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31/07/2018

Abrascão 2018: acesso a medicamentos é tema central na OMS

Alexandre Matos (Farmanguinhos/Fiocruz)


O acesso universal a medicamentos e vacinas, eficazes e de qualidade garantida, é uma preocupação global que tem mobilizado a Organização Mundial da Saúde (OMS) a promover ações para superar os desafios. Este foi um dos itens pautados no 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, realizado na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de 26 a 29 de julho. No primeiro dia do evento (26/7), a diretora-geral assistente para Acesso a Medicamentos, Vacinas e Produtos Farmacêuticos da OMS, Mariângela Simão, proferiu a palestra Acesso a medicamentos no contexto dos ODS: avançando a agenda antes de 2030.

Palestra debateu acesso a medicamentos no contexto dos ODS (foto: Alexandre Mattos, Farmanguinhos/Fiocruz)

 

A mesa foi coordenada pelo pesquisador Jorge Bermudez, que atua na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz). Ele destacou o comprometimento da palestrante com as políticas de promoção da saúde. “Foi graças à pujança da Mariângela que o país conseguiu o licenciamento compulsório do efavirenz”, frisou. O medicamento passou a ser produzido pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) e representou uma importante conquista na política de acesso universal aos antirretrovirais, que se tornou uma referência mundial neste segmento.

Mariângela pontuou as desigualdades entre as populações de países ricos e pobres no que se refere ao alcance a medicamentos essenciais, e argumentou que, ao longo dos anos, o acesso decorreu principalmente de conflitos políticos. Hoje, novos desafios se colocam na agenda em discussão. Segundo a especialista, medicamentos são a maior despesa de uma família após a comida. “A situação é dramática em alguns países. Cerca de 90% da população compram medicamentos com dinheiro do próprio bolso. Significa que 100 milhões de pessoas ficam mais pobres no mundo todos os anos por esse motivo”, alertou a conferencista. 

Um dos exemplos apresentados por Mariângela é o sofosbuvir, medicamento de primeira linha contra hepatite C, com índice de cura acima de 90%. No entanto, o conflito de interesses é o principal entrave para maior disponibilidade do produto à população. Dentre os exemplos de conflitos de interesse estão uso da patente para manter monopólio e altos preços. 

Produção pública 

Sob esse aspecto, o coordenador da mesa, Jorge Bermudez, destacou o trabalho realizado por Farmanguinhos de modo a evitar a patente do produto, formalizar uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) com parceiros nacionais a fim de fabricar o medicamento e ofertá-lo no Sistema Único de Saúde (SUS). “Farmanguinhos e Blanver obtiveram o registro do medicamento pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e já se colocaram à disposição do Governo para iniciarem a produção”, frisou Bermudez.

Durante sua conferência, Mariângela reforçou a importância da produção pública do sofosbubir e uma futura disponibilização no mercado internacional. “É extremamente importante para o Brasil, por meio de Farmanguinhos/Fiocruz, internalizar a produção do sofosbuvir. Entretanto, é também preciso buscar a pré-qualificação junto à OMS para, não só reafirmar a qualidade do produto, como também abrir a possibilidade de disponibilizá-lo no âmbito internacional.

Segundo a palestrante, o plano de acesso (a medicamentos, vacinas e produtos de saúde) passa por quatro dimensões: eficácia; qualidade; segurança; preço e sustentabilidade. Ela informou que nenhum sistema público ou privado consegue fornecer todos os medicamentos ou tecnologias existentes na atualidade. Já que alguns produtos têm uma ação mais eficaz do que outros, é preciso fazer a relação custo-benefício, ou seja, criar sistemas para seleção e não somente contenção de custos.

Outro desafio é uma regulação mais eficaz dos produtos disponíveis. Segundo Mariângela, 30,5 milhões de dólares é o gasto estimado com medicamento de baixa qualidade ou falsificados em todo o mundo. “Cerca de 75% dos medicamentos aprovados nos últimos 15 a 20 anos não tinham evidência de benefícios substantivos ao paciente. A EMA [sigla em Inglês para a Agência Reguladora Européia] aprovou 46 drogas com 68 indicações entre 2009 e 2013. Estudos posteriores mostraram que 57% das indicações não demonstraram benefícios ou qualidade de sobrevida aos pacientes”, alerta a conferencista.

Dentre outros temas, Mariângela abordou ainda concessão de patentes e reforçou que a competição diminui os preços, o que permite ampliar o acesso aos tratamentos. Dentre os pontos que contribuem para o acesso a medicamentos, ela destacou também a participação da indústria dos genéricos, o fortalecimento dos sistemas regulatórios, possibilidade de registros colaborativos, sistemas de vigilância e inovação tecnológica.

Na Fiocruz

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