Início do conteúdo

16/08/2017

Pesquisa da Fiocruz avalia saúde bucal da população indígena

Fiocruz Mato Grosso do Sul*


Mais de 50% dos povos indígenas da América Latina e Caribe vivem em nosso território, e o Brasil é um dos únicos países no continente americano a manter um subsistema de saúde específico para atender essa população. O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SASI-SUS), criado em 1999, atende a especificidades socioculturais e geográficas na estruturação e organização dos serviços destinados a estes grupos populacionais.

Pesquisa apontou uma associação entre renda e níveis de cárie nas crianças indígenas (Foto: Fiocruz Mato Grosso do Sul)

 

Apesar deste avanço, o país não desenvolve sistematicamente estudos que permitam conhecer os perfis epidemiológicos, obter indicadores de saúde e doença que possam avaliar os serviços de saúde e planejar e estruturar ações de saúde direcionadas aos grupos indígenas do país. Suprindo essa lacuna, entre 2013 e 2016, o pesquisador Rui Arantes, da Fiocruz Mato Grosso do Sul, desenvolveu um estudo para avaliar a prevalência das principais doenças bucais, cárie dentária, doenças periodontais e má oclusão entre as quatro maiores etnias do Mato Grosso do Sul, os Kaiowá, os Terena, os Guarani e os Kadiwéu que juntas somam 99% da população indígena do estado.

Na pesquisa, realizada com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect), também foram coletados dados sobre as condições socioeconômicas (escolaridade, renda, acesso a programas sociais), utilização e acesso a serviços de saúde, necessidades de tratamento, formas de autocuidado e auto percepção dos indígenas em relação à saúde bucal.

Foram examinados 516 indígenas Guarani, 611 Kaiowá, 535 Terena e 168 Kadiwéu nas idades de 5 anos, 12 anos, 15 a 19 anos e 34 a 44 anos, totalizando 1.662 indivíduos. Os resultados do estudo mostram, apesar de os indígenas do Mato Grosso do Sul apresentarem níveis moderados de cárie nas faixas etárias mais jovens (5, 12 e 15 a 19 anos), existem diferenças significativas na prevalência de cárie entre as etnias, sendo os Terena os mais afetados. Estas diferenças provavelmente estão relacionadas a fatores socioeconômicos e culturais, que definem padrões de dieta, de autocuidado com a saúde, e também diferenças de acesso aos serviços de saúde. Entre os adultos (35 a 44 anos), a prevalência de cárie é elevada para todas as etnias, com grande número de dentes perdidos e com elevada necessidade de próteses dentárias.

O estudo observou também uma associação entre renda e níveis de cárie nas crianças indígenas do Mato Grosso do Sul. As crianças pertencentes às famílias de menor renda, que possuem acesso ao Programa Bolsa Família apresentaram maior prevalência de cárie quando comparadas às crianças pertencentes às famílias de maior renda que não tinham acesso ao Programa.

A pesquisa possibilitou a capacitação dos profissionais (odontólogo e auxiliar de saúde bucal) que atuam no Subsistema de Saúde Indígena do SUS na realização de levantamentos epidemiológicos em saúde bucal. Os resultados e informações sobre a saúde bucal decorrentes do estudo deverão ser utilizados no planejamento dos serviços e na formulação de novas estratégias de intervenção junto às comunidades indígenas do Mato Grosso do Sul.

*A reportagem foi publicada originalmente no jornal Linha Direta, nº32.

Voltar ao topo Voltar