22/08/2013
Leonardo Azevedo (enviado especial a Teresina)
Da bancada à saúde pública: o papel fundamental do conhecimento científico na formulação de políticas de saúde foi o tema da aula inaugural dos programas de mestrado da Fiocruz Piauí, realizado na quarta-feira (21/8), no Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI). “Que o ensino seja um espaço de reflexão para os problemas do estado e troca de experiências entre os parceiros envolvidos no projeto da Fiocruz Piauí”, disse a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.
Maquete da futura sede da Fiocruz Piauí.Os cursos de mestrado profissional em epidemiologia das doenças transmissíveis, com ênfase às relacionadas à pobreza, e em medicina tropical – coordenados pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), respectivamente –, são resultado de parceria entre a Fundação, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, as universidades Federal (UFPI) e Estadual (Uespi) do Piauí e a Secretaria da Saúde do Piauí (Sesapi). Ao todo são 40 vagas destinadas a gestores e profissionais do sistema público de saúde em atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, atuantes no Piauí e no Maranhão.
Os programas possibilitarão que os alunos estudem no seu próprio estado, não precisando se deslocar ao Rio de Janeiro. É o caso da enfermeira Elis Regina Chaves, atuante na esfera municipal de Nossa Senhora de Nazaré (PI) e aluna do mestrado com ênfase em doenças da pobreza. “Quem mais vai se beneficiar é o usuário, pois o curso trará para nós, profissionais, inovações em saúde pública, ajudando-nos na implementação de estratégias, com a introdução de novos conhecimentos”, afirmou.
Em vídeo exibido no evento, o secretário de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, afirmou que o êxito das políticas públicas dependem, fundamentalmente, do conhecimento, da qualificação técnica e do compromisso das pessoas que estão nas secretarias estaduais, municipais e nas unidades de saúde, e ressaltou o fato de os cursos serem ofertados no próprio Piauí. O secretário foi representado no evento pelo diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis da SVS, Claudio Maierovitch, que destacou a parceria permanente do Ministério com a Fundação.
“Estamos felizes com a entrada da Fiocruz em nosso estado e precisamos enfatizar a importância desses cursos para a área da saúde em nossa região”, disse Telma Evangelista, representante do Secretaria Estadual de Saúde do Piauí. Para o reitor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), José Arimatéia, o início dos programas é a realização de um sonho do povo piauiense. “Nós queremos qualidade na pesquisa e formação de pessoal com o padrão Fiocruz”, afirmou. O evento contou com a presença do secretário de Saúde de Teresina, Noé Fortes; do diretor da Fiocruz Ceará, Carlile Lavor; de autoridades locais, profissionais da Fundação, alunos e professores dos programas de mestrado e da UFPI.
Implantação da unidade
A vice-presidente de Ensino, Comunicação e Informação, Nísia Trindade Lima, falou da ligação histórica da Fiocruz com o território nacional, citando as expedições feitas pelos sertões do país, como a dos pesquisadores Artur Neiva e Belisário Penna à cidade de Lage (PI), em 1912. Nísia aproveitou para citar pesquisadores da Fundação que mantém forte ligação com grupos de pesquisa do estado, como Adauto Araújo, Bodo Wanke – que recebeu em 2012 o título de cidadão piauiense – e Márcia Chame.
Nísia ressaltou a inclusão da UFPI na Rede Nordeste de Assistência Familiar (Renasf) no início das discussões, para o desenvolvimento do projeto de doutorado em saúde pública no estado, e a importância de iniciativas para o estímulo de grupos de pesquisa e laboratórios. A universidade contará com dez vagas na segunda turma do mestrado profissional em Saúde da Família, coordenado pela Fiocruz Ceará
A previsão para o início das obras de construção da sede da Fiocruz Piauí é dezembro deste ano, em terreno de 13 hectares cedido pela UFPI na Zona Leste de Teresina. A unidade, que terá como base as ações de ensino e pesquisa, tem sido pensada de forma a contribuir para a solução dos principais problemas de saúde da região e para a melhoria da qualidade de vida da população. O objetivo é atuar de forma efetiva no desenvolvimento econômico e tecnológico, seguindo as políticas de desconcentração da pesquisa e formação de recursos humanos promovidas pelo Governo Federal.
Da bancada à saúde pública
A aula inaugural foi ministrada pelo diretor do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Wilson Savino, que falou do uso de citometria de fluxo para fins de prognóstico, utilizando-se de estudos realizados por alunos do curso de mestrado de ciências da saúde de Moçambique – coordenado pela Fiocruz, a partir de um consórcio de três laboratórios do IOC – em pacientes com distrofia muscular de Duchenne e co-infectados por HIV e HTLV-1. Segundo Savino, a partir de dados gerados em laboratórios, os profissionais podem contribuir na formulação, na mudança ou evolução de políticas de saúde e com isso, colaborar com a melhora nos campos de prognóstico, terapêutico e prevenção de doenças. “Na medida que se apropriem de um determinado problema de saúde, submeta-o a um crivo de metodologia científica, escolham as ferramentas adequadas e procurem os melhores resultados possíveis, que dependem de um conhecimento teórico. Ao se apropriarem desses mecanismos, vocês, alunos, poderão mudar condutas de saúde”, concluiu.