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05/05/2014

Fundação constroi os alicerces para o Programa Fiocruz em Neurociência

Renata Moehlecke


Nos últimos 20 anos, o Brasil tem atravessado diversas mudanças sociais, como o aumento da expectativa de vida, melhorias no saneamento básico e no acesso à saúde, que tem contribuído para o estabelecimento de um novo perfil epidemiológico. Segundo o Ministério da Saúde (MS), tem sido observada uma queda na mortalidade por doenças infecciosas e um predomínio de doenças crônico-degenerativas não-infecciosas e de causas externas (acidentes ou violência). Nessa mesma perspectiva, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que as doenças do sistema nervoso estarão entre aquelas que produzirão os maiores problemas de saúde pública a partir de 2020. Ciente da mudança de cenário na saúde mundial e brasileira, a Presidência da Fiocruz, por meio de sua Vice-Presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência (VPPLR), estabeleceu como uma de suas prioridades a criação de um Programa Fiocruz de Neurociência (FioNeuro), que visa consolidar e expandir as competências institucionais de pesquisa e inovação nesta área do conhecimento.

"Começamos a posicionar a Fiocruz dentro de um campo de vanguarda do conhecimento, apta a transpor problemas decorrentes do novo perfil epidemiológico da população", explica o vice-presidente da VPPLR, Rodrigo Stabeli. O primeiro passo foi dado no final de 2013. “Realizamos um mapeamento abrangente dos pesquisadores que, nas diversas unidades técnico-científicas da Fiocruz, desenvolvem ou têm interesse em desenvolver projetos de pesquisa em neurociências. Recebemos 60 propostas, iniciativas esparsas que existiam nas unidades da Fundação e que agora poderão ser congregadas, fortalecendo o trabalho e a troca de experiências realizada na área”, complementa.

Ainda no segundo semestre de 2014, a VPPLR lançará um edital, com financiamento previsto para 2015, visando a formação de rede na Fiocruz. Duas outras ações que já têm sido realizadas: o estímulo ao diálogo e a troca de experiências no cenário nacional e a projeção de infraestrutura física para albergar a neurociência. “É importante destacar que a Fiocruz ainda não tem tradição em neurociência, mas o Brasil precisa disso, principalmente, no que tange a área de saúde pública. Se nos associarmos a instituições com expertise já consolidada em neurociência, é possível que pesquisadores da Fundação sejam capazes de ampliar o leque de ações, auxiliando o preenchimento de lacunas ainda existentes”, observa o coordenador do FioNeuro, Wilson Savino.

“Estamos entrando em contato com outras instituições brasileiras já especializadas na área, como o Instituto Estadual do Cérebro, no Rio de Janeiro, o Instituto do Cérebro de Natal e o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A ideia é que, no futuro, possamos compor uma espécie de sistema que gere conhecimento e auxilie a formação de recursos humanos voltados para neurociência e saúde”, diz Savino. No que se refere à melhoria do quadro em recursos humanos, ele afirma que o edital para o Concurso Fiocruz 2014 incluiu uma vaga para especialista sênior em neurociência, estratégia que busca iniciar uma estruturação que contribua desde já para o cenário futuro dentro da própria Fundação.

Seminário e parceria com instituições internacionais

Outra estratégia para o fortalecimento da área de neurociência na Fiocruz tem sido a busca de convênios ou parcerias com instituições estrangeiras. Em prol da ampliação da troca de conhecimentos entre países, nos dias 5 e 6 de maio a Fiocruz sedia um seminário internacional realizado em parceria com a Aliança Nacional para as Ciências da Vida e da Saúde (Aviesan), que engloba as principais instituições francesas de pesquisa biomédica em saúde.

Com o apoio do governo francês, o seminário conta com a participação de dez pesquisadores de Instituições-membro da Aviesan, incluindo o Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm), da Universidade Pierre e Marie Curie (UPMC), do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), da Comissão de Energia Atômica (CEA) e do Instituto Pasteur de Paris.

“A intenção é montar um edital conjunto para formação de rede franco-brasileira entre os laboratórios envolvidos”, esclarece Savino. “Uma oficina de planejamento, feita após as apresentações no seminário, serviu para delinear estratégias para os projetos de colaboração entre a Fiocruz e o conjunto de instituições francesas”. Dentre as temáticas que foram abordadas no evento científico estiveram o uso de células-tronco no combate a doenças neurodegenerativas (como o mal de Alzheimer), o impacto de doenças infecciosas sobre o sistema nervoso e as complexas relações entre alergia, imunologia e o cérebro.

O coordenador do FioNeuro também destaca que a Fiocruz tem considerado igualmente importante estreitar o diálogo e troca de experiências em neurociência com países do Mercado Comum do Sul (Mercosul), particularmente, a Argentina e o Uruguai. “A Fundação já participa de um projeto de parceria em pesquisa, educação e biotecnologia aplicadas à saúde com esses países e essa atividade também pode gerar bons frutos para a área de neurociência”, ressalta.

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