Na semana em que começou o 2º Fórum Social Mundial de Saúde, que tem como tema África, o espelho do mundo, dois países em desenvolvimento uniram forças para atender a uma questão emergencial no continente mais pobre do planeta. A Organização Mundial de Saúde (OMS), o Instituto Finlay, de Cuba, e o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos) da Fiocruz acabam de assinar um contrato de desenvolvimento conjunto e transferência de informações técnicas para a produção da vacina meningocócica AC. A cooperação visa à produção emergencial da vacina para os países do chamado Cinturão da Meningite, na região do sub-Saara africano, devido ao cancelamento da produção do imunizante pelos laboratórios multinacionais. Com o objetivo de não descontinuar o fornecimento, a OMS solicitou a colaboração de Biomanguinhos e do Instituto Finlay. “É um acordo que visa um bem maior, que está sob a égide da solidariedade internacional”, disse o presidente interino da Fiocruz Paulo Gadelha. O Fórum Social Mundial de Saúde é um evento paralelo ao Fórum Social Mundial, que teve início neste sábado (20/01), em Nairóbi, no Quênia.
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A diretora do Instituto Finlay, Concepción Campa Huergo, o presidente interino da Fiocruz, Paulo Gadelha, e o presidente da Anvisa, Dirceu Raposo, na assinatura do acordo (Foto: Peter Ilicciev) |
Serão produzidas mais de 20 milhões de doses da vacina meningocócica AC para o período 2007/2008. A vacina será distribuída, segundo orientações da OMS, a países como Burkina Faso, Chade, Costa do Marfim, Mali, Niger, Nigéria e Sudão, em que a doença atinge índices elevados. Há possibilidade de uma demanda extra para fornecimento direto a esses países até o fim deste ano. o secretário nacional de Ciência & Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Moisés Goldbaum, destacou a importância da parceria: “O governo brasileiro tem empreendido esforços para desenvolver a competência científica e tecnológica nacional. Não se trata apenas de um intercâmbio latino-americano, mas de um evento marcante em que interesses políticos se sobrepõem aos econômicos”.
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Purificação de polissacarídeos, no Centro de Produção de Antígenos Bacterianos de Biomanguinhos |
O responsável pelo Estoque de Vacinas para Emergências da OMS, Alejandro Costa, apresentou um panorama da doença no sub-Saara, revelando nova tendência de crescimento. “Uma onda de meningite teria um grande impacto político na região, pois haveria muitas mortes num curto período e falta de antibióticos para combater uma epidemia”. No menos pior dos cenários traçados pela OMS, estima-se que 80 mil pessoas sejam afetadas no período 2007-2008, com cerca de 10% de casos fatais. As piores previsões indicam o dobro do número de casos da doença.
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Instalações de Biomanguinhos, no campus da Fiocruz (Foto: Ana Limp) |
Biomanguinhos e o Instituto Finlay dominam a tecnologia de produção de vacinas polissacarídicas contra os meningococos A e C. O acordo entre Brasil e Cuba viabilizará a produção em larga escala (a partir de março de 2007), possibilitando a distribuição de vacinas num curto espaço de tempo (até o fim deste ano) para combater o risco de uma epidemia de meningite AC. “Este acordo nos alça a um importante patamar tecnológico internacional. Os dois países têm condições de ter este espaço no cenário mundial”, afirmou o diretor de Biomanguinhos, Akira Homma. A diretora do Instituto Finlay, Concepción Campa Huergo, lembrou a parceria de longa data entre Brasil e Cuba. “Este projeto (de combater o sofrimento na África) é um sonho romântico que mais uma vez compartilhamos juntos”, afirmou. “Trata-se de uma iniciativa importante e inovadora, em que dois países do Cone Sul se unem para atender uma demanda emergencial da OMS em nome da saúde pública de países pobres da África”.