Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) fizeram um trabalho de descrição estrutural e funcional das redes sociais e de apoio informal da população de idosos do município de São Paulo, identificando a influência de algumas características sócio-econômicas e demográficas sobre elas. O estudo foi publicado na edição de dezembro da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.
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Os resultados mostram que nos homens a idade não exerce influência sobre o número de relações sociais |
Segundo o artigo, estudos sobre apoio social podem auxiliar a compreensão de algumas diferenças existentes na distribuição de certas enfermidades, tanto físicas quanto mentais. “Embora quase nenhuma atenção tenha sido dada ao apoio social como variável dependente, a compreensão das estruturas e dos processos sociais amplos, bem como dos processos psicológicos e biológicos, que determinam a quantidade e qualidade das relações sociais e de apoio na sociedade, pode ser considerada tão importante quanto o significado das relações sociais para a melhoria da saúde”, afirmam os pesquisadores.
A pesquisa faz parte do inquérito sobre saúde, bem-estar e envelhecimento (Sabe), feito em sete países da América Latina e Caribe e que é coordenado pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A coleta de dados na capital paulista foi efetuada no período de janeiro de 2000 e março de 2001 e analisou o perfil de 1.568 idosos com idade de 60 ou mais anos. Quatro aspectos estruturais das redes sociais de apoio foram examinados: a freqüência de contatos, a diversidade desses, o status de coabitação (se vive só ou não) e a situação conjugal.
Os resultados mostraram que as mulheres de 80 anos ou mais apresentam chances significativamente maiores de ter baixa freqüência de contatos, enquanto nos homens a idade não mostrou exercer influência alguma sobre o número de relações. Quanto à diversidade, as mulheres demonstraram uma baixa expressiva no número a partir dos 75 anos de idade. A faixa etária mostrou efeito significativo sobre o fator status de coabitação. Os pesquisadores apontam que as chances de “morar só”, entre as mulheres, são semelhantes em todas as idades, enquanto que, para os homens, a mesma condição é maior e aumenta gradativamente de cerca de três a quatro vezes, conforme aumenta a idade. Em relação ao estado conjugal, as chances de se encontrar um idoso acima de 80 anos “não casado” é bem maior, se comparada com os de 60 anos, e as mulheres dessa faixa etária mostraram 1,5 chances a mais de estar nessa condição do que os homens.
“As melhores condições nas redes sociais foram observadas nos menores patamares de renda e as piores entre os mais velhos e os ‘não-casados’”, explicam os pesquisadores. “Para as mulheres, as chances de estarem “não casadas” aumentaram significativamente quanto pior era o seu nível educacional”. Além disso, eles notaram que o aspecto ligado à coabitação foi o que mais influenciou o apoio funcional, ou seja, “morar só” aumentou significativamente as chances de não ocorrerem as trocas sociais.
O estudo também verificou a freqüência de ajudas recebidas e prestadas pelos idosos. Os indivíduos com status de “solteiro”, “separado/divorciado” e “viúvo” apresentaram baixas freqüências de ajudas recebidas, assim como de proporcionadas. Entre as mulheres, fora as mais jovens no grupo avaliado, todas demonstraram maiores necessidades de obter mais ajuda e a renda costuma afetar os auxílios recebidos, sendo as de nível de rendimento menor aquelas que recebem mais subsídios.
“Embora tenha que se notar a necessidade de outros estudos que incluam dimensões qualitativas das redes sociais para melhor compreendê-las, um achado deste estudo que vale ser ressaltado, entre outros, é a condição dos idosos que foram classificados em níveis de rendas mais baixos”, destacam os pesquisadores. “Estes apresentam, por um lado, maiores chances de apresentarem piores níveis de integração social (poucos contatos não diversificados) e por outro lado, menores chances estarem na condição de ‘morar só’ e de apresentarem baixas freqüências de apoio funcional”.