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19/06/2013

Capacitação vai promover a melhoria da água nas cisternas do semiárido

Daniela Muzi


No município conhecido como “Cidade do Sol”, a chuva não costuma aparecer. Essa é a situação de Paulistana (PI) e de muitas outras cidades do semiárido, região que enfrenta a maior seca dos últimos 30 anos. Durante a estiagem, a população estoca a pouca água que tem em cisternas, com capacidade para 16 mil litros, que captam do telhado a água da chuva, através de um sistema de calhas e canos. Com a escassez de chuvas, a água também é coletada de açudes, de cacimbões (grandes poços), e por meio de carros-pipa. Ao longo desse processo, uma série de possibilidades de contaminação da água é identificada.


Após a análise e a discussão do projeto piloto, a metodologia será modelada para a capacitação de cerca de 52 mil agentes de saúde, em mais de 1,1 mil municípios com cisternas implantadas

A Fiocruz, por meio da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS), em parceria com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), está desenvolvendo um projeto piloto de Capacitação de Agentes Comunitários de Saúde para a Melhoria da Qualidade da Água nas Cisternas do Semiárido nos estados do Ceará, Piauí e Pernambuco. O projeto tem como objetivo modelar uma capacitação para cerca de 52 mil agentes comunitários de saúde (ACSs) e visa contribuir com a inserção de boas práticas de manejo da água, minimizando o impacto das doenças provocadas pela má qualidade da água.

Metodologia tripartite, conteúdo compartilhado

O projeto piloto, que teve início em meados de 2012, é dividido em três fases: capacitação de formadores; capacitação de multiplicadores, para trabalhadores da atenção básica no nível local e capacitação de ACSs. Os formadores seguem para os seus estados de origem com o objetivo de capacitar os multiplicadores que, por sua vez, capacitam os ACSs dos seus municípios sede. A metodologia da capacitação, caracterizada pela aprendizagem através de multiplicadores, teve origem em um acordo preliminar entre o grupo gestor do trabalho, sob a coordenação da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, e representação da Fundação Nacional de Saúde e da Fiocruz.

O conteúdo foi elaborado a partir de oficinas com integrantes das diversas instituições responsáveis pela capacitação, tendo como base o conteúdo da experiência desenvolvida pelo Laboratório de Educação Profissional em Vigilância em Saúde da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (Lavsa) na promoção da educação dos técnicos em saúde que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS). Fizeram parte da oficina membros da Secretaria-Executiva do Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Atenção Básica, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, além da Funasa e diversas instâncias da Fiocruz – VPAAPS, Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (ESPJV), Diretoria Regional de Brasília, Fiocruz Pernambuco, Fiocruz Ceará e Instituto Oswaldo Cruz (IOC).

“É preciso testar esse modelo e saber se está respondendo aos diversos contextos envolvidos. Precisamos estruturar a forma de comunicação, o conteúdo, o material pedagógico e saber se estão adequados à população do semiárido”, explica o engenheiro civil sanitarista e gestor do projeto na Vice-Presidência da Fiocruz, Tatsuo Shubo. “A nossa função nesse processo é observar as capacitações, identificar falhas e pontos a serem melhorados”.

Para o professor da Escola Politécnica Carlos Maurício Barreto, que participou da primeira etapa de capacitação dos agentes no Piauí, já há pontos a serem aperfeiçoados. “Houve diversas observações ao caderno pedagógico (material didático entregue aos ACSs) e uma avaliação da equipe da Escola que conjugou avanços do ponto de vista da apropriação coletiva dos conteúdos pelos ACSs, com insuficiência de maior dinamismo e condições de transferência da aquisição de conhecimento dos multiplicadores para os trabalhadores”, adianta.

Em conversas preliminares, a equipe do projeto também identificou a necessidade de incluir o tema mobilização social no conteúdo da capacitação para o favorecimento de melhores condições de convivência no semiárido brasileiro, simultaneamente à minimização dos graves problemas de saúde relacionados ao uso da água de má qualidade, processo que tem entre os seus princípios o apoio à disseminação de informação apropriada que possa ser compartilhada no nível local. “É importante que os moradores do semiárido sejam mais que atores na luta pela qualidade da água. Sendo capazes de exigirem políticas públicas e melhorias para seus governantes, atuando como protagonistas nesse processo”, destaca Shubo.

Registro audiovisual

Para a fase de análise do projeto piloto, a Vice-Presidência contou com a parceria da VideoSaúde – Distribuidora da Fiocruz. A equipe desta passou 25 dias em Paulistana registrando a capacitação de multiplicadores e de ACSs, incluindo o trabalho de campo dos agentes. Sabendo da interferência natural que a presença da câmera provoca, a equipe buscou intervir o mínimo possível durante as gravações, privilegiando o processo pedagógico desenhado. O material, com aproximadamente 50 horas de duração, será visionado pelo grupo gestor do projeto, servindo de referência para a avaliação da metodologia e conteúdo aplicados.

Após a análise e a discussão do projeto piloto, a metodologia será modelada para a capacitação de cerca de 52 mil agentes de saúde, em mais de 1,1 mil municípios com cisternas implantadas. Fontes de financiamento serão levantadas, assim como a definição dos gestores responsáveis pela condução do processo de capacitação para a melhoria da qualidade da água.

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