03/06/2013
Parte de um importante patrimônio da ciência e da saúde dos brasileiros, quase dizimado durante o período da ditadura militar, está de volta ao seu lugar de origem e ao alcance de todos. Desenhos anatômicos, fotos, documentos e instrumentos médicos raros usados em exames e tratamentos, além de vacinas antigas, reunidos desde o início do século 20 são parte da exposição Corpo, saúde e ciência: o Museu da Patologia do Instituto Oswaldo Cruz, que abre suas portas para o público nesta quinta-feira (6/6). A visitação é gratuita.
Acervo da coleção da Seção de Anatomia Patológica
A mostra apresenta peças anatômicas, além de objetos e documentos que totalizam cerca de 100 itens que integram o acervo histórico original de algumas das coleções biológicas de maior valor histórico mantidas pelo IOC e pela Fiocruz: a Coleção da Seção de Anatomia Patológica, criada em 1903 pelo próprio sanitarista Oswaldo Cruz, a partir das amostras trazidas da Alemanha pelo pesquisador Rocha Lima; a Coleção de Febre Amarela (1930-1970), que registra a história das epidemias do agravo no país; e a Coleção do Departamento de Patologia do IOC, iniciada em 1984. A exposição integra as atividades do Museu da Vida da COC/Fiocruz. A visitação pode ser realizada de terça a sexta-feira, das 9h às 16h30 (com agendamento prévio, pelo telefone (21) 2590-6747, e aos sábados, das 10h às 16h (visitação livre), na Sala 307 do Castelo da Fiocruz, no bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro (Avenida Brasil 4.365).
Corpo, ciência e arte
A relação entre o corpo, a ciência e a arte ganhou destaque na mostra. De acordo com um dos curadores da exposição, o chefe do Laboratório de Patologia do IOC, Marcelo Pelajo, muitos anatomistas dos séculos 15 e 16 também eram artistas. A representação da anatomia neste período segue uma forte tendência para esta abordagem, não apenas como uma tentativa de reprodução da verdade anatômica, mas também como inspiração de arte. “Existe uma questão dialógica entre o estudo inicial da anatomia e o que as pessoas expressavam como arte. A exposição contempla essa relação a partir de algumas expressões artísticas, incluindo uma reprodução da obra Aula de anatomia do Dr. Tulp, de Rembrandt, cujo original está no Museu Mauritshuis, em Haia, Holanda, a fim de demonstrar como foi construído esse intercâmbio entre Aaatomia e arte, evidenciando a importância deste tipo de conhecimento para a formação de artistas”, destaca.
As atividades lúdicas da exposição foram pensadas para permitir a interação do público participante com os monitores da exposição. “As interações práticas entre o público e a exposição contam com atividades de microscopia virtual, telepatologia, observação de células ao microscópio, além de jogos lúdicos e uma miniatura de Sistema Circulatório, que descreve com cores diferentes a pequena e a grande circulação”, descreve Pelajo.
Realizada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), a iniciativa conta com financiamento da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O Instituto Biológico (São Paulo), o hospital A.C.Camargo Cancer Center e os museus de Anatomia e D. João VI, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colaboraram com o fornecimento de peças.
História e atualidade
Para Pedro Paulo Soares, pesquisador da COC e também curador da exposição, a iniciativa consegue resgatar a história do Museu de Patologia e permite que o público tenha acesso a um acervo emblemático. “Ao recontar a trajetória do Museu da Patologia, a exposição resgata um importante capítulo da vida institucional ao mesmo tempo em que divulga para o público temas importantes da história, da saúde e das ciências, relacionando-os à dimensão cultural e ao cotidiano das pessoas”, destaca.
Em 1970, durante o regime militar, o Museu de Anatomia Patológica do IOC viu parte do seu acervo ser perdido ou destruído. Pelajo lembra que, somente em meados da década de 1980, o trabalho de preservação do material da coleção original, assim como o da Coleção de Febre Amarela, que também foi atingida, começou a ser resgatado. Nessa época, também começou a ser formada uma coleção de material histopatológico, majoritariamente experimental, posteriormente denominada Coleção do Departamento de Patologia do IOC. “A iniciativa visava recompor as peças que restaram das coleções de anatomia patológica, que formavam o acervo original do museu, incorporando a ele a Coleção da Febre Amarela e a Coleção do Departamento de Patologia, na tentativa de organizar uma nova estrutura para o museu”, explica.
Também curadora da exposição e tecnologista do Laboratório de Patologia do IOC, Barbara Dias, revelou que a ideia da exposição surgiu a partir de demandas recebidas pelo Museu da Patologia online, disponível aqui. “O museu virtual foi a primeira iniciativa de divulgação do acervo das três coleções. A partir do ambiente online, recebemos vários pedidos para a reabertura do museu físico, a fim de divulgar a ciência e tornar o acervo disponível para visitas”, revela. “Com isso, surgiu a ideia de organizar a exposição temporária Corpo, saúde e Ciência: o Museu da Patologia do Instituto Oswaldo Cruz, para que público pudesse conhecer a história e os aspectos das pesquisas atuais que permitem mais facilmente relacionar o trabalho científico aos temas do cotidiano”, acrescenta Barbara.
Para organizar a exposição, foi realizada uma pesquisa de opinião no site do Museu da Patologia online, que permitiu que toda a mostra fosse pensada a partir do interesse da população. “Com o questionário, verificamos uma preferência do público sobre as questões históricas do Museu, o interesse pelas atividades lúdicas voltadas para as crianças, além da curiosidade no processo de diagnóstico histopatológico das doenças”, completa Barbara.
Acervos
A Coleção da Seção de Anatomia Patológica é composta por 854 peças, muitas das quais estudadas por grandes personalidades do IOC, como Gaspar Vianna, Emmanuel Dias, Magarinos Torres, entre outros. Já a Coleção de Febre Amarela registra 498 mil casos suspeitos da doença, ocorridos a partir da epidemia de 1928. A Coleção do Departamento de Patologia é formada por cerca de 17 mil itens sobre casos de patologia experimental, que retratam aspectos das pesquisas realizadas pelo Laboratório de Patologia nos últimos 30 anos.