09/03/2017
De grande importância para o conhecimento e conservação da biodiversidade brasileira, a Coleção de Moluscos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) alcançou o número de 10 mil lotes depositados no acervo. O espaço reúne conchas e partes moles de aproximadamente 200 mil espécimes de moluscos provenientes de mais de 60 países. Este acervo variado inclui exemplares de importância para a saúde humana e animal, incluindo caramujos capazes de transmitir doenças parasitárias, como a esquistossomose, caracóis e lesmas que podem atuar como pragas agrícolas e mexilhões que causam grandes perdas econômicas à geração de energia. A partir de investimentos institucionais e financiamentos de editais externos, o espaço recebeu uma série de melhorias de infraestrutura, com destaque para a modernização de armários e equipamentos. Pesquisadores do Laboratório de Malacologia do IOC, que abriga a Coleção, publicaram estudo sobre a diversidade e a distribuição geográfica dos espécimes incluídos na Coleção, que servem como fonte para estudos sobre biodiversidade, taxonomia e evolução. O artigo foi publicado no periódico científico Arquivos de Ciências do Mar, que reuniu trabalhos sobre diversas coleções de moluscos. A Coleção é credenciada como fiel depositária de amostras de patrimônio genético pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN/Ministério do Meio Ambiente).
O acervo conta com exemplares de importância para a saúde humana e animal, incluindo moluscos capazes de transmitir doenças parasitárias e espécies que atuam como pragas agrícolas (foto: Gutemberg Brito)Quem são? De onde vêm?
De acordo com o estudo, os mais de 10 mil lotes catalogados contemplam cerca de 200 mil espécimes que habitam rios, lagos e córregos e ambientes terrestres, além dos chamados bivalves (moluscos com concha dividida em duas partes, como os mexilhões, por exemplo). Com mais de nove mil lotes, os espécimes de água doce representam o maior grupo presente na Coleção. É o caso das espécies do gênero Biomphalaria, incluindo hospedeiras intermediárias do helminto Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose. Já os moluscos terrestres passaram a fazer parte da Coleção em 2015. O acervo conta com exemplares do caramujo africano, uma das espécies terrestres mais conhecidas atualmente, que atua como praga urbana, muito comum em quintais, praças, jardins e terrenos baldios. Um dos principais riscos para a saúde pública, nesse caso, é o seu potencial como agente transmissor da meningite eosinofílica ou angiostrongilíase cerebral, infecção causada pelo verme Angiostrongylus cantonensis.
Entre os mais de 10 mil lotes catalogados estão cerca de 200 mil espécimes que habitam rios, lagos e córregos e ambientes terrestres, além de bivalves, como os mexilhões (foto: Gutemberg Brito)
“Conhecer a origem, a distribuição e a diversidade das diferentes espécies de moluscos é um passo importante para a realização de estudos científicos. O conhecimento gerado pode, por exemplo, auxiliar na formulação de estratégias de prevenção de doenças, assim como melhorar técnicas, cuidados e formas de controle desses animais em plantações agrícolas”, destacou Silvana Thiengo, chefe do Laboratório de Malacologia do IOC e curadora da Coleção.
No que diz respeito à origem, o acervo conta com amostras de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal. O Rio de Janeiro é o estado de maior representatividade, com amostras referentes a todos os 92 municípios. Além do Brasil, países como Argentina e Uruguai estão entre os mais expressivos. O acervo também abriga amostras de países das Américas, Europa, Ásia e Oceania.
Modernização
Investimentos recentes possibilitaram a modernização do espaço onde a Coleção fica instalada, garantindo melhorias na infraestrutura para acondicionamento das amostras. Isso incluiu novas salas e a aquisição de novos armários deslizantes de metal. As medidas ampliaram a capacidade de preservação e a oferta de serviços, como consultas e empréstimos de exemplares depositados, e o atendimento a profissionais e estudantes interessados em identificações taxonômicas feitas pela Coleção. Para evitar a degradação dos exemplares, a coleção foi separada em duas salas, uma para partes secas (conchas) e outra para partes úmidas (corpo dos moluscos). O sistema de rotulagem dos lotes também passou por mudanças ampliando o cuidado do material.
Uma das recenhtes conquistas, o microscópio tridimensional conta com um sistema robotizado de alta precisão, câmera digital acoplada e conexão ao computador. O equipamento permite fotografar moluscos de volume tridimensional (foto: Gutemberg Brito)No quesito informatização, uma das recentes conquistas do acervo foi a aquisição de um novo microscópio, a partir de um projeto institucional submetido a um edital de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O equipamento possibilita a digitalização dos espécimes, ampliando o acesso, pela internet, à base sobre a biodiversidade presente na coleção. A iniciativa tem por objetivo reduzir a necessidade de empréstimos, viagens e manipulação dos espécimes a partir da oferta de imagens digitais de alta qualidade. Desde 2012, a base de dados da Coleção está disponível para consultas online, com acesso livre, por meio da plataforma SpeciesLink.
Serviços
A Coleção de Moluscos do IOC teve início em 1948 e, hoje, atua a pleno vapor, desempenhando um papel importante para pesquisas na área da Malacologia. O acervo oferece serviços de identificação taxonômica de moluscos e disponibiliza a consulta e empréstimos de espécimes a pesquisadores de instituições nacionais e estrangeiras, assim como o depósito de material biológico de espécimes utilizados para a elaboração de teses e artigos. A Coleção também fornece suporte a diversas atividades, como a identificação de espécimes para órgãos ligados à saúde e à agricultura do Brasil e de outros países. Para conhecer mais sobre uma das mais representativas coleções de moluscos de água doce das Américas, com representantes das principais espécies brasileiras de moluscos terrestres, clique aqui.