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15/01/2014

'Cadernos de Saúde Pública' faz balanço de 2013


A última edição de 2013 da revista Cadernos de Saúde Pública (CSP) apresentou um grande balanço do primeiro ano da publicação tendo à frente o trio de editoras Marília Sá Carvalho, Claudia Travassos e Cláudia Medina Coeli. Dentre as muitas novidades trazidas está a criação da seção Perspectivas, que abriu espaço para questões conjunturais. Ao longo do ano passado, CSP trouxe temas variados como: raça, genética, política de drogas, médicos, segurança do paciente, entre tantos outros, que foram criticamente abordados por pesquisadores reconhecidos. Para as editoras, a saúde coletiva é um campo de intervenção, e deve estimular a reflexão sobre os desafios  que englobam os diversos temas mencionados. Além do balanço de 2013, a edição atual aborda a indústria farmacêutica e ensaios clínicos, violência, suicídio de idosas, padrões alimentares, diabetes e muitos outros. Confira aqui o volume 29, fascículo 12.

A seção Perspectivas deste volume aborda a questão dos ensaios clínicos e a indústria farmacêutica. O texto é assinado pela pesquisadora do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Suely Rosenfeld. Segundo ela, a autorização para comercializar medicamentos é condicionada à apresentação dos resultados dos ensaios clínicos, atestando que o produto cumpre as exigências estabelecidas em normas nacionais e internacionais, e pode ser usado para beneficiar a saúde humana. Para a pesquisadora, a relação entre os polos do binômio ‘ensaios clínicos-indústria farmacêutica’ embute evidente contradição. De um lado, os fármacos como tecnologia empregada na cura de doenças e no alívio de sintomas e, de outro, sua produção preponderantemente efetuada por corporações com forte inserção no mercado econômico, sujeita às suas leis e impulsionada pela necessidade de auferir lucro. “A contradição produz efeitos devastadores, que tem se tornado progressivamente mais visíveis para os profissionais de saúde e para os cidadãos, e desaguado em vigorosa contestação”, considerou Suely.

A revista traz também o artigo Estudo compreensivo sobre suicídio de mulheres idosas de sete cidades brasileiras, assinado pela coordenadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/Ensp/Fiocruz), Cecília Minayo e pela professora da Universidade Veiga de Almeida, Fatima Gonçalves Cavalcante. O estudo, parte de uma pesquisa multicêntrica realizada no Brasil, em que se analisam 51 casos de suicídio de idosos (de 40 homens e 11 mulheres) mediante autópsias psicossociais. Nele aprofunda-se o estudo de 11 casos relativos às mulheres. Os resultados do estudo convergem em grande parte com a literatura e revelam que, no Brasil, os fatores principais associados ao suicídio feminino são: violência de gênero e intrafamiliar, sofrimento por perdas de pessoas referenciais e da função tradicional como esposa e mãe, e depressão. As autoras recomendam maior atenção ao efeito cumulativo de agravos no envelhecimento das mulheres, sobretudo os vinculados às especificidades de gênero.

Outro artigo que compõe a edição aborda a situação da malária na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Assinado pelos pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Paulo César Peiter, Vivian da Cruz Franco e Martha Cecilia Suárez-Mutis, e do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Renata Gracie e Diego Ricardo Xavier, o estudo qualitativo com aplicação de questionários em cidades da fronteira realizado em 2011, analisou situação da vigilância da malária na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Os resultados apontaram diferenças significativas entre os sistemas de vigilância da malária na fronteira.

De acordo com os autores, foram observadas como debilidades a desarticulação entre atores responsáveis, a insuficiência de pessoal treinado, a alta rotatividade das equipes e a falta de médicos especialistas em malária nos hospitais locais. Verificou-se também o desconhecimento sobre a malária e suas formas de prevenção na população entrevistada. Para os autores, as fortalezas são a inserção de novos atores institucionais, a melhora da qualificação profissional, a distribuição de mosquiteiros impregnados e possibilidades de complementaridade entre os sistemas de vigilância a serem aproveitadas pela cooperação entre as equipes de saúde da fronteira, pois o controle da malária só pode ter sucesso tomando-se esta região em seu conjunto.

Na seção Cartas, o doutorando pela Ensp David Soeiro Barbosa, comenta A lógica produtivista e a avaliação quantitativa na pós-graduação em saúde: um olhar sobre os efeitos danosos na formação profissional. Para ele, Camargo Jr. foi muito feliz em colocar este debate em pauta, que já se fazia de forma ocasional entre os mais distintos espaços de produção acadêmica de saúde coletiva do país. Segundo David Soeiro, é evidente um descontentamento de muitos pesquisadores com as metodologias atuais de avaliação da produção científica e dos programas de pós-graduação, porém, apesar dos avanços e (re) adequação de indicadores ainda são tímidos o contraponto e a busca de estratégias de fato inovadoras neste processo. De acordo com o doutorando, as alternativas que são apresentadas não ecoam ou ganham forma, pois evidentemente existem justificativas para cada indicador adotado nas avaliações, que apesar de restritos aos indicadores bibliométricos, são discutidos e propostos por nossos mais distintos pares inseridos no universo da produção intelectual em saúde coletiva.

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