O Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, divulgado nesta sexta-feira (29/10), reforça a estabilidade de indicadores da transmissão do Sars-CoV-2 (Covid-19), mas a chama atenção que a idade precisa ser considerada como um aspecto de vulnerabilidade e requer medidas de proteção, manejo clínico e vigilância. Os novos dados mostram que - apesar da melhoria do cenário geral - a proporção de casos internados entre idosos está em 63,3% e que 81,9% dos óbitos ocorrem em pessoas acima de 60 anos. A letalidade hospitalar em idosos é 2,5 vezes maior do que em adultos jovens. Na Semana Epidemiológica 41, a média de idade, das internações em UTI e de óbitos foi, respectivamente, 62,1; 64,2 e 71,6 anos.
Na nova edição, os pesquisadores do Observatório, responsáveis pelo Boletim, defendem a adoção de medidas que garantam melhor qualidade do ar nos ambientes fechados e orientam que empregadores e trabalhadores avancem conjuntamente em campanhas, estimulando e induzindo a adoção do passaporte de vacinas nos diversos ambientes de trabalho, tais como bares e restaurantes, escolas e universidades, comércio e serviços entre outros.
“É preciso destacar os benefícios de proteção coletiva não só para os trabalhadores, mas para suas famílias, crianças, colegas de trabalho e a comunidade. É especialmente importante que se complete o esquema vacinal com duas doses ou dose única, dependendo do imunizante, incluindo a dose de reforço quando houver indicação, para que possamos alcançar um patamar de maior segurança, com pelo menos 80% da população protegida”, afirmam os cientistas.
A pandemia não acabou
O quadro geral aponta que os resultados observados nas duas últimas semanas epidemiológicas (10 a 23 de outubro) reforçam a manutenção da tendência de redução dos impactos da Covid-19 no país, demonstrando que a campanha de vacinação está atingindo um dos seus principais objetivos - o de redução de casos graves que levam à internação e ao óbito. Contudo, os pesquisadores alertam que ainda não se pode falar em bloqueio completo da circulação do vírus e, portanto, da transmissão da doença.
Atualmente, 72% da população brasileira se encontram vacinada com a primeira dose e 53% com esquema vacinal completo. Apenas seis estados apresentam mais de 50% da população com o esquema de vacinação completo. Por outro lado, apesar da melhoria dos indicadores, o Boletim ressalta que a pandemia não acabou e que o país ainda se encontra em uma emergência de saúde pública.
Neste cenário, os pesquisadores do Observatório defendem a importância de se ampliar e acelerar a vacinação. “É fundamental que a população esteja protegida com esquema vacinal completo e que os elegíveis recebam a terceira dose”, pontuam. Os cientistas ressaltam ainda que é primordial proteger os grupos populacionais mais vulneráveis - tais como os idosos e pessoas com comorbidades – além dos mais expostos, principalmente os trabalhadores nos diversos locais de trabalho.
Festas de fim de ano
Nos últimos meses, o relaxamento das medidas de distanciamento físico tem aumentado a concentração de pessoas em ambientes fechados. Com as festas de fim de ano, a expectativa é que essa circulação tenderá a crescer ainda mais nos meses de novembro e dezembro. “Diante desse contexto o uso das máscaras como medida de proteção individual, combinado com a higienização das mãos, ainda é extremamente importante”.
Perfil Demográfico
A análise demográfica do Boletim desta quinzena traz comparações para o período entre a Semana Epidemiológica (SE) 1 (de 3 a 9 de janeiro) e a Semana Epidemiológica 41 (10/10 a 16/10) de 2021. Os casos graves e fatais permanecem concentrados nas idades mais avançadas. A mediana de internações, ou seja, a idade que delimita a concentração de 50% dos casos, chegou ao menor patamar – 51 anos - entre a SE 23 (06 a 12/06) e na SE 27 (04 a 10/07). Na SE 41, a mediana foi de 67 anos. Para as internações em UTI, o período de menor mediana foi o mesmo que o dos óbitos (53 anos), e na SE 41 o patamar foi de 68 anos.
A média e mediana de casos internados totais e em UTI encontram-se estáveis há cinco semanas. Os mesmos indicadores para os óbitos, no entanto, após três semanas de estabilidade, voltaram a aumentar. Para os óbitos, a menor mediana (58 anos) foi observada entre a SE 21 (23 a 29/05) e SE 24 (13 a 19/06: na SE 41 foi de 74 anos). A média de idade das internações, internações em UTI e óbitos na SE 41 foi, respectivamente, 62,1; 64,2 e 71,6 anos. Após o início da vacinação entre adultos jovens, a média e mediana de idade dos três indicadores – internações gerais, internações em UTI e óbitos – voltaram ao patamar superior a 60 anos. Isto significa que mais da metade de casos graves e fatais ocorre entre idosos.
Os dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) evidenciam a reversão do rejuvenescimento, ocorrido principalmente no primeiro semestre de 2021, deslocando novamente a curva de hospitalizações para a população mais idosa. Isto significa dizer que, no conjunto de internações em enfermarias, em leitos de UTI, e entre os óbitos, os idosos voltam a se destacar de forma proporcional. O padrão atual da distribuição de casos internados e óbitos é semelhante ao período anterior ao início da vacinação. Este cenário sugere que o efeito da vacinação já é perceptível de forma homogênea na população adulta. A idade, portanto, precisa ser considerada como um aspecto de vulnerabilidade, e requer manejo clínico e vigilância diferenciados.
Leitos de UTI para Covid-19
As taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS, segundo dados obtidos em 25 de outubro de 2021, mantêm-se com a predominância de taxas inferiores a 50% e paulatina desativação de leitos de UTI Covid-19 em várias Unidades da Federação. O Distrito Federal, que esteve na zona de alerta crítico nas três semanas anteriores, volta à zona de alerta intermediário (71%), com contínua retirada de leitos durante todo o período. O Espírito Santo permanece na zona de alerta intermediário, com a mesma taxa observada em 18 de outubro, apesar de redução no número de leitos disponíveis (352 para 334). Embora em patamares baixos, os estados do Piauí (46% para 59%) e Paraíba (20% para 25%) apresentaram, entre os dias 18 e 25 de outubro, incrementos nas taxas de ocupação não atribuíveis à retirada de leitos.
SRAG
O quadro geral das Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) segue em estabilidade no país nas últimas semanas epidemiológicas. De forma geral, a estimativa de nowcasting para o país, realizada pelo InfoGripe da Fiocruz, manteve-se em estabilidade e permanece acima de um caso por 100 mil habitantes. Em parte, esta estabilidade ocorre porque alguns estados encontram-se em ligeira tendência de aumento da SRAG. Em outros se observa um declínio no número de casos de SRAG. De fato, verificou-se aumento nos estados de Roraima, Amapá, Pará, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Entretanto, houve tendência de redução de casos no Amazonas, Rondônia, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão e Pernambuco. Apenas o Acre e a Bahia aparecem com estabilidade nas últimas duas semanas. Apesar da tendência de redução de casos em alguns estados, na maioria dos estados as estimativas para as taxas de incidências permanecem altas, em níveis acima de um caso por 100 mil habitantes.
Avanço da vacinação e distribuição de imunizantes
Segundo dados do MonitoraCovid-19/@coronavirusbra1, oriundos das informações das Secretarias Estaduais de Saúde, mais de 275 milhões de doses de vacinas foram administradas no país, o que representa a imunização de 72% da população com a primeira dose e 53% da população com o esquema de vacinação completo.
Dez estados apresentam mais de 70% da população com vacinação de primeira dose e seis estados apresentam mais de 50% da população com segunda dose. O estado de São Paulo, com mais de 80% da população vacinada com a primeira dose e 65% com a segunda ou dose única, apresenta o maior percentual de imunizados no país.