Ao iniciar as atividades do segundo dia do Congresso da CPLP sobre DST/Aids, o epidemiologista Pedro Chequer, representante do Programa Conjunto das Nações Unidas para DST/Aids, afirmou que a Rede de Países da CPLP em DST/HIV/Aids, firmada em 2007, já tem perspectivas sólidas de ação. Os compromissos assumidos incluem cooperação técnica, combate à discriminação e participação da sociedade civil, além do acesso universal a prevenção, diagnóstico, assistência e tratamento. No entanto, segundo o palestrante, se mantidas as tendências atuais, os países não alcançarão esta última meta até 2015. O acesso universal requer não só mais recursos financeiros, mas também a ampliação da capacidade operacional dos países.
Na África, o continente mais afetado pela Aids, estão 22,5 das 33 milhões de pessoas vivendo com a doença em todo o mundo. Segundo diagnóstico apresentado pelo representante da OMS-África, Rui Gama Vaz, a faixa mais afetada da população são os jovens de 15 a 24 anos. O palestrante afirmou, ainda, que a transmissão por relações heterossexuais é responsável por 80% dos casos, enquanto a transmissão vertical responde por 10% dos infectados, ficando os outros 10% a cargo de práticas inseguras da medicina, transfusão sanguínea e relações homossexuais.
“A situação é especialmente grave entre as mulheres jovens”, relatou Vaz. “Nessa faixa etária, as mulheres chegam a ser três vezes mais vulneráveis à Aids do que os homens”. Alguns fatores que podem explicar esta situação são o acesso limitado à educação e ao trabalho – o que gera dependência econômica –, o sexo tratado como tabu no interior das famílias, a poligamia e a pouca capacidade de exigir o uso de preservativo.
No entanto, algumas melhorias foram observadas: a freqüência da infecção por HIV em grávidas tem sido reduzida e houve um aumento significativo no número de pessoas em tratamento: enquanto em 2003 eram 1,3 milhão, em 2007 o número subiu para 2,1 milhões.
Outros representantes africanos estiveram presentes para falar das situações específicas de cada país. Dulcelina Serrano, do Programa de Luta contra a Aids de Angola, afirmou que a prevalência da infecção por HIV no país é de 2,1% da população, índice baixo se comparado a outros países africanos. No entanto, a preocupação com a epidemia ainda é pauta de ações do governo, que, de 2004 a 2007, capacitaram mais de dois mil profissionais de saúde para atuar contra a doença e instalaram unidades de atendimento em todas as províncias. Os próximos passos para o enfrentamento da epidemia devem enfatizar a redução do número de novos infectados e o aumento na esperança de vida das pessoas já vivendo com a infecção.
Já em Cabo Verde, as experiências positivas estão principalmente no aumento do uso de preservativos pela população em geral, verificado nos últimos anos, na melhoria do diagnóstico precoce e nos 78% de cobertura pré-natal alcançados pelos sistemas de saúde. Segundo a diretora geral de saúde do Ministério da Saúde de Cabo Verde, Jaqueline Pereira, uma das principais necessidades é investir no reforço das ações de prevenção entre jovens, por meio de programas que envolvam as escolas.
A educação é atividade estratégica também em Guiné-Bissau, onde o conhecimento da população sobre Aids ainda é muito restrito. “Em uma pesquisa com jovens de 15 a 25 anos, cerca de 73% responderam acreditar que a doença é transmitida por meio de picada de mosquito”, alertou Tomé Cá, representante do Ministério da Saúde daquele país.
A importância de uma população que conhece as formas de transmissão da doença foi reforçada por Henrique de Barros, da Coordenação Nacional para a Infecção HIV/Aids de Portugal. Promover o conhecimento da infecção é uma das prioridades de seu programa, que atua também na detecção precoce e no combate à discriminação. De uma maneira geral, a infecção por HIV, a Aids e os óbitos associados a ela vêm sendo reduzidos no país. No entanto, a transmissão do vírus entre usuários de drogas injetáveis e no interior das prisões é uma preocupação crescente. O país investe, ainda, no oferecimento de testagem gratuita e anônima da infecção, o que possibilita maior vigilância.
O controle dos casos e o sistema de sentinela foram destaques na apresentação do diretor científico do Instituto Nacional de Saúde de Moçambique, Ricardo Thompson. Embora a ocorrência da infecção tenha começado a se estabilizar em nível no país como um todo, algumas regiões ainda apresentam crescimento. Para compreender melhor esta dinâmica, o governo iniciará ainda em 2008 um inquérito nacional sobre comportamento e prevalência do HIV.
Representante do Programa de Luta contra a Aids de São Tomé e Príncipe, Alzira Segundo apresentou o plano estratégico que o país tem executado para o enfrentamento da doença. Este plano tem como meta reduzir o risco de infecção, a vulnerabilidade e o impacto da epidemia, que, além de ter crescido entre os jovens, as mulheres e os mais pobres, já não está restrita às grandes cidades. “Ocorreu uma interiorização da Aids no país”, revelou Alzira.