e Saúde Animal da Superintendência Federal de Agricultura no Rio de Janeiro do Mapa, Daniela Oliveira, coordenadora geral do Probio 2/MMA, e Ronaldo Morato, do ICMBio.
Morato ressaltou que a biodiversidade não se restringe à fauna mostrada na TV, incluindo também organismos ocultos que têm papel importante no sistema de saúde e na vida silvestre. “As ferramentas de análise responderão perguntas sobre ecologias de espécies que a gente não vê e que causam impacto profundo na agropecuária e na saúde”, disse. Daniela Ocontou que o MMA negociou com o Banco Mundial R$ 22 milhões do fundo GEF com a ideia de promover a transversalização da biodiversidade numa parceria envolvendo vários ministérios. “Os resultados do Probio 2 vão sensibilizar setores privados e do governo sobre a relevância da conservação da biodiversidade. Estou ansiosa para ver os resultados e como elas vão ajudar nas tomadas de decisão do ministério”, afirmou.
Marcia Chame explicou a logo do centro – um tamanduá-folha contendo diversas espécies que representam a fauna do Brasil – e apresentou o site do projeto, que pode ser acessado aqui. Em seguida, os técnicos Maira Poltosi, Eduardo Krempser e Lázaro Oliveira apresentaram o SISS – o sistema por trás do site, considerado o “coração” do centro. Eles mostraram os mapas que apresentarão os resultados e a versão do aplicativo para aparelhos móveis, já disponível para download.